|
Próximo Texto | Índice
FRANÇA
Vincent Humbert, que pedira para morrer em carta a Chirac, recebe overdose de barbitúricos; caso reabre questão da eutanásia
Morre tetraplégico intoxicado pela mãe
DA REDAÇÃO
Dois dias após receber uma
overdose de barbitúricos de sua
própria mãe, o tetraplégico Vincent Humbert, 22, morreu ontem,
depois que os médicos que o atendiam decidiram limitar a "terapia
ativa". A morte de Vincent, que,
em diversos momentos, manifestara o desejo de morrer, reacendeu o debate sobre a eutanásia na
França, onde a prática é proibida.
Vincent morreu no hospital de
Berck-sur-Mer, onde estava em
tratamento desde que um acidente de carro, há três anos, o deixara
paralisado, surdo e quase totalmente cego.
A mãe, Marie Humbert, 48, e
seu filho não escondiam que planejavam realizar uma morte assistida- Vicent acabou de publicar um livro pedindo seu direito
de morrer. A família chegou a pedir que o presidente Jacques Chirac interviesse. Ele não se manifestou ontem.
"Je Vous Demande le Droit de
Mourir" (peço-lhe o direito de
morrer), o segundo livro mais
vendido no site virtual amazon.fr,
foi lançado anteontem. Vincent o
escreveu usando apenas o polegar
da mão esquerda -a única parte
do corpo que se movimentava.
Marie Humbert foi detida para
interrogatório anteontem, mas
não foi indiciada. A seu pedido,
foi hospitalizada.
Frederic Chaussoy, diretor da
unidade de tratamento intensivo
do hospital, disse que a equipe
médica se reunira para revisar o
caso de Vincente ontem de manhã, horas antes de sua morte.
"Dada a situação clínica, a evolução e os desejos expressados
por Vicent diversas vezes, a equipe decidiu limitar a terapia ativa",
disse Chaussoy. Segundo ele, a
decisão foi "coletiva, difícil e tomada com total independência".
Não foram dados detalhes sobre
qual foi o procedimento médico.
Os médicos haviam colocado
Vincent em coma profundo depois que sua mãe injetou nele
uma grande dose de barbitúricos.
Repercussão
"Estou realmente muito, muito
feliz que meu irmão esteja finalmente livre", disse Laurent Humbert. "É um alívio enorme."
Marie não se pronunciou ontem. Sua mãe, Hugues Vigier, que
estivera com ela na quinta-feira à
noite, afirmou que "ela tinha a intuição de que ele iria morrer".
O ministro da Justiça, Dominique Perben, pediu que a Promotoria "aplicasse a lei com a maior
humanidade para levar em consideração o sofrimento da mãe de
do jovem".
Numa situação rara, congressistas dos principais grupos rivais, o
governista União por um Movimento Popular e o Partido Socialista, pediram mudanças na lei.
"Não podemos deixar que persista o vazio entre lei e realidade",
disseram, em nota, o socialista
Gaetan Gorse e Nadine Morano.
Em contrapartida, Patrick Verspieren, jesuíta e responsável pelo
Departamento de Ética Biomédica do Centro Sèvres, de Paris, criticou as reações a favor da eutanásia: "Quando as pessoas estão desesperadas e duvidam delas mesmas, é necessário portanto ratificar seu desejo de morrer?".
Com agências internacionais e
"Le Monde"
Próximo Texto: Frases Índice
|