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São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2003

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FRANÇA

Vincent Humbert, que pedira para morrer em carta a Chirac, recebe overdose de barbitúricos; caso reabre questão da eutanásia

Morre tetraplégico intoxicado pela mãe

DA REDAÇÃO

Dois dias após receber uma overdose de barbitúricos de sua própria mãe, o tetraplégico Vincent Humbert, 22, morreu ontem, depois que os médicos que o atendiam decidiram limitar a "terapia ativa". A morte de Vincent, que, em diversos momentos, manifestara o desejo de morrer, reacendeu o debate sobre a eutanásia na França, onde a prática é proibida.
Vincent morreu no hospital de Berck-sur-Mer, onde estava em tratamento desde que um acidente de carro, há três anos, o deixara paralisado, surdo e quase totalmente cego.
A mãe, Marie Humbert, 48, e seu filho não escondiam que planejavam realizar uma morte assistida- Vicent acabou de publicar um livro pedindo seu direito de morrer. A família chegou a pedir que o presidente Jacques Chirac interviesse. Ele não se manifestou ontem.
"Je Vous Demande le Droit de Mourir" (peço-lhe o direito de morrer), o segundo livro mais vendido no site virtual amazon.fr, foi lançado anteontem. Vincent o escreveu usando apenas o polegar da mão esquerda -a única parte do corpo que se movimentava.
Marie Humbert foi detida para interrogatório anteontem, mas não foi indiciada. A seu pedido, foi hospitalizada.
Frederic Chaussoy, diretor da unidade de tratamento intensivo do hospital, disse que a equipe médica se reunira para revisar o caso de Vincente ontem de manhã, horas antes de sua morte.
"Dada a situação clínica, a evolução e os desejos expressados por Vicent diversas vezes, a equipe decidiu limitar a terapia ativa", disse Chaussoy. Segundo ele, a decisão foi "coletiva, difícil e tomada com total independência". Não foram dados detalhes sobre qual foi o procedimento médico.
Os médicos haviam colocado Vincent em coma profundo depois que sua mãe injetou nele uma grande dose de barbitúricos.

Repercussão
"Estou realmente muito, muito feliz que meu irmão esteja finalmente livre", disse Laurent Humbert. "É um alívio enorme."
Marie não se pronunciou ontem. Sua mãe, Hugues Vigier, que estivera com ela na quinta-feira à noite, afirmou que "ela tinha a intuição de que ele iria morrer".
O ministro da Justiça, Dominique Perben, pediu que a Promotoria "aplicasse a lei com a maior humanidade para levar em consideração o sofrimento da mãe de do jovem".
Numa situação rara, congressistas dos principais grupos rivais, o governista União por um Movimento Popular e o Partido Socialista, pediram mudanças na lei.
"Não podemos deixar que persista o vazio entre lei e realidade", disseram, em nota, o socialista Gaetan Gorse e Nadine Morano.
Em contrapartida, Patrick Verspieren, jesuíta e responsável pelo Departamento de Ética Biomédica do Centro Sèvres, de Paris, criticou as reações a favor da eutanásia: "Quando as pessoas estão desesperadas e duvidam delas mesmas, é necessário portanto ratificar seu desejo de morrer?".


Com agências internacionais e "Le Monde"


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