São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / CONFRONTO DIRETO

Iraque e Afeganistão concentram discussão

McCain sai-se melhor que rival no tema política externa; assuntos-chave acabam eclipsados por guerras impopulares

Questão que devia ser foco de debate acaba apagada; republicano leva democrata a declarar várias vezes que concordava com sua opinião

DO ENVIADO A OXFORD (MISSISSIPPI) A idéia era aproveitar o primeiro encontro entre Barack Obama e John McCain para discutir a política externa dos EUA, o tema oficial da noite -mas que apareceu somente aos 40 minutos de um debate de pouco mais de hora e meia.
Os dois impopulares conflitos pelos quais passa o país, no entanto, dominaram a discussão, em que outras questões cruciais como Irã, Paquistão e o papel dos EUA no mundo apareceram apenas lateralmente.
"Esta é uma área em que eu e o senador McCain temos uma diferença fundamental, pois eu acho que a primeira questão é se deveríamos ou não ter ido [à guerra] em primeiro lugar", começou Obama sobre o Iraque. McCain sugeriu que essa discussão era menor. "O próximo presidente terá de decidir como sairemos, quando sairemos e o que deixamos para trás."
O veterano senador republicano, se aproveitou de sua desenvoltura maior no assunto e mais de uma vez arrancou a frase "Eu concordo com John" -repetida sucessivamente por Barack Obama ao longo do embate. O expediente parecia confirmar a principal acusação feita pela campanha do republicano, de que o jovem senador democrata não tem experiência suficiente em política externa.

2003 versus 2007
"O senador Obama disse que a escalada [ordenada por Bush no ano passado, à qual é creditada parte da diminuição da violência no conflito] poderia não funcionar, disse que aumentaria a violência sectarista, disse que estava fadada ao fracasso", elencou McCain. "Recentemente, num programa de TV, ele disse que [o sucesso] excedia suas expectativas."
"Incrivelmente, o senador Obama não foi ao Iraque por 900 dias e nunca pediu um encontro com o general Petraeus", continuou McCain. "Ele é presidente do comitê sobre a Otan no Afeganistão e nunca convocou uma reunião."
Obama defendeu-se dizendo ao sugerir que sua escolha para companheiro de chapa, o veterano senador Joe Biden, um dos democratas mais experientes em política externa, de alguma forma supria sua falha -embora não diretamente.
Sobre o Iraque, rebateu: "John, você quer fingir que a guerra começou em 2007? A guerra começou em 2003, e, quando começou, você disse que ia ser rápido e fácil."
Na seqüência, o democrata afirmou que o conflito só desviou verba e homens do que interessava, que é o do Afeganistão. O bate-boca abriu espaço para um dos momentos mais constrangedores do debate, em que os dois concorrentes citaram pulseiras que ganharam de pais de soldados mortos nas guerras, numa espécie de concurso de quem se importava mais com as baixas militares.
Por fim, outras questões de política externa encontraram espaço. Sobre o Paquistão, Obama disse que seria preciso lidar com país, que abrigava a Al Qaeda e o Taleban.
McCain contra-atacou citando o ex-secretário de Estado George Shultz: "Se você vai apontar o revólver, esteja preparado para puxar o gatilho."
Já sobre a Rússia, envolvida recentemente em conflito com a Geórgia, McCain voltou a criticar Moscou, ligando a questão aos interesses energéticos na região. Obama acabou endurecendo sua posição inicial. "Temos que deixar claro à Rússia que não se pode ser uma potência do século 21 e agir como uma ditadura do século 20." (SÉRGIO DÁVILA)


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