|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
ANÁLISE
Rumo ao socialismo ou à democracia liberal?
OS CHAVISTAS SENTEM QUE ESTÃO CONSTRUINDO UM PAÍS NOVO, ENQUANTO OS OPOSITORES ACHAM QUE O PAÍS ESTÁ SENDO DESTRUÍDO E QUE É PRECISO RESGATÁ-LO. PODE HAVER UM DIÁLOGO ENTRE ELES?
|
FRANCESCA RAMOS PISMATARO ESPECIAL PARA A FOLHA
As eleições legislativas
que tiveram lugar ontem na
Venezuela são vistas por
muitos como cruciais para o
futuro político do país. O que
está em jogo: o caminho para
o socialismo ou o restabelecimento da democracia liberal.
É por isso que, nesta ocasião, os dois lados -chavistas e opositores- aperfeiçoaram suas estratégias eleitorais. O governo adiantou
uma reforma eleitoral para
manter uma maioria ampla,
mobilizou e organizou cuidadosamente o PSUV (o partido
do governo).
O "líder da Revolução" -o
presidente Hugo Chávez-
mais uma vez atuou como
"candidato presidencial",
lembrando-nos que "os votos
são de Chávez" e que ele é a
figura política por excelência
de todo esse processo de mudanças pelo qual a Venezuela vem passando há 11 anos.
A oposição, por sua parte,
caracterizou-se no passado
por seus atos de suicídio político e por ser fraca em meio
aos personalismos de seus líderes, reacionária às mudanças e à velocidade do regime
chavista e sem propostas de
fundo para apresentar.
Desta vez, aproveitando a
experiência e depois de colher alguns triunfos (a rejeição à reforma constitucional
de 2007 e suas vitórias nas
eleições regionais e locais de
2008 em Estados política e
economicamente importantes, ao lado da prefeitura metropolitana), ela se apresenta
com mais estrutura e com
uma agenda legislativa e um
programa de governo.
Contudo, grandes desafios
parecem aguardar por ela.
Superando a dimensão eleitoral, desta força opositora
que reúne organizações sociais e diversos partidos políticos nacionais e regionais de
ideologias distintas, deverão
surgir, em nível estrutural, os
partidos do futuro: ou seja,
aqueles em que os venezuelanos depositem sua confiança e, portanto, sua representação.
Por enquanto, o cenário
imediato que a oposição enfrenta é complicado. Não será fácil arrancar a maioria do
governo. Entre os oposicionistas há expectativas quanto à ideia de um país onde
caibam todos, chavistas e
não chavistas.
Está claro que a nova Assembleia não será a mesma
de antes, avassaladoramente
vermelha. As pesquisas mais
favoráveis assinalam que a
oposição pode conseguir
30% dos assentos.
O que é certo é que parece
difícil que seja ouvido o chamado por uma Venezuela
mais plural, em meio a uma
revolução que se radicaliza.
Resta ver o significado que
Chávez enxergará na chegada da oposição à Assembleia.
"Uma ofensiva com intenção de criar obstáculos, retardar e enfraquecer o governo e
a Revolução Bolivariana,
com vistas a sua derrubada
por qualquer via, antes que
ela conclua o atual período
presidencial ou nas eleições
de dezembro de 2012" (As linhas de Chávez, 19 de setembro de 2010).
Desde 2005, o presidente
vem fazendo uso funcional
do Poder Legislativo. Em outras palavras, imperou a lógica revolucionária, ou seja,
Chávez enxergou a Assembleia como um instrumento a
mais para alcançar os objetivos de seu projeto.
É assim, já que a Assembleia nem exerceu controle
político nem impôs limites ao
Executivo. Pelo contrário
-concedeu ao presidente, de
modo excessivo, poderes para que legislasse amplamente em múltiplas áreas.
E mais: Hugo Chávez chegou a legislar mais que o Parlamento em questões-chave
da vida nacional.
O que é certo é que os chavistas e a oposição têm duas
visões antagônicas do país.
Os chavistas sentem que estão construindo um país novo, enquanto os opositores
acham que o país está sendo
destruído e que é preciso resgatá-lo. Pode haver um diálogo entre eles?
É dessa magnitude o desafio que se eleva sobre a Venezuela.
FRANCESCA RAMOS PISMATARO é
diretora do Observatório de Venezuela, da
Faculdades de Ciência Política e Governo e
de Relações Internacionais da
Universidade do Rosário (Bogotá)
Texto Anterior: Venezuela registra baixa abstenção Próximo Texto: Propaganda chavista mitifica economia Índice | Comunicar Erros
|