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TRAGÉDIA NO ÁRTICO
Bilhete achado no bolso de um dos tripulantes mortos descreve a situação dos marinheiros após o impacto
23 sobreviveram à 1ª explosão no Kursk
Reuters
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O capitão-tenente Dmitry Kolesnikov, que escreveu o bilhete encontrado pela equipe de resgate |
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
Pelo menos 23 marinheiros sobreviveram ao primeiro golpe que
levou o submarino nuclear Kursk
ao fundo do mar de Barents em 12
de agosto, segundo trecho de bilhete de um oficial russo morto no
desastre, divulgado ontem.
"São 13h15. Toda a tripulação
dos compartimentos seis, sete e
oito foi para o nove. Há 23 pessoas
aqui. Nós tomamos a decisão por
causa do acidente. Nenhum de
nós pode chegar à superfície. Estou escrevendo às cegas", anotou
o capitão-tenente Dmitry Kolesnikov, que tinha 27 anos.
A carta foi encontrada com seu
corpo, um dos quatro resgatados
anteontem pela equipe de mergulhadores russos e noruegueses
que tenta recuperar os cadáveres
-foi feito um buraco no casco e
russos entraram no Kursk.
Os outros três corpos não foram
identificados ainda.
Kolesnikov teria escrito o bilhete duas horas depois do que se
acredita ter sido o momento do
acidente. Um instituto sísmico
norueguês captou duas explosões
no local. A maior delas foi registrada às 11h30 (horário local), precedida por uma menos intensa,
dois minutos e 15 segundos antes.
Na época, as autoridades russas
haviam dito que provavelmente
todos os marinheiros haviam
morrido pouco depois das explosões, cujas causas ainda são motivo de controvérsia.
Mas, ontem, o vice-almirante da
Marinha russa, Mikhail Motsak,
afirmou que a mensagem estava
no bolso de Kolesnikov e mostra
que alguns marinheiros conseguiram sobreviver mais de uma hora
após o acidente.
Motsak não quis, contudo, informar todo o conteúdo: "O bilhete tem uma natureza altamente
privada e será entregue aos familiares. Deu-nos, porém, bastante
informação operacional".
De acordo com Motsak, "a carta
diz que provavelmente dois ou
três tentaram escapar por uma escotilha no nono compartimento.
Como sabemos, a tentativa falhou, talvez porque a escotilha estava cheia de água".
Mergulhadores noruegueses
abriram essa escotilha em 21 de
agosto e encontraram o Kursk
inundado -as tentativas de resgate foram canceladas pouco depois.
Segundo a lista com os nomes
dos tripulantes mortos, 24 homens haviam sido escalados para
trabalhar nas seções seis a nove do
Kursk.
Kolesnikov comandava a sala
de turbinas. Havia se casado no
início deste ano. Sua mulher, Olga, deu um depoimento emocionado na TV estatal russa RTR.
"Ele é um homem adorável. Eu
quero vê-lo de novo e ler sua carta", disse, chorando.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que as tentativas de recuperação dos corpos
continuarão: "Faremos tudo o
que pudermos".
A equipe de mergulhadores,
apesar do mau tempo na região,
deve descer ao mar para abrir, no
total, sete buracos no submarino.
Mais confusão
A descoberta dos mergulhadores lança novas dúvidas sobre as
versões oficiais do naufrágio.
Motsak afirmou que "a carta foi
escrita entre as 13h34 e as 15h15",
mas não explicou a discrepância
com o horário anotado por Kolesnikov, 13h15.
As autoridades russas diziam
que os contatos com os marinheiros haviam sido mantidos até as
23h30 daquela noite, horas depois
do momento em que, segundo
Motsak, Kolesnikov terminou sua
mensagem. Levaram dois dias para anunciar que os contatos haviam cessado, tendo dito antes
que os tripulantes se comunicavam por pancadas no casco.
A acusação de incompetência
russa nas operações de salvamento ressurge aos poucos.
"Significa que, se ações tivessem
sido tomadas nos primeiros dias,
é possível que pelo menos esses 23
fossem salvos", afirmou o editor
do semanário militar "Nezavismoye Voyennoye Obozreniye".
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