São Paulo, terça-feira, 27 de outubro de 2009

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Mortes nos 2 fronts agravam dilema dos EUA

Situação do Afeganistão se complica e do Iraque não melhora com velocidade suficiente que permita retirada mais rápida

Analista aponta que Obama pode ser obrigado a escolher entre segurança iraquiana e promessa eleitoral de retirar as tropas dos EUA do país


DO "FINANCIAL TIMES"

Duas quedas de helicópteros com mortes, no Afeganistão, e atentados a bomba em larga escala no Iraque expuseram claramente os riscos que o presidente Barack Obama terá de correr para cumprir sua promessa eleitoral e transferir recursos do segundo para o primeiro conflito. No pior dia da Guerra do Afeganistão em anos (em termos de baixas para os EUA), 11 soldados e três agentes da agência antidrogas (DEA) morreram em quedas de helicópteros causadas por falhas, ontem. Uma envolveu uma colisão aérea, e a segunda aconteceu após combate com insurgentes.
Na véspera, até 155 pessoas haviam sido mortas em dois atentados a edifícios do governo iraquiano em Bagdá, o que pode afetar os planos americanos para a redução do número de soldados por lá.
Kenneth Pollack, diretor do Saban Center, do Instituto Brookings, disse que "o fato de esses eventos terem acontecido simultaneamente mostra que a situação no Afeganistão está piorando enquanto a situação no Iraque não está melhorando com a rapidez necessária". Representantes das Forças Armadas afirmaram que, segundo investigações preliminares, nenhuma das duas quedas de helicóptero no Afeganistão decorreu de ação inimiga.
Mesmo assim, outubro deve ser o quarto mês consecutivo em que os EUA somam mais de 40 mortos no Afeganistão, o que destaca não só a intensificação dos combates após Obama elevar em 21 mil homens o contingente americano no país, mas a perspectiva de mais baixas, caso ele aceite o pedido do comandante no Afeganistão por mais 40 mil reforços.
Obama e os principais integrantes de seu governo ontem realizaram uma série de reuniões para decidir quanto ao pedido de reforços e a estratégia geral no Afeganistão. Mas os EUA querem promover uma virada dramática na distribuição de recursos. O almirante Mike Mullen, chefe do Estado-Maior conjunto das Forças Armadas americanas, declarou, na semana passada: "Estamos transferindo o esforço principal do Iraque para o Afeganistão, literalmente".
A presença dos EUA no Iraque caiu de 133 mil soldados na posse de Obama para 120 mil hoje. Deve cair para 50 mil até 31 de agosto de 2010. Já está ocorrendo a transferência de 3,3 milhões de itens de equipamento militar de volta para os EUA ou para o Afeganistão. A redução mais acelerada deve começar em março, após a eleição prevista para janeiro.
Data e natureza do pleito não foram determinadas, devido a um impasse quanto à nova lei eleitoral iraquiana. Mas funcionários do governo americano afirmaram que, mesmo sem acordo quanto à nova lei, a eleição ainda pode ocorrer (no fim e não na metade de janeiro) e que o momento do pleito não deve afetar a disponibilidade de forças para transferência ao Afeganistão.
Pollack acrescentou que o desafio de segurança gerado pelos atentados em Bagdá era bem mais significativo que a disputa eleitoral. Pode forçar Nuri al Maliki, o premiê iraquiano, a solicitar que os americanos voltem às cidades, de onde saíram em junho. Isso teria significativo impacto sobre o efetivo americano no Iraque. Em curto prazo, dizem funcionários de Washington e analistas, os EUA são capazes de atender o pedido de mais tropas para o Afeganistão, sobretudo com brigadas de infantaria leve que não estão envolvidas em operações no momento.
Mesmo que Obama aceite o pedido de reforços em sua totalidade, os soldados adicionais teriam de ser despachados ao longo de 2010. "Não há como enviar 40 mil soldados para o Afeganistão em três meses", diz Frederic Kagan, do American Enterprise Institute.
Mas, em longo prazo, os riscos políticos e militares que uma transferência ampla pode acarretar para o Iraque complicam a escolha de Obama. Pollack disse que, caso a situação no Iraque se agrave, Obama terá de escolher entre a segurança do Iraque e a retirada prometida -com tudo que isso implica para os recursos destinados ao Afeganistão.

Tradução de PAULO MIGLIACCI



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