|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mortes nos 2 fronts agravam dilema dos EUA
Situação do Afeganistão se complica e do Iraque não melhora com velocidade suficiente que permita retirada mais rápida
Analista aponta que Obama pode ser obrigado a escolher entre segurança iraquiana e promessa eleitoral de retirar as tropas dos EUA do país
DO "FINANCIAL TIMES"
Duas quedas de helicópteros
com mortes, no Afeganistão, e
atentados a bomba em larga escala no Iraque expuseram claramente os riscos que o presidente Barack Obama terá de
correr para cumprir sua promessa eleitoral e transferir recursos do segundo para o primeiro conflito.
No pior dia da Guerra do Afeganistão em anos (em termos
de baixas para os EUA), 11 soldados e três agentes da agência
antidrogas (DEA) morreram
em quedas de helicópteros causadas por falhas, ontem. Uma
envolveu uma colisão aérea, e a
segunda aconteceu após combate com insurgentes.
Na véspera, até 155 pessoas
haviam sido mortas em dois
atentados a edifícios do governo iraquiano em Bagdá, o que
pode afetar os planos americanos para a redução do número
de soldados por lá.
Kenneth Pollack, diretor do
Saban Center, do Instituto
Brookings, disse que "o fato de
esses eventos terem acontecido
simultaneamente mostra que a
situação no Afeganistão está
piorando enquanto a situação
no Iraque não está melhorando
com a rapidez necessária".
Representantes das Forças
Armadas afirmaram que, segundo investigações preliminares, nenhuma das duas quedas de helicóptero no Afeganistão decorreu de ação inimiga.
Mesmo assim, outubro deve
ser o quarto mês consecutivo
em que os EUA somam mais de
40 mortos no Afeganistão, o
que destaca não só a intensificação dos combates após Obama elevar em 21 mil homens o
contingente americano no país,
mas a perspectiva de mais baixas, caso ele aceite o pedido do
comandante no Afeganistão
por mais 40 mil reforços.
Obama e os principais integrantes de seu governo ontem
realizaram uma série de reuniões para decidir quanto ao
pedido de reforços e a estratégia geral no Afeganistão.
Mas os EUA querem promover uma virada dramática na
distribuição de recursos. O almirante Mike Mullen, chefe do
Estado-Maior conjunto das
Forças Armadas americanas,
declarou, na semana passada:
"Estamos transferindo o esforço principal do Iraque para o
Afeganistão, literalmente".
A presença dos EUA no Iraque caiu de 133 mil soldados na
posse de Obama para 120 mil
hoje. Deve cair para 50 mil até
31 de agosto de 2010. Já está
ocorrendo a transferência de
3,3 milhões de itens de equipamento militar de volta para os
EUA ou para o Afeganistão.
A redução mais acelerada deve começar em março, após a
eleição prevista para janeiro.
Data e natureza do pleito não
foram determinadas, devido a
um impasse quanto à nova lei
eleitoral iraquiana.
Mas funcionários do governo
americano afirmaram que,
mesmo sem acordo quanto à
nova lei, a eleição ainda pode
ocorrer (no fim e não na metade de janeiro) e que o momento
do pleito não deve afetar a disponibilidade de forças para
transferência ao Afeganistão.
Pollack acrescentou que o
desafio de segurança gerado
pelos atentados em Bagdá era
bem mais significativo que a
disputa eleitoral. Pode forçar
Nuri al Maliki, o premiê iraquiano, a solicitar que os americanos voltem às cidades, de
onde saíram em junho. Isso teria significativo impacto sobre
o efetivo americano no Iraque.
Em curto prazo, dizem funcionários de Washington e analistas, os EUA são capazes de
atender o pedido de mais tropas para o Afeganistão, sobretudo com brigadas de infantaria leve que não estão envolvidas em operações no momento.
Mesmo que Obama aceite o
pedido de reforços em sua totalidade, os soldados adicionais
teriam de ser despachados ao
longo de 2010. "Não há como
enviar 40 mil soldados para o
Afeganistão em três meses", diz
Frederic Kagan, do American
Enterprise Institute.
Mas, em longo prazo, os riscos políticos e militares que
uma transferência ampla pode
acarretar para o Iraque complicam a escolha de Obama.
Pollack disse que, caso a situação no Iraque se agrave,
Obama terá de escolher entre a
segurança do Iraque e a retirada prometida -com tudo que
isso implica para os recursos
destinados ao Afeganistão.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Texto Anterior: União Europeia: Bloco aprova futura diplomacia comum Próximo Texto: Mortos em ataque de domingo chegam a 155; 24 eram crianças Índice
|