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ÁFRICA
Autoridades islâmicas decretam "fatwa" contra jornalista que teria insultado o profeta em artigo sobre o Miss Mundo
Estado nigeriano condena jornalista à morte
DA REDAÇÃO
Um Estado de população majoritariamente muçulmana da Nigéria expediu ontem uma "fatwa"
(decreto religioso) exigindo a
morte de uma jornalista cujo artigo sobre o concurso Miss Mundo
serviu de estopim a distúrbios que
mataram pelo menos 215 pessoas
na semana passada.
No texto publicado pelo diário
"ThisDay", Isioma Daniel criticou
os setores da população que tentavam evitar a realização do concurso de beleza no país. E disse
que, se estivesse vivo, o profeta
Muhammad provavelmente escolheria uma das participantes
para se casar.
"O Alcorão afirma claramente
que quem quer que insulte o profeta do islã, Muhammad, deve ser
morto", declarou Dangaladima
Magaji, comissário para a informação do Estado de Zamfara
(norte da Nigéria).
A violência nas ruas da cidade
de Kaduna, onde grupos cristãos
e muçulmanos e a polícia se enfrentaram por três dias, acabou
matando e ferindo centenas e
provocando a transferência do
Miss Mundo para Londres.
Desde a publicação do artigo, o
jornal já publicou diversos pedidos de desculpas. Seus diretores
afirmam que elas foram aceitas
pelo principal órgão muçulmano
do país, o Conselho Supremo de
Assuntos Islâmicos.
Daniel, afirmam os editores do
"ThisDay", pediu demissão e fugiu para os EUA. O editor responsável pelo suplemento de sábado,
no qual o artigo polêmico foi impresso, foi preso para interrogatório e depois libertado.
Magaji disse que o governo do
Estado condenou a jovem jornalista -ela tem pouco mais de 20
anos e acaba de se formar numa
universidade britânica- à pedido de associações islâmicas locais.
As autoridades, segundo ele,
optaram pela "fatwa" como uma
forma de aliviar o ódio nas ruas e,
assim, evitar novos massacres.
Rushdie
De acordo com o jornal de Kaduna "New Nigerian", a "fatwa"
foi decretada pelo vice-governador de Zamfara, Mamuda Aliyu
Dallatun Shinkafi.
Ele comparou a jornalista ao escritor anglo-indiano Salman
Rushdie, sentenciado à morte pelo regime islâmico do Irã pelo livro "Versos Satânicos".
"Como no caso de Salman
Rushdie, o sangue da escritora do
"ThisDay" pode ser derramado",
declarou Shinkafi durante manifestação na segunda-feira.
Zamfara foi o primeiro Estado
da Nigéria a adotar a "sharia" (código de leis islâmico), pouco após
o término do regime militar do
país, em 1999.
A "fatwa" contra Isioma Daniel
foi criticada ontem por grupos
defensores dos direitos humanos
e por alguns líderes religiosos muçulmanos.
Ann Cooper, diretora-executiva
do Comitê para a Proteção dos
Jornalistas, com sede em Nova
York, disse estar "extremamente
preocupada com a segurança dela". "Em toda essa controvérsia,
creio que o direito universal à liberdade de expressão foi completamente perdido."
Ali Alkali, um líder muçulmano
de Kaduna, disse que "o jornal já
se desculpou por ela, então a "fatwa" tem de ser revogada".
Com agências internacionais
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