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São Paulo, quinta-feira, 27 de novembro de 2003

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ENTREVISTA

À Folha, Johannes Rau, que chega hoje ao Brasil, diz ainda que subsídio agrícola europeu deve cair, como pede o Planalto

Presidente alemão critica reconstrução iraquiana

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

"A reconstrução após conflitos militares é algo demorado e custoso. Cremos, porém, que o processo poderia ser acelerado -com a rápida transferência de poder a instituições iraquianas. Mas sei que isso não é simples."
A afirmação é do social-democrata Johannes Rau, 72, presidente da Alemanha. Ele é chefe de Estado, mas não interfere no governo, que fica a cargo do chanceler (premiê) Gerhard Schröder. Ele é eleito pelo Parlamento federal e pelos Legislativos estaduais.
Eis sua entrevista à Folha.

Folha - Como a Alemanha pretende reforçar seus laços com o Brasil num momento em que a União Européia ganha dez novos países?
Johannes Rau -
A Alemanha tem relações estreitas com os Estados da UE. Mas isso não afeta suas relações com outros países. Assim, a Alemanha vai desenvolver mais ainda suas relações com o Brasil, o maior país latino-americano.

Folha - O Brasil pede a reforma da Política Agrícola Comum da UE e o corte de subsídios. Isso é factível?
Rau -
A PAC precisa de reformas. Após a expansão da UE, ela não poderá ser financiada em sua forma atual. Interessa à Alemanha que mais recursos sejam aplicados na reestruturação da agricultura, sobretudo nos novos países. Assim, os subsídios à produção terão de ser reduzidos. Isso beneficiará os produtores agrícolas de países como no Brasil.

Folha - Qual é o futuro da UE?
Rau -
A Alemanha confia no desenvolvimento da UE. Seu modelo de sucesso não perdeu sua força de atração, fato que é demonstrado pela adesão de dez novos Estados ao bloco, prevista para maio de 2004, e pela aspiração de adesão de alguns outros países.
A UE deve preparar-se para o futuro. Isso ocorre nas negociações atuais sobre a Constituição. Queremos tornar a UE mais funcional, transparente e democrática. Buscamos, portanto, um modo de votação simples. Cada Estado tem seu voto, mas, para obter maioria, todos os Estados envolvidos também deverão representar a maioria da população da UE.

Folha - Como estão as relações entre a Alemanha e os EUA?
Rau -
Na Guerra do Iraque, a Alemanha e os EUA defenderam opiniões divergentes. Mas isso já é uma questão do passado. Nossas relações são boas. Tenho certeza de que isso não mudará no futuro, pois, mesmo com a progressiva integração européia, as relações transatlânticas ainda são um pilar da nossa política externa.

Folha - O Iraque tem solução?
Rau -
Não há solução fácil. Experiências em outros países mostram que a reconstrução após conflitos militares é algo demorado e custoso. Cremos, porém, que o processo poderia ser acelerado -com a rápida transferência de poder a instituições iraquianas. Mas sei que isso não é tão simples.

Folha - Qual é o futuro do Estado do Bem-Estar Social europeu?
Rau -
Os críticos esquecem que o Estado do Bem-Estar Social é uma instituição que mudou ao longo dos anos. O modelo sempre se adaptou à realidade socioeconômica. É dinâmico e reage às necessidades de mudança.
A economia voltada ao lado social corresponde à nossa tradição ocidental, que se baseia nos valores da liberdade, da responsabilidade, da solidariedade e da tolerância. Quem observa o mundo de hoje verifica que o "modelo europeu" satisfaz a necessidade de colocar o homem no centro do processo de desenvolvimento.
Todavia não é certo referir-se a um só Estado do Bem-Estar Social europeu. Há na UE 15 sistemas diferentes. O modelo alemão dá destaque à solidariedade entre os homens. Em princípio, ninguém na Alemanha o põe em xeque. Há problemas financeiros, e a questão é saber como podemos distribuir os encargos equitativamente, para evitar que os necessitados acabem na miséria e que o dinamismo econômico seja obstruído.

Folha - Como o sr. vê a ONU?
Rau -
Não concordo com quem pensa que a ONU se tornou irrelevante. Os fatos mostraram aos que acreditavam poder agir sós que as coisas não funcionam sem ela. Sua reforma é necessária, pois suas estruturas não refletem a situação política atual. É preciso que a América Latina, a Ásia e a África sejam mais bem representadas no Conselho de Segurança.


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