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ENTREVISTA
À Folha, Johannes Rau, que chega hoje ao Brasil, diz ainda que subsídio agrícola europeu deve cair, como pede o Planalto
Presidente alemão critica reconstrução iraquiana
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
"A reconstrução após conflitos
militares é algo demorado e custoso. Cremos, porém, que o processo poderia ser acelerado
-com a rápida transferência de
poder a instituições iraquianas.
Mas sei que isso não é simples."
A afirmação é do social-democrata Johannes Rau, 72, presidente da Alemanha. Ele é chefe de Estado, mas não interfere no governo, que fica a cargo do chanceler
(premiê) Gerhard Schröder. Ele é
eleito pelo Parlamento federal e
pelos Legislativos estaduais.
Eis sua entrevista à Folha.
Folha - Como a Alemanha pretende reforçar seus laços com o Brasil
num momento em que a União Européia ganha dez novos países?
Johannes Rau - A Alemanha tem
relações estreitas com os Estados
da UE. Mas isso não afeta suas relações com outros países. Assim, a
Alemanha vai desenvolver mais
ainda suas relações com o Brasil, o
maior país latino-americano.
Folha - O Brasil pede a reforma da
Política Agrícola Comum da UE e o
corte de subsídios. Isso é factível?
Rau - A PAC precisa de reformas. Após a expansão da UE, ela
não poderá ser financiada em sua
forma atual. Interessa à Alemanha que mais recursos sejam aplicados na reestruturação da agricultura, sobretudo nos novos países. Assim, os subsídios à produção terão de ser reduzidos. Isso
beneficiará os produtores agrícolas de países como no Brasil.
Folha - Qual é o futuro da UE?
Rau - A Alemanha confia no desenvolvimento da UE. Seu modelo de sucesso não perdeu sua força
de atração, fato que é demonstrado pela adesão de dez novos Estados ao bloco, prevista para maio
de 2004, e pela aspiração de adesão de alguns outros países.
A UE deve preparar-se para o
futuro. Isso ocorre nas negociações atuais sobre a Constituição.
Queremos tornar a UE mais funcional, transparente e democrática. Buscamos, portanto, um modo de votação simples. Cada Estado tem seu voto, mas, para obter
maioria, todos os Estados envolvidos também deverão representar a maioria da população da UE.
Folha - Como estão as relações
entre a Alemanha e os EUA?
Rau - Na Guerra do Iraque, a
Alemanha e os EUA defenderam
opiniões divergentes. Mas isso já é
uma questão do passado. Nossas
relações são boas. Tenho certeza
de que isso não mudará no futuro,
pois, mesmo com a progressiva
integração européia, as relações
transatlânticas ainda são um pilar
da nossa política externa.
Folha - O Iraque tem solução?
Rau - Não há solução fácil. Experiências em outros países mostram que a reconstrução após
conflitos militares é algo demorado e custoso. Cremos, porém, que
o processo poderia ser acelerado
-com a rápida transferência de
poder a instituições iraquianas.
Mas sei que isso não é tão simples.
Folha - Qual é o futuro do Estado
do Bem-Estar Social europeu?
Rau - Os críticos esquecem que o
Estado do Bem-Estar Social é uma
instituição que mudou ao longo
dos anos. O modelo sempre se
adaptou à realidade socioeconômica. É dinâmico e reage às necessidades de mudança.
A economia voltada ao lado social corresponde à nossa tradição
ocidental, que se baseia nos valores da liberdade, da responsabilidade, da solidariedade e da tolerância. Quem observa o mundo
de hoje verifica que o "modelo europeu" satisfaz a necessidade de
colocar o homem no centro do
processo de desenvolvimento.
Todavia não é certo referir-se a
um só Estado do Bem-Estar Social
europeu. Há na UE 15 sistemas diferentes. O modelo alemão dá
destaque à solidariedade entre os
homens. Em princípio, ninguém
na Alemanha o põe em xeque. Há
problemas financeiros, e a questão é saber como podemos distribuir os encargos equitativamente,
para evitar que os necessitados
acabem na miséria e que o dinamismo econômico seja obstruído.
Folha - Como o sr. vê a ONU?
Rau - Não concordo com quem
pensa que a ONU se tornou irrelevante. Os fatos mostraram aos
que acreditavam poder agir sós
que as coisas não funcionam sem
ela. Sua reforma é necessária, pois
suas estruturas não refletem a situação política atual. É preciso
que a América Latina, a Ásia e a
África sejam mais bem representadas no Conselho de Segurança.
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