São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 2002

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Petrobras envia navio com gasolina

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

A PDVSA, a estatal venezuelana do petróleo, negociou nesta semana a compra de um carregamento de gasolina da Petrobras para minimizar o desabastecimento do produto no país, que enfrenta uma greve geral.
Carregado com 520 mil barris (82 milhões de litros) de gasolina, o navio Amazon Explorer deixou o Brasil anteontem para Caracas, onde deve chegar no domingo.
Apesar de não confirmar a interferência política, tanto o atual governo como o eleito mostraram disposição em ajudar o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva enviou na semana passada à Venezuela o secretário municipal de Cultura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia. Chávez pediu ao petista a remessa de uma carga de gasolina, o que gerou protestos da oposição venezuelana. Deputados oposicionistas chegaram a classificar a atitude de Lula à de um "fura-greve".
Um indício de que houve interferência do governo brasileiro é a eventualidade do carregamento. Segundo a Petrobras, foi firmado um contrato "spot" -no jargão do petróleo, uma compra esporádica, sem contrato de fornecimento do produto a longo prazo.
Em nota de apenas um parágrafo, a Petrobras informou que a gasolina foi vendida "atendendo a uma solicitação da companhia de petróleo venezuelana PDVSA", sem revelar o valor cobrado pelo produto. Questionada se houve pressão do governo brasileiro, a Petrobras não quis se pronunciar.
Carregamentos spot, em geral, têm um preço maior do que os contratos firmados previamente. Na maioria das vezes, segundo especialistas, seguem o preço internacional, sem descontos.
Na terça-feira, a gasolina no golfo Americano (geograficamente, o golfo do México), referência tanto para o Brasil como para a Venezuela, estava cotada a US$ 0,15 o litro, segundo a agência Platt's. Se o negócio foi feito de acordo com a cotação, a Petrobras vendeu a carga por US$ 12,3 milhões. A PDVSA, que já perdeu US$ 1,3 bilhão com a greve, não figura entre os clientes da Petrobras. Já a estatal brasileira compra, principalmente, óleo bruto da Venezuela.
As duas companhias têm uma relação de proximidade e de cooperação há alguns anos. O governo Chávez nunca escondeu a disposição de criar, em parceria com a Petrobras, uma nova companhia mundial de petróleo para atuar no mercado internacional.
Apesar de ainda importar 20% do óleo que processa, a Petrobras exporta gasolina. Até outubro, vendeu ao exterior 15 milhões de barris do combustível -ou quase 20% de sua produção de 82 milhões de barris até aquele mês.


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