São Paulo, domingo, 27 de dezembro de 1998

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Dentista reclama dos "poderosos'

do enviado especial a Havana

Lara tem 33 anos e é bonita, apesar da expressão de cansaço. Formada em medicina e odontologia, atende num posto perto de sua casa -o que é uma dádiva, pois não precisa depender do transporte público. Foi até há pouco tempo defensora do regime, agora não mais. É totalmente contra:
"O que a gente vê acontecer em Cuba hoje é o seguinte: todo mundo trabalha, trabalha, trabalha, e nada muda. Não há o que comer, não há o que vestir. Só os poderosos do partido se dão bem. O povo que se dane. Faz uma semana que eu não posso atender ninguém. Sabe por quê? Só tem anestesia no meu consultório. Mais nada: nem algodão, nem álcool, nem cimento cirúrgico. A criança vai lá com dor de dente, ponho um curativozinho e mando embora. Fazer o quê? E eu não me iludo achando que vai mudar, porque não vai não. Eles não vão deixar o poder assim de graça. Há muitas mulheres sozinhas em Cuba, porque seus homens ou foram embora ou fugiram para Miami. Eu era casada, meu marido fugiu de balsa para Miami e nunca mais deu notícias. Ele é que está certo: está longe disto aqui. Em Cuba eles dão muita liberdade para a mulher que é para ela se virar sozinha". (LC)



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