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FUTURO
Opiniões favoráveis e contrárias à compra de um jipe de brinquedo ilustram a divisão entre os jovens expostos ao consumo
PC admite que juventude é "heterogênea'
CLAUDIA FURIATI
especial para a Folha
Quem desejasaber o ponto de
vista da juventude cubana de
hoje, carece de
um interlocutor
global. Um recente dossiê da
União de Jovens Comunistas de
Cuba reconhece que a juventude é
"um grupo social heterogêneo e
complexo".
Enquanto, dos anos 60 até o começo dos 90, prevaleceu, nessa faixa de idade, uma homogeneidade
de estilo e projeto, hoje ela exibe
um leque de posições.
Queda da União Soviética, crise e
recrudescimento do bloqueio,
1992 foi o ano mais difícil. Em 1993,
decidiram-se medidas experimentais, reformas ainda sem um projeto articulado. Mas, nos anos seguintes, a economia indicava recuperação, com uma franca circulação de dólares. E por onde eles andam?
Há poucas semanas, num belo
shopping numa avenida de Havana, um jipão de brinquedo com
motor elétrico era vendido a US$
400. Os 15 do estoque desapareceram em poucas horas, no redemoinho dos consumidores -a maioria cubanos jovens.
Outros, dessa mesma geração,
vêem no fato um absurdo ou uma
agressão. São os que reclamam da
recente normalização das relações
com Papai Noel e dos novos slogans publicitários, expostos ali ou
acolá.
Dizem que esses são os sintomas
de uma dupla moral, quando a realidade não condiz, e que não se pode deixar o mercado comer o país.
Mas há os que desejam e compram. E de onde vem o dinheiro?
Boa parte, de remessas de familiares residentes no exterior; outra,
de câmbio não-oficial, mas legítimo, fruto do ganho de trabalho
por conta própria ou de algum tipo
de economia informal.
A crise os tomou de surpresa em
plena juventude. Sofrem a realidade do desemprego, do subemprego e a agudez do problema da moradia.
A chegada da idade adulta teve
de ser postergada, vista a insuficiência de meios de assumi-la.
Apesar de seu alto grau de instrução, a maioria se mantém sob o teto dos pais. Em 1995, das pessoas
que procuravam emprego, mais de
60% eram jovens.
Querem trabalhar, mas não mais
por conta de uma formação universitária, como prioridade. A média de 130 mil matrículas em universidades, no início da década, este ano caiu para 75 mil, uma sensível alteração em favor de cursos
técnico-profissionalizantes, mais
adaptados ao mercado de trabalho.
²
Realismo
Esta é uma pista de como pensa o
jovem cubano: com realismo
-pois um convite à namorada, ou
ao namorado, para ir a um bar à
noite, significará, no mínimo, 60
pesos cubanos (quase US$ 3, ou a
metade de um salário regular).
A diferença entre ser um médico
ou um carregador de hotel hoje,
em Cuba, reside nos US$ 200 que o
segundo poderá ganhar de gorjeta,
em menos de uma semana.
Fidel conversou com a jovem Iuruma, a presidente da Federação
dos Estudantes de Ensino Médio,
durante uma recente sessão do
Congresso da Juventude. Perguntou-lhe quantos anos ela tinha
quando a União Soviética caiu. Oito anos.
Fidel Castro quis saber o que ela
sabia do assunto. Iuruma explicou
que quase nada, porque disso há
muito ruído e pouca clareza.
No Congresso, Fidel também teve um amistoso entrevero com o
ministro do Turismo, Osmany
Cienfuegos, após a intervenção de
um jovem sobre a forma irregular
com que se consegue um emprego
na área do Turismo, parecida com
o que no Brasil chamamos tráfico
de influência (em Cuba, chamam
de "sociolismo").
O ministro Cienfuegos acabou
convocado a conversar com a juventude sobre a questão, já que
mais de 70% dos trabalhadores do
turismo se encontram na faixa de
até 30 anos.
²
Claudia Furiati, 44, escritora, jornalista e historiadora, escreve no momento uma biografia sobre Fidel Castro, após seis anos e meio de pesquisa em Cuba.
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