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COMENTÁRIO
Condicionar negociação é erro
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Entre os diversos pontos que
são alvo de análises feitas sob o calor do impacto da eleição do Hamas à maioria legislativa palestina, um está sofrendo distorção no
berço: a suposta necessidade de
condicionar o diálogo com o grupo extremista. Ou seja, só negociar quando o terror for abandonado, as armas depostas e Israel
reconhecido.
Isso é uma visão equivocada,
baseada na reação israelense, no
amparo que ela tem no establishment americano e na mídia em
geral e na repulsa natural ao terror contra civis do Hamas.
O conflito israelo-palestino é
único em suas características, mas
é possível encontrar exemplos
históricos diversos para a verdade
que interessa: só haverá uma
"normalização" do Hamas quando ele for um ator reconhecido do
processo político.
O caso mais relevante talvez seja
o do IRA (Exército Republicano
Irlandês). Apenas quando foi chamado à mesa, por meio de seus
prepostos políticos na década de
90, o IRA tendeu à normalização.
Não sem retrocessos no caminho,
como dissidências, mas isso é parte do processo.
Muitos reagiram mal aos discursos duros, anti-Israel, adotados pelos líderes do Hamas vitorioso. O texto é violento, mas é o
de sempre. Como é invariável na
política, apesar de momentos democráticos como a própria eleição palestina, o que vale é a negociação à sombra, olho no olho.
Por isso pouco importa se o Hamas quer usar intermediários públicos. É ingenuidade achar que
não haverá contatos, envolvendo
provavelmente parte da Fatah, a
carcomida elite política local. Só
não esperem Camp David. O jogo
é totalmente novo, e a esta altura
volátil ao extremo.
Por isso é desejável que o boicote sugerido por Israel acabe na retórica. Não se trata de defender a
parte atroz da atuação do Hamas,
mas de assumir que o abrandamento de posições e outras evoluções necessárias devem ser conseqüência, e não premissa, da nova
realidade política. Realidade que
também demanda, ainda no campo dos desejos, um novo posicionamento de Israel.
O Hamas é parte significativa da
sociedade palestina, como qualquer visita a Gaza pode comprovar. Goste-se ou não. Seu isolamento pode significar o seqüestro
de sua vitória por parte dos incendiários da região, dos dois lados,
que não são poucos e têm comprometimento zero com a busca
pela paz.
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