|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Biografia não-autorizada traz Morales sedutor e frio
"Un tal Evo", de Darwin Pinto e Roberto Navia, sofre boicote de governo e oposição
Cheio de ironia, livro aborda da "chompa" à habilidade política de Morales; autor diz à Folha que presidente é um ditador em potencial
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Ele é um dos segredos de Estado mais bem guardados nos
corredores do Palácio Quemado: um assessor especial, encarregado de manter na surdina e -sobretudo longe de seus
adversários- os encontros passionais de Evo Morales. A "revelação" está em "Un tal Evo",
biografia não-autorizada do
presidente boliviano, lançada
no último dia 17 na Bolívia e no
Chile e sem previsão de publicação no Brasil.
Esse "anjo da guarda de Evo,
que é seu cafetão oficial, uma
espécie de ministro de saias invisível" não tem a função de
achar amantes para o presidente, esclarecem os autores Darwin Pinto e Roberto Navia.
Até porque, contam os dois
jornalistas, Morales "sabe utilizar seu "sexapil" [sic] presidencial e suas exóticas feições de
indígena rústico para enlouquecer as mulheres -que desabam, indefesas, contra seu peito poderoso". "Muitas mulheres o consideram simpático e
admiram seu porte viril de homem dos altiplanos, acham que
ele tem pernas de Ronaldinho e
largos ombros de amante do
Primeiro Mundo", relata um
ex-assessor de Morales no capítulo "Las Evas del Evo".
"Un tal Evo" não se detém na
vida sentimental do presidente
boliviano. Mostra um homem
que teve a habilidade de se
construir, um ególatra frio e
pouco sentimental, mas que
não deixa de pedir a bênção dos
pais mortos para suas decisões
como mandatário.
Com uma linguagem às vezes
dura, às vezes chula, eivada de
ironia, o livro traz diversas anedotas sobre a vida de Morales
da infância à Presidência -como a história da famosa "chompa" com que rodou o mundo.
O livro conta que a família de
Morales era tão necessitada
que as crianças nem sabiam o
dia de seus aniversários. "Quiçá
a única vez que Evo recebeu um
presente digno de menção foi
no dia 26 de outubro de 2005,
quando uma amiga lhe deu a
"chompa" listrada que Evo fez
famosa na sua tour européia
antes de tomar posse. A única
coisa que conseguiu ofuscar
Evo alguma vez foi a bendita
"chompa", coisa que nem Chávez, Lula ou o príncipe da Espanha conseguiram."
"Golpeado pela miséria"
"Morales é um tipo golpeado
pela miséria de sua raça e pelas
necessidades que sofre seu povo há tantos séculos", disse à
Folha Darwin Pinto, do jornal
"El Deber", de Santa Cruz. "Resulta de todas as suas circunstâncias de misérias vividas."
"Mas seu afã de revanche pode levá-lo a se tornar um ditador. Ele crê que tem o direito de
reivindicar seu povo por mais
que isso signifique atropelar os
mestiços brancóides que vivem
na outra metade da Bolívia. É
um homem conseqüente, mas
capaz de tudo para impor o modelo de país que ele quer."
Em um de seus capítulos
mais contundentes, o livro remonta ao Chapare no início dos
anos 80, em plena ditadura de
Luís García Mesa, para falar do
momento que atraiu Morales
para a vida sindical e, a partir
daí, política. "Esse cocaleiro foi
assassinado de forma selvagem
pelos militares do governo de
García Meza, quando o espancaram brutalmente porque não
queria se declarar culpado de
narcotráfico. Então, lhe jogaram gasolina por todo o corpo
e, sob os olhares de vários colonos, o queimaram vivo."
Pinto conta que o livro sofreu
uma quase censura na Bolívia
tanto pelo governo quanto pela
oposição. "Pediu-se publicamente para não ler o livro, antes mesmo que ele fosse publicado. Na Bolívia, ou estás com
Evo ou contra Evo. As massas
não entendem que ainda haja
militantes do senso comum."
NA INTERNET - Leia capítulo "Las
Evas del Evo" em espanhol
www.folha.com.br/070265
Texto Anterior: "Cabecinha do PCC" é maior comprador, diz PF Próximo Texto: Trecho Índice
|