São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

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Biografia não-autorizada traz Morales sedutor e frio

"Un tal Evo", de Darwin Pinto e Roberto Navia, sofre boicote de governo e oposição

Cheio de ironia, livro aborda da "chompa" à habilidade política de Morales; autor diz à Folha que presidente é um ditador em potencial

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Ele é um dos segredos de Estado mais bem guardados nos corredores do Palácio Quemado: um assessor especial, encarregado de manter na surdina e -sobretudo longe de seus adversários- os encontros passionais de Evo Morales. A "revelação" está em "Un tal Evo", biografia não-autorizada do presidente boliviano, lançada no último dia 17 na Bolívia e no Chile e sem previsão de publicação no Brasil.
Esse "anjo da guarda de Evo, que é seu cafetão oficial, uma espécie de ministro de saias invisível" não tem a função de achar amantes para o presidente, esclarecem os autores Darwin Pinto e Roberto Navia.
Até porque, contam os dois jornalistas, Morales "sabe utilizar seu "sexapil" [sic] presidencial e suas exóticas feições de indígena rústico para enlouquecer as mulheres -que desabam, indefesas, contra seu peito poderoso". "Muitas mulheres o consideram simpático e admiram seu porte viril de homem dos altiplanos, acham que ele tem pernas de Ronaldinho e largos ombros de amante do Primeiro Mundo", relata um ex-assessor de Morales no capítulo "Las Evas del Evo".
"Un tal Evo" não se detém na vida sentimental do presidente boliviano. Mostra um homem que teve a habilidade de se construir, um ególatra frio e pouco sentimental, mas que não deixa de pedir a bênção dos pais mortos para suas decisões como mandatário.
Com uma linguagem às vezes dura, às vezes chula, eivada de ironia, o livro traz diversas anedotas sobre a vida de Morales da infância à Presidência -como a história da famosa "chompa" com que rodou o mundo.
O livro conta que a família de Morales era tão necessitada que as crianças nem sabiam o dia de seus aniversários. "Quiçá a única vez que Evo recebeu um presente digno de menção foi no dia 26 de outubro de 2005, quando uma amiga lhe deu a "chompa" listrada que Evo fez famosa na sua tour européia antes de tomar posse. A única coisa que conseguiu ofuscar Evo alguma vez foi a bendita "chompa", coisa que nem Chávez, Lula ou o príncipe da Espanha conseguiram."

"Golpeado pela miséria"
"Morales é um tipo golpeado pela miséria de sua raça e pelas necessidades que sofre seu povo há tantos séculos", disse à Folha Darwin Pinto, do jornal "El Deber", de Santa Cruz. "Resulta de todas as suas circunstâncias de misérias vividas."
"Mas seu afã de revanche pode levá-lo a se tornar um ditador. Ele crê que tem o direito de reivindicar seu povo por mais que isso signifique atropelar os mestiços brancóides que vivem na outra metade da Bolívia. É um homem conseqüente, mas capaz de tudo para impor o modelo de país que ele quer."
Em um de seus capítulos mais contundentes, o livro remonta ao Chapare no início dos anos 80, em plena ditadura de Luís García Mesa, para falar do momento que atraiu Morales para a vida sindical e, a partir daí, política. "Esse cocaleiro foi assassinado de forma selvagem pelos militares do governo de García Meza, quando o espancaram brutalmente porque não queria se declarar culpado de narcotráfico. Então, lhe jogaram gasolina por todo o corpo e, sob os olhares de vários colonos, o queimaram vivo."
Pinto conta que o livro sofreu uma quase censura na Bolívia tanto pelo governo quanto pela oposição. "Pediu-se publicamente para não ler o livro, antes mesmo que ele fosse publicado. Na Bolívia, ou estás com Evo ou contra Evo. As massas não entendem que ainda haja militantes do senso comum."

NA INTERNET - Leia capítulo "Las Evas del Evo" em espanhol
www.folha.com.br/070265


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