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Mar de lama antecipa corrida à Casa Branca
Com concorrentes à sucessão de Bush em 2008 apresentando-se antes da hora, jogo sujo entre as campanhas também começa cedo
Primeiros alvos de ataque são senadores democratas Obama e Hillary, seu colega republicano John McCain e Giuliani, ex-prefeito de NY
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Barack Obama, senador democrata por Illinois e um dos
principais nomes da corrida à
Casa Branca em 2008, estudou
numa madrassa quando criança. Foi levado para esse tipo de
escola, que ensina uma versão
radical do islamismo, ao viver
na Indonésia com a mãe e o padrasto, muçulmano linha-dura.
A história foi publicada pela
revista do jornal "The Washington Times", do reverendo
Moon. Tão logo chegou às bancas, foi encampada pela Fox
News, a emissora conservadora
alinhada à Casa Branca. Quem
passou as informações à publicação seriam "pesquisadores ligados à campanha de Hillary
Clinton", que briga com Obama
pela indicação do Partido Democrata para 2008.
A CNN enviou um correspondente a Jacarta, que conversou com o diretor da suposta "madrassa" e com colegas de
Obama: trata-se, na verdade, de
uma escola pública secular,
com alunos de diversas religiões. O episódio já tinha sido
contado pelo próprio político,
que se define como cristão, nos
dois livros biográficos que publicou. A campanha de Hillary
nega qualquer envolvimento.
A polêmica, que veio a público nesta semana, é o exemplo
mais acabado do problema que
a campanha à sucessão de
George W. Bush já enfrenta. A
corrida começou com uma antecedência inédita -faltam
mais de 600 dias para o pleito.
Com ela, o mar de lama.
A culpa é do sistema eleitoral
norte-americano. Os partidos
começam suas primárias estaduais, que escolhem os candidatos, já em janeiro do ano que
vem. New Hampshire, que era
isolado o primeiro no calendário, agora vê a competição aumentar: Califórnia, Flórida,
Nova Jersey e Illinois, Estados
com mais importância e peso,
anunciaram que querem adiantar suas primárias também para janeiro ou fevereiro de 2008.
Antes disso, há as chamadas
"primárias da Internet", campanhas voltadas especificamente aos usuários da rede. E a
questão da arrecadação de fundos (leia abaixo). "Se pensarmos bem, o tempo é até curto",
disse à Folha Barry C. Burden,
especialista em campanhas
presidenciais e professor de sociologia da Universidade de
Wisconsin-Madison.
Hillary na mira
Assim, com o aval ou não dos
escritórios dos candidatos, correligionários mais ferrenhos já
saíram a campo em busca de fatos que possam comprometer
os futuros adversários. Como o
presidente Bush não pode concorrer e seu vice disse que não
quer, há duas dezenas de presidenciáveis na corrida até agora.
Mas são os quatro mais bem
colocados nas pesquisas as primeiras vítimas: Hillary e Obama entre os democratas, e o senador John McCain e o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani entre os republicanos.
Obama superou bem o "madrassagate". Agora, a bola da
vez é Hillary. No meio da semana, Dick Morris, ex-estrategista
político dos Clinton, que rompeu com os democratas e virou
o "gênio do mal" das campanhas negativas, anunciou que
estava produzindo um documentário que exibiria em todos
os Estados e que acabaria com a
carreira da senadora.
Já Giuliani viu chegar aos
jornais um bloco com anotações de seus estrategistas em
que listavam as maiores fraquezas do ex-prefeito: posições
muito liberais em relações aos
gays e ao aborto, o caso que teve
com uma assessora (sua atual
mulher) enquanto sua mulher
sofria de câncer e a violência da
polícia durante sua gestão.
Sobre o último assunto, acaba de chegar às locadoras o
DVD "Giuliani Time", que também contesta o papel de herói
adquirido pelo político por sua
atuação pós-11 de Setembro.
Mesmo teor tem o livro "Grand
Illusion - The Untold Story of
Rudy Giuliani and 9/11 (Grande ilusão - a história secreta de
Giuliani e o 11 de Setembro),
dos mesmos jornalistas que já
haviam descoberto que o pai do
ex-prefeito foi ligado à Máfia.
Por fim, John McCain voltou
ao noticiário, dessa vez pelas
mãos da temida organização liberal MoveOn.Org, ligada aos
democratas e à qual é creditada
uma capacidade de mobilizar 3
milhões de pessoas via internet
a cada eleição. Numa iniciativa
considerada pela revista especializada "Variety" inédita por
sua antecedência, a ONG bancou uma campanha de TV que
acaba de entrar no ar.
Nos comerciais, o senador do
Arizona aparece abraçado ao
presidente. Uma voz diz: "John
McCain fez mais do que apoiar
a estratégia fracassada de George Bush para o Iraque. Foi dele
a idéia de aumentar o número
de soldados na guerra".
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