São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mar de lama antecipa corrida à Casa Branca

Com concorrentes à sucessão de Bush em 2008 apresentando-se antes da hora, jogo sujo entre as campanhas também começa cedo

Primeiros alvos de ataque são senadores democratas Obama e Hillary, seu colega republicano John McCain e Giuliani, ex-prefeito de NY

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

Barack Obama, senador democrata por Illinois e um dos principais nomes da corrida à Casa Branca em 2008, estudou numa madrassa quando criança. Foi levado para esse tipo de escola, que ensina uma versão radical do islamismo, ao viver na Indonésia com a mãe e o padrasto, muçulmano linha-dura.
A história foi publicada pela revista do jornal "The Washington Times", do reverendo Moon. Tão logo chegou às bancas, foi encampada pela Fox News, a emissora conservadora alinhada à Casa Branca. Quem passou as informações à publicação seriam "pesquisadores ligados à campanha de Hillary Clinton", que briga com Obama pela indicação do Partido Democrata para 2008.
A CNN enviou um correspondente a Jacarta, que conversou com o diretor da suposta "madrassa" e com colegas de Obama: trata-se, na verdade, de uma escola pública secular, com alunos de diversas religiões. O episódio já tinha sido contado pelo próprio político, que se define como cristão, nos dois livros biográficos que publicou. A campanha de Hillary nega qualquer envolvimento.
A polêmica, que veio a público nesta semana, é o exemplo mais acabado do problema que a campanha à sucessão de George W. Bush já enfrenta. A corrida começou com uma antecedência inédita -faltam mais de 600 dias para o pleito. Com ela, o mar de lama.
A culpa é do sistema eleitoral norte-americano. Os partidos começam suas primárias estaduais, que escolhem os candidatos, já em janeiro do ano que vem. New Hampshire, que era isolado o primeiro no calendário, agora vê a competição aumentar: Califórnia, Flórida, Nova Jersey e Illinois, Estados com mais importância e peso, anunciaram que querem adiantar suas primárias também para janeiro ou fevereiro de 2008.
Antes disso, há as chamadas "primárias da Internet", campanhas voltadas especificamente aos usuários da rede. E a questão da arrecadação de fundos (leia abaixo). "Se pensarmos bem, o tempo é até curto", disse à Folha Barry C. Burden, especialista em campanhas presidenciais e professor de sociologia da Universidade de Wisconsin-Madison.

Hillary na mira
Assim, com o aval ou não dos escritórios dos candidatos, correligionários mais ferrenhos já saíram a campo em busca de fatos que possam comprometer os futuros adversários. Como o presidente Bush não pode concorrer e seu vice disse que não quer, há duas dezenas de presidenciáveis na corrida até agora.
Mas são os quatro mais bem colocados nas pesquisas as primeiras vítimas: Hillary e Obama entre os democratas, e o senador John McCain e o ex-prefeito de Nova York Rudy Giuliani entre os republicanos.
Obama superou bem o "madrassagate". Agora, a bola da vez é Hillary. No meio da semana, Dick Morris, ex-estrategista político dos Clinton, que rompeu com os democratas e virou o "gênio do mal" das campanhas negativas, anunciou que estava produzindo um documentário que exibiria em todos os Estados e que acabaria com a carreira da senadora.
Já Giuliani viu chegar aos jornais um bloco com anotações de seus estrategistas em que listavam as maiores fraquezas do ex-prefeito: posições muito liberais em relações aos gays e ao aborto, o caso que teve com uma assessora (sua atual mulher) enquanto sua mulher sofria de câncer e a violência da polícia durante sua gestão.
Sobre o último assunto, acaba de chegar às locadoras o DVD "Giuliani Time", que também contesta o papel de herói adquirido pelo político por sua atuação pós-11 de Setembro. Mesmo teor tem o livro "Grand Illusion - The Untold Story of Rudy Giuliani and 9/11 (Grande ilusão - a história secreta de Giuliani e o 11 de Setembro), dos mesmos jornalistas que já haviam descoberto que o pai do ex-prefeito foi ligado à Máfia.
Por fim, John McCain voltou ao noticiário, dessa vez pelas mãos da temida organização liberal MoveOn.Org, ligada aos democratas e à qual é creditada uma capacidade de mobilizar 3 milhões de pessoas via internet a cada eleição. Numa iniciativa considerada pela revista especializada "Variety" inédita por sua antecedência, a ONG bancou uma campanha de TV que acaba de entrar no ar.
Nos comerciais, o senador do Arizona aparece abraçado ao presidente. Uma voz diz: "John McCain fez mais do que apoiar a estratégia fracassada de George Bush para o Iraque. Foi dele a idéia de aumentar o número de soldados na guerra".


Texto Anterior: Trecho
Próximo Texto: Hillary abre mão de direito à verba pública
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.