São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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Mais de 300 mil foram mortos na ditadura

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Responsável direto pelo massacre de 300 mil a 1 milhão de adversários de esquerda -o número real jamais será conhecido-, o general Suharto deixa como legado uma biografia política de números superlativos. Além daquilo que a própria CIA qualificou de "um dos mais trágicos assassinatos em massa do século 20", o ditador e familiares são suspeitos de desviar US$ 45 bilhões durante os 32 anos de ditadura.
Mas foi também o governante que modificou o perfil da Indonésia -crescimento médio anual de 7%-, com a abertura da economia e uma aliança privilegiada com os EUA nos anos da Guerra Fria.
Foi deposto por imensas manifestações de rua, convocadas contra a malversação de recursos e o colapso no modelo de desenvolvimento provocado pela crise econômica asiática, que levou à desvalorização da moeda nacional e à queda do padrão da classe média.
Suharto nasceu no vilarejo javanês de Kemusu Argamulja, filho de comerciantes que viu no Exército uma forma de ascensão social nas então Índias Holandesas Orientais.
Alistou-se nas forças coloniais da Holanda, até a invasão japonesa, em 1942, quando passa a integrar um corpo de defesa patrocinado pelo Exército de ocupação. Em 1945 ingressa na guerrilha pela independência, que favorece, em 1950, a criação da Indonésia como república. Já era, então, o maior país islâmico do planeta.
Em 1965 o presidente esquerdista Sukarno (1901-1970) nacionaliza o petróleo, contrariando interesses americanos e britânicos. O período era de forte polarização política, com o governo apoiado pelo PKI (Partido Comunista).
A fim de se contrapor a um suposto plano de Washington para depor o presidente, militares assassinam um grupo de seis generais de direita. Suharto, já um general-de-divisão, comandava as forças especiais em Jacarta, que passam a assassinar comunistas e chineses étnicos, com o auxílio de comandos paramilitares islâmicos. Foram tantas as vítimas que, dizia-se então, faltavam galhos de árvores para os enforcados. Centenas de milhares foram degolados.
Dez anos depois a expressão "paz de cemitério" seria usada de novo, quando a Indonésia invadiu o Timor Leste, território que se separava de Portugal, com saldo de 200 mil mortos.
O milagre econômico indonésio, financiado pelo petróleo, gerou uma sociedade desigual. Seu índice Gini é ainda hoje de 0,34 -no Brasil é de 0,57-, sendo 1 a utópica igualdade integral. Com Suharto, a inflação caiu de 630% para 9% ao ano.


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