São Paulo, quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

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Sri Lanka reelege algoz de guerrilha

Mahinda Rajapaksa, artífice da derrota do separatista Tigres Tâmeis após 26 anos, obtém 57% dos votos

Derrotado, ex-chefe militar que liderou a ofensiva vê uso de máquina estatal pelo presidente e não reconhece resultado oficial de pleito


DA REDAÇÃO

O presidente do Sri Lanka, Mahinda Rajapaksa, obteve um novo mandato de cinco anos com 57% dos votos, anunciou ontem a comissão eleitoral. O pleito foi o primeiro após o fim da guerra civil de 26 anos que opôs o governo central à guerrilha separatista Tigres Tâmeis.
O resultado foi, contudo, rejeitado pelo candidato derrotado, Sarath Fonseka, ex-chefe militar que liderou ao lado do presidente a ofensiva que derrotou o grupo, no ano passado. Fonseka, que alegou uso da máquina do Estado por Rajapaksa, obteve cerca de 40% dos votos.
"De hoje em diante, sou presidente de todos, tenham votado em mim ou não", disse Rajapaksa no primeiro pronunciamento após a divulgação do resultado do pleito de anteontem. O anúncio motivou apoiadores a saír à ruas da capital, Colombo, com bandeiras, fotos de Rajapaksa e fogos de artifício.
O presidente cingalês, que se elegera há cinco anos prometendo derrotar o Tigres Tâmeis, apontou como prioridades do seu novo mandato a reconstrução do país, cujos recursos foram durante quase três décadas drenados para o combate ao grupo separatista.
Rajapaksa terá, no entanto, que lidar com estagnação econômica, um crescente custo de vida e, sobretudo, com o conflito étnico latente que divide o país entre cingaleses (74% da população) e tâmeis (18%).
A guerra civil teve início em 1983, poucos anos depois da aprovação de uma Constituição com privilégios à maioria cingalesa. No auge do conflito, a guerrilha separatista chegou a controlar uma área de 65 mil km2 na região nordeste da ilha.
Após anos impondo recuos ao grupo, o Exército deu início no ano passado à "ofensiva final", que recuperou a totalidade do território antes controlado pelo Tigres Tâmeis e matou seus líderes. O número total de mortos na guerra é estimado em até 100 mil -de uma população de 21 milhões no país.

Cerco militar
Durante o dia, o Exército cingalês chegou a cercar o hotel em Colombo em que Fonseka se encontrava, gerando temores de que militares fiéis ao ex-chefe resistissem ao seu lado. Mas mais tarde Fonseka deixou o local e se dirigiu à sua casa.
Fonseka deixou a chefia das Forças Armadas apenas meses depois de liderar a parte militar da "ofensiva final" aos Tigres Tâmeis e se uniu à oposição para concorrer contra Rajapaksa -um linha-dura cuja eleição em 2005 havia sido creditada em grande parte à intransigência da guerrilha para negociar.
Durante a campanha, Fonseka tentou capitalizar parte da popularidade gerada pela derrota do grupo e acenou à minoria tâmil prometendo trabalhar para integrá-la depois de décadas de marginalização.
Sua estratégia foi, no entanto, prejudicada por incidentes violentos ocorridos em seções predominantemente tâmeis no dia da eleição, comprometendo o comparecimento -que chegou a 80% nas demais regiões.
Segundo Fonseka, o governo impediu o deslocamento de tâmeis, usou a mídia estatal para atacá-lo e alocou verba pública à campanha. As acusações foram em parte endossadas pelo chefe da comissão eleitoral, que anunciou a sua saída do cargo.

Com agências internacionais



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