São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2001

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ÁFRICA

Rebeldes no país têm 9 mil soldados entre 8 e 18 anos

Unicef resgata 2.800 crianças que lutavam na guerrilha do Sudão

Associated Press
Crianças que atuavam na guerrilha participam de cerimônia de desmobilização no sul do Sudão


DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Mais de 2.800 soldados crianças, entre 8 e 18 anos, que participavam da guerrilha no sul do Sudão, foram libertadas ontem na maior operação do gênero patrocinada pelo Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Segundo o Unicef, as crianças foram retiradas da zona de combate da Província de Bahr al-Gazal, numa operação secreta que durou cinco dias, e resgatadas em grupos de cem, em dois aviões de carga Buffalo, operados pela Programa Mundial de Alimentação da ONU. Em seguida, foram levadas para receber cuidados em centros de atendimento na cidade de Rumbek.
Desde 1983, o governo islâmico sudanês combate guerrilhas separatistas do sul do país, onde a população é majoritariamente animista e cristã. O Sudão tem maioria muçulmana, e o islamismo é a religião oficial. O conflito, um dos mais longos da África, já deixou mais de 2 milhões de mortos.
Em outubro do ano passado, o líder da guerrilha do Exército de Libertação Popular (SPLA, em inglês), comprometeu-se com o diretor-executivo do Unicef, Carol Bellamy, a desmobilizar as crianças. Antes de deixarem os campos, os garotos participaram de uma cerimônia de desmobilização: praticaram exercícios militares e entoaram hinos de guerra.
O ponto alto da cerimônia ocorreu quando as crianças depuseram as armas, viraram-se e marcharam, deixando para trás a vida na guerrilha.
"Acredito que o SPLA finalizará o compromisso de libertar todas as outras crianças", disse Bellamy, em Genebra. O Unicef estima que cerca de 9.000 soldados crianças estejam servindo em vários grupos armados no sul do Sudão. Os oficiais do Exército rebelde afirmam, porém, que a maioria não participa de combates, mas de atividades como a lavagem de roupas e a vigilância do campo.
"Elas usam o Exército como local onde possam se proteger e comer", afirmou Elijah Malok , oficial de uma agência humanitária do próprio Exército rebelde.
A tarefa do Unicef agora é encontrar e devolver as crianças para suas famílias. Algumas delas juntaram-se às milícias rebeldes após perderem os pais, assassinados por soldados do governo. "Meus pais estão vivos, mas eu não quero voltar para casa, quero estudar", disse Luca Akot, 14.
Malok adverte que, para evitar que as crianças voltem a procurar a guerrilha, é preciso que o Unicef faça mais por elas. "É preciso lhes dar educação. Caso contrário, elas voltarão para as fileiras dos militares."



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