São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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IMPRENSA

Em livro, Jayson Blair revela que escrevia drogado

"Menti, menti e menti", diz pivô de escândalo no "New York Times"

DE NOVA YORK

A imprensa americana divulgou ontem trechos do livro do ex-repórter Jayson Blair, pivô de um escândalo de fraude jornalística que abalou o "New York Times", o jornal mais prestigioso dos EUA, no ano passado.
Com o título "Burning Down My Masters" House: My Life at The New York Times" (queimando a casa dos meus mestres: minha vida no "New York Times"), Blair faz revelações sobre seu cotidiano na Redação do "Times" -admite até que trabalhou sob efeito de drogas e álcool.
"Eu começava as minhas manhãs com um copo de uísque e terminava o dia com o copo ao meu lado", diz no livro, que deve ser lançado em 6 de março. "Não estava pronto para abandonar a cocaína. Apesar de tudo, minhas melhores reportagens foram escritas à base de drogas".
O jornalista detonou um dos maiores escândalos da imprensa americana com a revelação de que muitas de suas reportagens no jornal haviam sido inventadas ou plagiadas. No livro, Blair não faz segredo de suas fraudes.
"Eu menti, menti e menti um pouco mais. Eu menti sobre onde estive, eu menti sobre onde obtive informações, eu menti sobre como escrevi reportagens. Eu menti sobre um vôo que jamais peguei, sobre dormir num carro que nunca aluguei (...). Eu menti sobre um cara que me ajudou num posto de gasolina e sobre estradas de ferro que eu só sabia da existência por meio de fotos aéreas de meu arquivo pessoal."
Em maio de 2003, o "Times" publicou quatro páginas com correções sobre reportagens de Blair. O escândalo causou a saída do editor-executivo do jornal, Howell Raines, e de seu braço direito, Gerald Boyd. Além disso, o jornal criou o cargo de ombudsman.
No livro, Blair narra também que tentou se enforcar com um cinto na véspera da sua saída do "New York Times", mas desistiu ao lembrar que conseguia se manter sóbrio havia mais de um ano e ao "encontrar o amor" com uma colega de trabalho.
O livro revela detalhes sobre como Blair conseguiu ludibriar os editores do jornal e faz críticas a vários jornalistas do "Times". O editor-executivo do jornal, Bill Keller, minimizou a repercussão do livro. "O autor é um enganador confesso." (CÍNTIA CARDOSO)


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