São Paulo, quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

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Para neurocirurgiã cubana que não pode deixar ilha, tudo será igual após Fidel

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Embora diga entender pouco e tenha desistido da política, a neurocirurgiã cubana Hilda Molina, 64, entendeu que, quando Fidel Castro falou em contar com a velha-guarda do regime na carta em que informou sua renúncia, tudo seguiria igual na ilha.
Para ela, isso significa não saber quando voltará a ver o filho ou quando conhecerá os dois netos que vivem na Argentina. Há 13 anos, Hilda e sua mãe, Hilda Morejón, 89, tentam em vão uma autorização para ir de Havana a Buenos Aires. A justificativa para negar a permissão à cirugiã é que seu "cérebro pertence ao país". Para a mãe, que mal enxerga e usa cadeira de rodas, nunca foi dada uma desculpa.
Até 1994, Molina dirigia um centro de restauração neurológica em Havana e era deputada. Começaram então a trazer a seu centro pacientes estrangeiros que pagavam por um serviço melhor do que o recebido pelos cubanos. "A política não era problema meu. Passou a ser quando atingiu a minha profissão", disse à Folha por telefone a médica que abdicou dos cargos e se declarou dissidente.
Ao filho único, o também cirurgião Roberto Quiñones, 45, recomendou que não voltasse ao país depois de uma viagem de estudos. Quiñones se mudou para a terra da mulher, Buenos Aires.
Hilda Molina teve a linha telefônica cortada, foi vigiada e teve todos os pedidos para ir à Argentina negados. "Parece uma espécie de vingança por eu deixar o cargo."
Durante anos, a família pediu a ajuda de presidentes e do Vaticano para resolver o caso. O ex-presidente argentino Néstor Kirchner enviou duas cartas a Fidel. Ante a negativa do ditador, o chanceler de Kirchner, Rafael Bielsa, fez críticas públicas regime.
Agora, Quiñones planeja escrever uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em busca de ajuda. "Nunca mandei porque pensava que Lula era muito próximo de Fidel e que não funcionaria."
Quiñones diz que a única resposta de Fidel foi oferecer que a família fosse a Cuba visitar as Hildas mãe e avó. Convite recusado. "Se não deixam sair a minha avó, de 89 anos, podem não me deixar sair também."


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