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ANÁLISES
Subestimar o inimigo foi um erro
JAMIE LOWTHER
CHARLIE MCGRATH
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
No Staff College, a escola de comando e estado-maior do Reino
Unido, há um tradicional ditado:
"Nenhum plano sobrevive ao primeiro contato com o inimigo." É
um axioma útil, pois ensina a esperar o inesperado e, acima de tudo, nunca subestimar o inimigo.
Muitos experientes oficiais militares americanos da reserva, aparentemente com a aprovação tácita dos que ainda servem, tem relembrado o secretário da Defesa
[Donald Rumsfeld] sobre essa
premissa nos últimos dias.
A crença de Rumsfeld de que o
Iraque pode ser vencido em estilo
similar ao do Afeganistão, com
uma mistura de poderio aéreo
preciso e decisivo com uma força
americana liderando grupos locais em terra, teria sido a base de
uma discordância entre ele e o general Tommy Franks, chefe do
Comando Central dos EUA.
Franks venceu esse round, e os
EUA acabaram enviando duas
unidades pesadas -as 3ª e 4ª Divisões de Infantaria Mecanizadas-, apoiadas pelas mais flexíveis forças da 101ª Divisão Aerotransportada e pelos marines.
Mas com a recusa da Turquia de
autorizar a 4ª Divisão de Infantaria a utilizar o seu território como
ponta de lança para o início das
ações na frente norte do Iraque,
Franks viu seu poderio reduzido
em um terço.
Como os britânicos e os marines dos EUA estão comprometidos com a segurança de Umm Qasr, Basra [sul do Iraque] e com
os campos de petróleo ao redor, o
principal esforço -das forças em
direção a Bagdá- foi legado a
apenas uma divisão: a 3ª.
Compare isso com a primeira
Guerra do Golfo, quando o general Norman Schwarzkopf [equivalente de Franks em 1991] mobilizou nada menos do que seis unidades pesadas para a guerra.
Com a opção norte sendo apenas agora explorada pelos pára-quedistas, nenhuma estratégia é
possível por enquanto. A 3ª Divisão de Infantaria está se aproximando de Bagdá pela direção previsível [sul] e a Guarda Republicana [força de elite de Saddam Hussein], igualmente previsível, está
se mobilizando para encontrá-la.
A ausência até agora da 101ª é
outro indicador de que plano talvez esteja seguindo a máxima
consagrada no Staff College. Com
sua capacidade de servir de "capa
vertical" -os helicópteros adicionam um componente tridimensional ao plano de guerra-,
a 101ª representa o antídoto perfeito para o previsível e trabalhoso
ângulo de ataque da 3ª Divisão.
No entanto, sem um excedente
para formar uma reserva operacional, com a "inesperada resistência" encontrada no norte e ao
redor de Basra, Franks talvez tenha considerado precipitado mobilizar a 101ª para a linha de frente
do confronto.
Agora, a divisão está finalmente
se movendo, mas não da maneira
como tinham previsto.
A próxima fase da guerra -do
cerco a Bagdá- verá sem dúvida
a 101ª divisão em ação. Pode se
mover para ameaçar a capital desde o norte, tentando levar as forças inimigas para longe da 3ª.
Qualquer que seja o modo de usar
a 101ª, o atraso na sua mobilização
é o melhor indicador de que subestimaram o inimigo no nível estratégico.
Falta de cálculo
A decisão de iniciar esse novo
estilo de campanha militar, abrindo mão de uma fase preparatória
de bombardeios, foi audaciosa. E
não tivesse o presidente Bush iniciado o confronto com o "ataque
de decapitação", o movimento repentino das forças terrestres através da fronteira talvez conseguisse
se converter em uma surpresa.
Presumivelmente, a expectativa
era que a resistência iraquiana iria
ruir de qualquer modo, como na
última vez. Mas há duas diferenças em relação a 1991.
A primeira é que, na Guerra do
Golfo, a coalizão estava libertando
o Kuait, não invadindo o território iraquiano. A outra variante é a
inevitabilidade da mudança de regime. Sem muita saída, os seguidores de Saddam acabam preferindo lutar contra o inimigo.
Se essa falta de cálculo resulta de
análises de inteligência incompletas ou se são uma manifestação da
estratégia de Rumsfeld é algo ainda obscuro e secundário. Até agora, o impacto da campanha é apenas o de atraso.
Mas, para parafrasear o grande
teórico militar Von Moltkem, "se
o inimigo tem apenas duas alternativas, ele optará pela terceira".
Jamie Lowther e Charlie McGrath são ex-oficiais britânicos que atuaram ao lado dos EUA na Guerra do Golfo e hoje são
consultores de segurança
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