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Assessor de Lula defende o populismo latino-americano
Para Marco Aurélio Garcia, fenômeno na região difere do chauvinismo populista europeu
Debate antecede cúpula de hoje no Chile que reúne líderes "progressistas" do continente e da Europa,
mas sem bolivarianos
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A VIÑA DEL MAR (CHILE)
Apesar da ausência de Hugo
Chávez, que não foi convidado,
o assessor internacional da
Presidência, Marco Aurélio
Garcia, fez enfática defesa do
populismo e do assistencialismo na América Latina durante
o seminário de ontem que antecedeu a 6ª Cúpula dos Líderes
Progressistas, hoje, em Viña del
Mar, no Chile, na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
será um dos oito presentes.
"O conceito de populismo
tem sido usado na América Latina para desqualificar experiências populares de grande
valor", disse Garcia, que citou
positivamente a Venezuela de
Chávez e considerou inadequado comparar o populismo da
região com o da Europa.
"O populismo europeu é
muito diferente [do latino-americano de hoje]. De maneira geral, [o europeu] é nacionalista, chauvinista e extremamente autoritário. Na América
Latina, o que é chamado de populismo nunca tem sido nacionalista. Pelo contrário, as experiências populistas são extremamente integracionistas, como a de Chávez", disse.
No seminário, que reuniu assessores, acadêmicos e políticos dos EUA, da Europa e da
América Latina, ele também
disse que "assistencialismo"
tem de deixar de ser uma "palavra maldita" no caso de países
com grandes desigualdades, como os latino-americanos.
Ele justificou a ausência de
Chávez e de outros presidentes
considerados de esquerda, como Evo Morales (Bolívia), dizendo que "há vários recortes
de progressismo" e lembrando:
"Nós não somos mais da Internacional Socialista, e às vezes
vamos, às vezes não, como no
Fórum de São Paulo" (iniciativa petista que reúne movimentos de esquerda do continente).
Ricos e pobres
Conforme a Folha apurou,
Lula fará hoje um discurso
muito parecido com o de Garcia ontem, recheado de autoelogios e ironizando o rigor fiscal "neoliberal".
Segundo Garcia, o Brasil investiu US$ 300 bilhões em infraestrutura, "teve uma política proativa, uma política muito
forte, não ficou preocupado
com cortes fiscais". E acrescentou que, "no caso brasileiro,
ajudou muito ter um sistema
financeiro sólido, sadio e com
forte participação estatal".
Houve, também, uma acusação direta ao protecionismo
dos EUA: "O governo norte-americano, que diz firmemente querer mudar a matriz energética, taxa a importação do
etanol e não a do petróleo".
No seminário de ontem, o
ministro para Assuntos Europeus da Holanda, Frans Timmermans, roubou a cena ao dizer que há "medo e insegurança" na Europa diante dos efeitos políticos da crise econômica. "A perspectiva de crescimento e de melhoria social gera generosidade. A crise e a insegurança provocam fechamento e conservadorismo.
Será que batemos no teto e
agora só iremos recuar?", disse
ele, sob aplausos.
Em campanha para a Presidência do Chile nas eleições de
dezembro, o ex-presidente
Eduardo Frei (1994-2000) fez
um contraponto: o estágio latino-americano é muito diferente e o risco não é de recuo, mas
de "interrupção" de um processo de desenvolvimento que
inclui as grandes massas.
Além de Lula e Michelle Bachelet (Chile), participarão da
cúpula hoje Cristina Kirchner
(Argentina), José Luiz Zapatero (Espanha), Tabaré Vázquez
(Uruguai), o vice-presidente
dos EUA, Joe Biden, e os premiês do Reino Unido, Gordon
Brown, e da Noruega, Jens
Stoltenberg.
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