São Paulo, sábado, 28 de março de 1998

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RÚSSIA
Presidente promete dissolver Câmara dos Deputados se a casa, dominada pela oposição, não aprovar Kirienko
Ieltsin confirma premiê e ameaça Duma

das agências internacionais

O presidente da Rússia, Boris Ieltsin, confirmou ontem Serguei Kirienko como primeiro-ministro ao apresentá-lo oficialmente à Câmara dos Deputados do país, a Duma, que havia se mostrado relutante em aceitar a nomeação.
O líder russo, porém, parece disposto a sacramentar o nome de Kirienko em um dos postos-chave do país -Ieltsin ameaça dissolver o órgão do Legislativo caso a nomeação seja rejeitada.
"Se vocês votarem uma vez, e depois outra e logo uma terceira, a isso vai se seguir a dissolução", disse Ieltsin em carta à Duma.
A Constituição russa permite que o presidente convoque eleições para deputados caso o órgão rejeite, por três vezes, o nome indicado para premiê.
No início desta semana, em um movimento inesperado, Ieltsin demitiu todo o seu gabinete, incluindo o então primeiro-ministro, Viktor Tchernomirdin.
Apontou para substituí-lo, inicialmente em caráter interino, Kirienko, 35, a quem incumbiu de formar o novo gabinete.
A Duma, dominada pela oposição comunista, manifestara seu desagrado com a nomeação. Ontem, porém, seu presidente, Guennadi Selezniov, disse que o órgão pode aprová-lo.
"Talvez possamos confirmar o nome na primeira votação", disse. A Duma tem, a contar de ontem, uma semana para se manifestar sobre Kirienko, que disse que designará o gabinete após ser aprovado pelos deputados.
Especialistas não esperam grandes mudanças no governo -as reformas na economia russa devem ser mantidas, bem como a equipe que as conduz.
Jogo perigoso
"O poder é sua ideologia, seu amigo, sua concubina, sua amante, sua paixão." A frase, que se refere ao presidente russo, é de um ex-porta-voz de Ieltsin, Viatcheslav Kostikov, e reflete como analistas e políticos vêem os últimos movimentos do líder da Rússia.
Segundo cientistas políticos, o papel cada vez mais proeminente do premiê Tchernomirdin, visto como sucessor natural de Ieltsin, desagradava ao presidente, cuja capacidade para dirigir uma das potências nucleares do mundo tem sido contestada devido a seus problemas de saúde e a suas reiteradas gafes diplomáticas.
"Ieltsin pode ser imprevisível, mas suas ações sempre se explicam por sua determinação em manter o poder", disse o analista político Pavel Felgengauger.
Kirienko, menos influente e menos experiente que Tchernomirdin, deve se curvar mais facilmente aos desígnios de Ieltsin.
As manobras do presidente, apesar de, ao menos aparentemente, bem sucedidas, trazem riscos.
"Este é um jogo muito perigoso. É um grande risco, porque não sabemos como as coisas vão acontecer a partir de agora", disse Grigori Iavlinski, líder da ala liberal do Parlamento, referindo-se à nomeação de um nome desconhecido como premiê.



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