São Paulo, sábado, 28 de março de 1998

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CRÍTICAS AFRICANAS
Presidente da África do Sul recomenda que Bill Clinton procure diálogo com Cuba, Líbia e Irã
Mandela repreende diplomacia dos EUA

das agências internacionais

O presidente da África do Sul, Nelson Mandela, criticou a diplomacia americana e afirmou que seu país não vai abandonar suas alianças com Cuba, Líbia e Irã, países que os EUA tentam isolar.
"Não devemos abandonar aqueles que nos ajudaram nas horas mais difíceis", afirmou ele. Os três países apoiaram a organização política liderada por Mandela, o Congresso Nacional Africano, durante a luta pelo fim do apartheid.
Mandela lembrou que o presidente de Cuba, Fidel Castro, foi o primeiro chefe de Estado que ele recebeu como presidente e referiu-se ao líder da Líbia, Muammar Gaddafi, como "irmão Gaddafi".
Mandela conseguiu usar a seu favor a admiração norte-americana pelo chamado "milagre" da África do Sul, o fato de a transição no país ter ocorrido sem violência.
Ele disse a Clinton que a melhor maneira de resolver as diferenças com seus inimigos é "sentar e falar de paz", como ele fez com os dirigentes brancos para negociar o fim do apartheid, o regime de segregação racial encerrado com sua ascensão à Presidência, em 1994.
"Não tenho dúvida de que o papel dos EUA de liderança mundial seria tremendamente ressaltado."
Os EUA adotam sanções econômicas contra Cuba, Líbia e Irã e pressionam outros países para que façam o mesmo. Clinton não respondeu às declarações de Mandela, feitas em entrevista coletiva.
Seu assessor para Segurança Nacional, Sandy Berger, disse que, assim como as da África do Sul, as relações dos EUA com os três países se baseiam em "princípios".
Mandela também criticou a proposta norte-americana de substituir a ajuda econômica dada aos países africanos pelo incremento do intercâmbio comercial.
"Este é um assunto sobre o qual temos sérias reservas. Para nós, isso não é aceitável", disse Mandela.
Está em debate no Congresso dos EUA um projeto que cria facilidades para a entrada de companhias norte-americanas na África.
Segundo Clinton, o projeto tem o potencial de gerar empregos e aumentar o acesso de companhias africanas à economia dos EUA. Para Mandela, a lei deixará as empresas africanas em desvantagem.
A defesa de um novo modelo de relacionamento com a África tem sido o principal mote da visita de 12 dias que Clinton faz ao continente. Ele já visitou Gana, Uganda e Ruanda. Depois da África do Sul, segue para Botsuana e Senegal.
Apesar das críticas, o clima entre os dois líderes permaneceu amistoso. Mandela disse que a visita de Clinton era "um dos momentos de maior orgulho" para a África do Sul e descreveu as relações com os EUA como fortes e amigáveis.
Clinton, por sua vez, disse que Mandela protagonizou "uma das histórias verdadeiramente heróicas do século 20". Após a entrevista, os dois seguiram para a ilha de Robben, onde Mandela passou 18 dos 27 anos em que esteve detido.



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