São Paulo, sábado, 28 de março de 1998

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QUEM DEVE SER ALEMÃO?
Parlamento rejeita projeto de lei que daria a nacionalidade alemã a filhos de imigrantes
Alemanha veta cidadania a imigrantes

das agências internacionais

A câmara baixa do Parlamento alemão, equivalente à Câmara dos Deputados no Brasil, rejeitou ontem uma moção que concedia a nacionalidade alemã a descendentes de imigrantes nascidos em solo alemão em terceira geração.
Há dez anos, os parlamentares vêm debatendo a possibilidade de modernizar a Lei da Cidadania, que foi criada por meio de uma decisão imperial em 1913.
Segundo a lei atual, a nacionalidade é dada pelo sangue, e não pelo local do nascimento. Ou seja, só filhos de alemães têm direito à nacionalidade alemã. Pessoas de origem estrangeira nascidas em solo alemão não têm esse direito, mesmo que seus pais, ou mesmo avós, vivam no país há vários anos.
A proposta rejeitada ontem estabelecia que os filhos de estrangeiros passariam a ter nacionalidade alemã desde que pelo menos um de seus pais fosse nascido no país.
A modificação havia sido proposta pela câmara alta do Parlamento, o equivalente ao Senado, integrada por representantes indicados pelos 16 governos estaduais e onde o Partido Social Democrata (SPD) tem maioria.
A votação de ontem quase rachou a coalizão de três partidos liderada pela União Democrata Cristã, do chanceler (premiê) Helmut Kohl, porque o Partido Liberal Democrata, minoritário na aliança, era favorável à mudança.
Mas, para evitar mais uma derrota de Kohl a poucos meses das eleições gerais de setembro próximo, os liberais decidiram apoiar o partido do chanceler, contrário à proposta.
Após intensa discussão, a proposta social-democrata foi derrotada por 338 votos contrários, 317 a favor e 3 abstenções.
Existem cerca de 7 milhões de estrangeiros na Alemanha, incluindo pessoas que foram trabalhar no país e suas famílias, refugiados políticos e habitantes do Leste Europeu que emigraram para o país com o fim do comunismo.
Durante os anos 50 e 60, época em que a Alemanha viveu um boom econômico, milhares de pessoas da Turquia, Iugoslávia, Itália e Grécia foram trabalhar no país, estimuladas pelo governo alemão e pela iniciativa privada.
Algumas décadas depois, seus descendentes ainda não tem nacionalidade e não podem votar, motivo de descontentamento.
Kohl, que está no poder desde 82, já anunciou que pretende disputar um quinto mandato em setembro, mas enfrenta queda de popularidade, devido principalmente à taxa de desemprego de cerca de 13%.
Para o eleitorado mais conservador, os imigrantes "roubam" empregos dos alemães.



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