São Paulo, domingo, 28 de abril de 2002

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"O mundo mudou", diz Fox ao justificar americanismo explícito

TIM WEINER
DO "THE NEW YORK TIMES",
NA CIDADE DO MÉXICO


Em 18 meses de mandato, o presidente Vicente Fox deu nova direção à política do México, caindo abertamente nos braços dos EUA.
A revolução mexicana já tem 92 anos, e Fox aposentou seus cavalos de guerra. O antiamericanismo de aparências, sustentado por sete décadas pelo antigo partido dominante, desapareceu. A bandeira da solidariedade latino-americana contra o imperialismo ianque foi enrolada.
Em seu lugar entrou a busca por livro comércio, investimento externo e agora, pela primeira vez, direitos humanos. As críticas incomuns do México ao seu velho amigo Fidel Castro nos últimos dias são os mais novos sinais de uma revolução cultural.
"O mundo mudou", disse Fox na quarta-feira. "Nós mudamos -de maneira radical, eu diria -a política externa mexicana." E o fez, acrescentou, "apesar de muita resistência".
A oposição de direita e esquerda pergunta agora o que Fox tem a mostrar aos mexicanos além de promessas agradáveis vindas do presidente dos EUA, George W. Bush. Seus críticos mais ferozes o acusam de transformar o México numa república das bananas do século 21, a serviço dos EUA.
"Não parece que ele esteja promovendo os interesses do México", disse Jorge Chávez Presa, um dos líderes no Congresso do ex-governista Partido Revolucionário Institucional (PRI). "Queremos cumprir um papel no mundo, mas não sei se isso significar aceitar ordens dos EUA."
Presidentes mexicanos do passado fingiam manter distância de seu vizinho ao norte. Aproximaram-se bem mais, porém, desde o início dos anos 80. Carlos Salinas passou a maior parte de seus seis anos no poder lutando pela aprovação, em 1994, do Nafta (Acordo de Livre Comércio da América do Norte) com os EUA. Em 1995, quando a economia do México ruiu, o presidente Ernesto Zedillo foi resgatado por Washington.
"Salinas ganhou o Nafta, Zedillo ganhou US$ 40 bilhões, mas Fox não ganhou nada do governo Bush", disse Arturo Valenzuela, assessor para assuntos de América Latina da administração Clinton.
Embora seja bem-visto pelos outros líderes latino-americanos e as pesquisas mostrem que a maioria dos mexicanos ainda o apóia, os cidadãos de alta escolaridade que ajudaram a elegê-lo reclamam que Fox tem ganhando pouco retorno em troca do grande investimento feito em políticas e práticas comerciais favoráveis aos americanos.
O chanceler mexicano, Jorge Castañeda, rebate as críticas afirmando: "Nossas pesquisas, pesquisas da oposição, todas elas mostram que a opinião pública do México apóia em massa a política externa do presidente Fox".


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