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ELEIÇÕES PARAGUAIAS
Candidato do Partido Colorado, no poder desde 1947, tinha 37,6% dos votos com 83% apurados
Nicanor Duarte vence e promete diálogo
ROGERIO WASSERMANN
ENVIADO ESPECIAL A ASSUNÇÃO
Nicanor Duarte Frutos, 46, foi
eleito ontem presidente do Paraguai, para um mandato de cinco
anos. Com 83% das urnas apuradas, Duarte tinha 37,6% dos votos, mais de 14 pontos percentuais
à frente do segundo colocado, Julio César "Yoyito" Franco.
Duarte Frutos, ex-jornalista e
ex-ministro da Educação, deve
assumir o cargo em 15 de agosto,
com o desafio de enfrentar a pior
crise econômica das últimas cinco
décadas e de tirar do Paraguai o título de país mais corrupto da
América Latina, segundo ranking
da organização não-governamental Transparência Internacional.
Sua vitória, porém, mantém no
poder o Partido Colorado, que
governa o país ininterruptamente
desde 1947 -incluindo o período
da ditadura do general Alfredo
Stroessner, de 1954 a 1989.
Segundo os dados da apuração
divulgados pelo Tribunal Eleitoral do Paraguai, Franco, 50, vice-presidente entre 2000 e 2002, tinha 23,4% dos votos, seguido, no
terceiro lugar, pelo ex-empresário
Pedro Fadul, 49, do movimento
independente Pátria Querida,
com 22,4%.
O senador Guillermo Sánchez
Guffanti, 60, da União Nacional
dos Cidadãos Éticos (Unace),
aparecia em quarto, com 12,9%
dos votos. Sánchez foi apoiado
pelo ex-general Lino Oviedo, condenado no Paraguai por uma tentativa de golpe em 1996 e acusado
pelo assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, em
1999, e exilado hoje no Brasil.
Em seu discurso logo após a divulgação da pesquisa, sem esperar o reconhecimento de sua vitória pelos adversários, Duarte Frutos pediu apoio aos derrotados
para governar e prometeu um
"diálogo pluripartidário".
O apelo é um reflexo da divisão
no Congresso prevista pelas pesquisas. O Partido Colorado não
deverá ter a maioria, e no lugar
dos três partidos que ganharam,
nas eleições passadas, representação na Câmara de Deputados e no
Senado, deverá haver, a partir de
agosto, seis ou sete agremiações
com representação.
Desafio
Apesar de pertencer a um grupo
político adversário, dentro do
Partido Colorado, do atual presidente, Luis González Macchi,
muitos analistas vêem como principal desafio do próximo presidente superar o sistema clientelista e corrupto que mantém a agremiação no poder há tanto tempo.
A máquina partidária colorada
é quase imbatível -a ponto de
Duarte ter dito, à Folha, que, se
uma garrafa d'água fosse candidata colorada à Presidência, seria
eleita. O partido conta, oficialmente, com 1,2 milhão de filiados,
num eleitorado de 2,4 milhões.
Além disso, há denúncias de pressões sobre militares e funcionários públicos para participar de
comícios do partido e votar em
seus candidatos -com suas famílias, esse contingente representaria 40% do eleitorado.
Além disso, o partido conta ainda com outro trunfo -o transporte de eleitores. Com a prática
disseminada de os partidos oferecerem ônibus para levar os eleitores às seções eleitorais -permitida pela legislação-, os colorados, que contam com a melhor estrutura partidária, levam vantagem sobre os demais.
"Nunca sofri pressões, mas
muitos dos meus colegas preferem votar no Partido Colorado
para manter a estabilidade e não
ameaçar seus empregos", disse à
Folha ontem o funcionário público Carlos Sánchez, 39, após votar
-"em branco"- no Colégio Nacional, em Assunção.
O movimento nas seções eleitorais da capital foi tranquilo durante todo o dia. Não se viam filas
ou manifestações. No Colégio Nacional, um eleitor que levava uma
bandeira do clube de futebol
Olimpia -atual campeão da Taça Libertadores da América-
gritava: "Esse é o único que nos dá
alegrias!"
A campanha eleitoral foi marcada pelo desânimo dos eleitores,
diante da falta de perspectivas de
mudanças. "Estamos muito mal,
não podemos continuar assim
por mais cinco anos", disse, ao
chegar para votar, o comerciante
Humberto Ismajovich, 35, eleitor
de Pedro Fadul. "O atual governo
é um desastre, com muita corrupção", afirmou.
Ainda assim, alguns eleitores do
candidato colorado disseram
acreditar na sua capacidade de
mudar o atual quadro. "A corrupção está em todos os lugares onde
está o ser humano, não é só no Paraguai", disse o administrador
Joel Baez, 39. "Acredito que Nicanor tem condições de combater
aos poucos a corrupção. Porque
qualquer doença tem que ser
combatida aos poucos, não dá para acabar com ela de uma vez",
afirmou.
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