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ONU põe crise alimentar em evidência
Agências do organismo mantêm encontro a partir de hoje para traçar planos para enfrentar a escalada nos preços dos alimentos
Secretário-geral calcula que 100 milhões engrossariam as filas dos famintos e reitera pedido de ajuda à comunidade internacional
MARCELO NINIO
DE GENEBRA
A cúpula das Nações Unidas
se reúne hoje e amanhã na capital suíça para colocar a crise
mundial dos alimentos no topo
de sua agenda. O objetivo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no encontro com os diretores das 27 agências da organização, é traçar um plano para
coordenar esforços para enfrentar a escalada nos preços
dos alimentos.
Na sexta-feira, Ban disse que
já há uma "crise global" causada pelos altos preços dos produtos agrícolas" e calculou que
100 milhões de pessoas engrossariam as fileiras de famintos
em todo o mundo. Ele reiterou
o pedido urgente feito à comunidade internacional pelo Programa Mundial de Alimentos
(PMA) de US$ 775 milhões adicionais para manter as missões
humanitárias em curso.
Outro plano de ação é incentivar a produção agrícola em
países em desenvolvimento,
sobretudo na África. Más condições reduzem dramaticamente a produção nos países
africanos, disse Jacques Diouf,
diretor-geral da FAO. "Não há
investimento na administração
da água. Na África, 96% da terra
depende da chuva". Alguns países perdem até 40% da produção em armazenamento inadequado, disse.
Há poucos dias a diretora-executiva do PMA, Josette
Sheeran, disse que o encarecimento dos alimentos está causando um "tsunami silencioso". Além de Sheeran e Diouf, a
reunião de Berna, a portas fechadas, terá a presença de Robert Zoellick, presidente do
Banco Mundial, Dominique
Strauss-Kahn, diretor do FMI
(Fundo Monetário Internacional), entre outros.
De acordo com a FAO, o custo da importação de grãos nos
países mais pobres terá um aumento de 56% neste ano, intensificando a escassez e a fome
para as populações de pelo menos 37 países. Mais distúrbios
são esperados, como os ocorridos em países como Egito, Camarões, Indonésia e Mauritânia. No Haiti a crise derrubou o
primeiro-ministro.
Os altos preços também
preocupam os ricos. Pela primeira vez em quase 30 anos o
tema fará parte do encontro
dos maiores países industrializados. Marcada para julho, no
Japão, a próxima cúpula do G8
(grupo das sete maiores economias, mais a Rússia), discutirá o
impacto social, político e econômico da disparada. Trata-se
de um "desafio global sério e
iminente", disse o premiê japonês, Yasuo Fukuda, em carta
enviada aos demais membros
do grupo.
"A ameaça de fome e desnutrição está crescendo, e os altos
preços também provocam inquietação social", disse Fukuda, acrescentando que os biocombustíveis estarão na pauta
da cúpula.
Maior importador de alimentos do mundo, o Japão é o
crítico mais veemente na OMC
(Organização Mundial do Comércio) das restrições que alguns países passaram a aplicar
em suas exportações, uma medida que está em estudo no
Brasil.
A ONU também condena as
barreiras à exportação de alimentos e condena os subsídios
agrícolas nos países ricos, mas
diz que a crise atual é complexa
demais para se apontar somente um culpado. Entre os motivos principais aponta os biocombustíveis feitos de grãos (o
que exclui o etanol brasileiro), a
alta do petróleo, os fenômenos
climáticos e o aumento da demanda em países emergentes,
principalmente Índia e China.
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