São Paulo, segunda-feira, 28 de abril de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ONU põe crise alimentar em evidência

Agências do organismo mantêm encontro a partir de hoje para traçar planos para enfrentar a escalada nos preços dos alimentos

Secretário-geral calcula que 100 milhões engrossariam as filas dos famintos e reitera pedido de ajuda à comunidade internacional


MARCELO NINIO
DE GENEBRA

A cúpula das Nações Unidas se reúne hoje e amanhã na capital suíça para colocar a crise mundial dos alimentos no topo de sua agenda. O objetivo do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, no encontro com os diretores das 27 agências da organização, é traçar um plano para coordenar esforços para enfrentar a escalada nos preços dos alimentos.
Na sexta-feira, Ban disse que já há uma "crise global" causada pelos altos preços dos produtos agrícolas" e calculou que 100 milhões de pessoas engrossariam as fileiras de famintos em todo o mundo. Ele reiterou o pedido urgente feito à comunidade internacional pelo Programa Mundial de Alimentos (PMA) de US$ 775 milhões adicionais para manter as missões humanitárias em curso.
Outro plano de ação é incentivar a produção agrícola em países em desenvolvimento, sobretudo na África. Más condições reduzem dramaticamente a produção nos países africanos, disse Jacques Diouf, diretor-geral da FAO. "Não há investimento na administração da água. Na África, 96% da terra depende da chuva". Alguns países perdem até 40% da produção em armazenamento inadequado, disse.
Há poucos dias a diretora-executiva do PMA, Josette Sheeran, disse que o encarecimento dos alimentos está causando um "tsunami silencioso". Além de Sheeran e Diouf, a reunião de Berna, a portas fechadas, terá a presença de Robert Zoellick, presidente do Banco Mundial, Dominique Strauss-Kahn, diretor do FMI (Fundo Monetário Internacional), entre outros.
De acordo com a FAO, o custo da importação de grãos nos países mais pobres terá um aumento de 56% neste ano, intensificando a escassez e a fome para as populações de pelo menos 37 países. Mais distúrbios são esperados, como os ocorridos em países como Egito, Camarões, Indonésia e Mauritânia. No Haiti a crise derrubou o primeiro-ministro.
Os altos preços também preocupam os ricos. Pela primeira vez em quase 30 anos o tema fará parte do encontro dos maiores países industrializados. Marcada para julho, no Japão, a próxima cúpula do G8 (grupo das sete maiores economias, mais a Rússia), discutirá o impacto social, político e econômico da disparada. Trata-se de um "desafio global sério e iminente", disse o premiê japonês, Yasuo Fukuda, em carta enviada aos demais membros do grupo.
"A ameaça de fome e desnutrição está crescendo, e os altos preços também provocam inquietação social", disse Fukuda, acrescentando que os biocombustíveis estarão na pauta da cúpula.
Maior importador de alimentos do mundo, o Japão é o crítico mais veemente na OMC (Organização Mundial do Comércio) das restrições que alguns países passaram a aplicar em suas exportações, uma medida que está em estudo no Brasil.
A ONU também condena as barreiras à exportação de alimentos e condena os subsídios agrícolas nos países ricos, mas diz que a crise atual é complexa demais para se apontar somente um culpado. Entre os motivos principais aponta os biocombustíveis feitos de grãos (o que exclui o etanol brasileiro), a alta do petróleo, os fenômenos climáticos e o aumento da demanda em países emergentes, principalmente Índia e China.


Texto Anterior: Haiti: Alto funcionário do BID é nomeado premiê
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.