São Paulo, quarta, 28 de maio de 1997.



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AMÉRICA
País de analfabetos

GILBERTO DIMENSTEIN

Você colocaria um laptop de R$ 2.000 na mão de uma criança de 11 anos obrigada a andar em ruas infestadas de marginais?
Experiência realizada este ano no Harlem, em Nova York, resolveu apostar contra o que parece óbvio. A escola pública Mott Hall distribuiu laptops para que os alunos trabalhassem em sala de aula e, depois, fizessem lições em casa.
Conectados à Internet, recebem ajuda on-line, comunicam-se com professores e compartilham dúvidas com colegas.
Virou um dos mais charmosos e instigantes projetos comunitários envolvendo tecnologia de ponta. Isso porque saiu da sala de aula.

Os pais são instruídos a usar o laptop, transformado em parceiro do aprendizado de seus filhos.
Os professores logo constataram o aumento de produtividade dos estudantes. Mas o sucesso da experiência pode ser medido por um fato: nenhum computador foi perdido ou roubado.
Reconhecendo o valor da experiência, os pais servem de guarda-costas para seus filhos, evitando que andem sozinhos nas ruas com o computador.

Não é um fato isolado. Batizado de "Aprendendo em qualquer lugar a qualquer hora", o projeto-piloto envolve 51 escolas nos EUA, treinando pais e professores.
É daquelas idéias que só funcionam em parceria. A Microsoft reduz o preço de seus programas e dá aporte educacional; a Toshiba faz um abatimento no preço da máquina; as escolas dividem o resto da conta com os pais, que compram o computador a prestação.

Este ano o projeto será ampliado, beneficiando mais mil alunos só no Harlem. O plano é, no futuro, que cada aluno americano tenha um laptop assim como tem um estojo -uma perspectiva que, obviamente, enche de água a boca das empresas.
O fator mais relevante dessa experiência, no entanto, é uma redefinição das habilidades para o trabalhador do futuro. Ninguém mais duvida de que analfabeto hoje é quem não tem capacidade de manusear as redes de informação eletrônicas.
Por esse critério, somos uma nação de analfabetos digitais, e é este o desafio que precisamos enfrentar se quisermos ter chance na guerra internacional pelo emprego.

PS - Um relato mais detalhado sobre a experiência dos laptops comunitários está disponível por e-mail, em português.


Gilberto Dimenstein escreve às quartas-feiras e aos domingos
Fax: (001-212) 873-1045
E-mail: gdimen@aol.com




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