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IRAQUE OCUPADO
Secretário da Defesa dos EUA admite que acusação usada para justificar guerra pode ser improcedente
Iraque teria destruído armas, diz Rumsfeld
DA REDAÇÃO
Pela primeira vez desde que os
EUA iniciaram sua campanha
contra o Iraque, o secretário da
Defesa americano, Donald Rumsfeld, admitiu que o país pode ter
destruído suas supostas armas
químicas e biológicas antes do
confronto -como exigia a ONU.
A suposta manutenção do programa de armas de destruição em
massa pelo Iraque, violando resoluções do Conselho de Segurança
(CS) da ONU, foi a justificativa da
coalizão anglo-americana para invadir o país, em 20 de março.
Apesar de exaustivas buscas antes, durante e após o conflito, as
armas nunca foram encontradas.
Até agora, a coalizão só achou dois trailers-laboratórios que teriam sido usados na manipulação de armas biológicas -mas ambos estavam vazios.
Em resposta ao insucesso das
buscas, Rumsfeld declarou ontem
ao Council on Foreign Relations,
de Nova York, que não sabia porque o Iraque não havia usado armas químicas contra a coalizão.
A hipótese inicialmente cogitada pelo secretário era a de que o
avanço americano teria sido tão
rápido -da invasão à derrubada
do ditador Saddam Hussein passaram-se menos de três semanas-, que inviabilizou seu uso.
"Mas é possível que eles tenham
decidido destruí-las antes do conflito", disse Rumsfeld, acrescentando que as buscas seguirão.
Insistência
Neste mês, o governo americano decidiu trocar a equipe de busca por armas não-convencionais,
enviando ao Iraque um time
maior e mais especializado em inteligência e investigação.
A medida foi tomada diante da
dificuldade dos EUA e do Reino
Unido em provar as alegações feitas antes da guerra sobre as supostas armas iraquianas. Ainda
que sustentem as acusações, os
governos de George W. Bush e
Tony Blair já levantaram dúvidas
sobre sua precisão.
Na semana passada, o jornal
"The New York Times" publicou
uma reportagem em que afirmava que a CIA (serviço secreto dos
EUA) estaria revisando os relatórios de inteligência sobre as armas
iraquianas. Segundo o "Times", a
revisão dos relatórios teria sido
proposta pelo próprio Rumsfeld
em outubro -cinco meses antes
da guerra- e mantida em sigilo.
Também antes do confronto, algumas das "provas" mais alardeadas pela coalizão tiveram sua veracidade questionada. Supostos
documentos e fotos exibidos ao
CS em fevereiro pelo secretário de
Estado dos EUA, Colin Powell,
nunca tiveram sua autenticidade
provada. Um suposto contrato de
compra de urânio enriquecido
(material nuclear) entre o Iraque
e Níger, também exibido pelo secretário, mostrou-se uma falsificação grosseira. Por sua vez, o governo britânico foi obrigado a se
retratar após exibir como "prova"
do envolvimento do Iraque com o
terrorismo um trabalho escolar
do início dos anos 90.
Ainda em abril, o chefe de inspeção de armas da ONU, Hans
Blix, pôs em xeque a autenticidade das provas usadas pela coalizão para justificar a guerra e questionou se as autoridades anglo-americanas desconheceriam a inconsistência das evidências.
A equipe de Blix esteve no Iraque por quase quatro meses antes
da guerra, mas não encontrou
provas de que o país mantivesse
armas que usara, por exemplo, no
extermínio de curdos, em 1988.
Os relatórios de Blix serviram de
base para a oposição à guerra
dentro da ONU.
Com agências internacionais
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