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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Secretário da Defesa dos EUA admite que acusação usada para justificar guerra pode ser improcedente

Iraque teria destruído armas, diz Rumsfeld

DA REDAÇÃO

Pela primeira vez desde que os EUA iniciaram sua campanha contra o Iraque, o secretário da Defesa americano, Donald Rumsfeld, admitiu que o país pode ter destruído suas supostas armas químicas e biológicas antes do confronto -como exigia a ONU.
A suposta manutenção do programa de armas de destruição em massa pelo Iraque, violando resoluções do Conselho de Segurança (CS) da ONU, foi a justificativa da coalizão anglo-americana para invadir o país, em 20 de março. Apesar de exaustivas buscas antes, durante e após o conflito, as armas nunca foram encontradas. Até agora, a coalizão só achou dois trailers-laboratórios que teriam sido usados na manipulação de armas biológicas -mas ambos estavam vazios.
Em resposta ao insucesso das buscas, Rumsfeld declarou ontem ao Council on Foreign Relations, de Nova York, que não sabia porque o Iraque não havia usado armas químicas contra a coalizão.
A hipótese inicialmente cogitada pelo secretário era a de que o avanço americano teria sido tão rápido -da invasão à derrubada do ditador Saddam Hussein passaram-se menos de três semanas-, que inviabilizou seu uso.
"Mas é possível que eles tenham decidido destruí-las antes do conflito", disse Rumsfeld, acrescentando que as buscas seguirão.

Insistência
Neste mês, o governo americano decidiu trocar a equipe de busca por armas não-convencionais, enviando ao Iraque um time maior e mais especializado em inteligência e investigação.
A medida foi tomada diante da dificuldade dos EUA e do Reino Unido em provar as alegações feitas antes da guerra sobre as supostas armas iraquianas. Ainda que sustentem as acusações, os governos de George W. Bush e Tony Blair já levantaram dúvidas sobre sua precisão.
Na semana passada, o jornal "The New York Times" publicou uma reportagem em que afirmava que a CIA (serviço secreto dos EUA) estaria revisando os relatórios de inteligência sobre as armas iraquianas. Segundo o "Times", a revisão dos relatórios teria sido proposta pelo próprio Rumsfeld em outubro -cinco meses antes da guerra- e mantida em sigilo.
Também antes do confronto, algumas das "provas" mais alardeadas pela coalizão tiveram sua veracidade questionada. Supostos documentos e fotos exibidos ao CS em fevereiro pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, nunca tiveram sua autenticidade provada. Um suposto contrato de compra de urânio enriquecido (material nuclear) entre o Iraque e Níger, também exibido pelo secretário, mostrou-se uma falsificação grosseira. Por sua vez, o governo britânico foi obrigado a se retratar após exibir como "prova" do envolvimento do Iraque com o terrorismo um trabalho escolar do início dos anos 90.
Ainda em abril, o chefe de inspeção de armas da ONU, Hans Blix, pôs em xeque a autenticidade das provas usadas pela coalizão para justificar a guerra e questionou se as autoridades anglo-americanas desconheceriam a inconsistência das evidências.
A equipe de Blix esteve no Iraque por quase quatro meses antes da guerra, mas não encontrou provas de que o país mantivesse armas que usara, por exemplo, no extermínio de curdos, em 1988. Os relatórios de Blix serviram de base para a oposição à guerra dentro da ONU.


Com agências internacionais


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