São Paulo, sábado, 28 de maio de 2005

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GUERRA SEM LIMITES

Apuração militar cita cinco casos de vilipêndio em Guantánamo, mas não confirma livro lançado à latrina

Alcorão foi mesmo profanado, dizem EUA

PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK

Uma investigação militar dos EUA confirmou relatos de incidentes com o Alcorão na base militar de Guantánamo, em Cuba, mas não encontrou prova de que o livro sagrado dos muçulmanos tenha sido jogado numa privada.
Relatos de que isso teria acontecido, publicados pela revista "Newsweek" no início deste mês, desencadearam uma onda de protestos no Afeganistão e em outros países islâmicos que deixou ao menos 17 mortos. A revista depois foi obrigada a se retratar, porque a pessoa ouvida pelos repórteres recuou no que dissera.
A investigação, iniciada após a publicação do texto, encontrou cinco casos em que o Alcorão foi tratado de forma inadequada em Guantánamo. Em três, a ofensa foi proposital, e nos outros dois aparentemente sem intenção. Os militares não detalharam o teor de cada caso de desrespeito.
De acordo com militares americanos, dois funcionários de Guantánamo foram punidos, um deles recentemente. No entanto o general que anunciou o resultado da investigação, Jay W. Hood, disse que em nenhum dos cinco casos o objetivo havia sido intimidar ou desmoralizar prisioneiros.
Os maus-tratos a detentos em prisões dos EUA se tornaram uma das piores manchas da história recente do país. Após o escândalo de Abu Ghraib, no Iraque, não param de surgir relatos de humilhações, torturas e mortes de prisioneiros. Mais de cem pessoas já morreram sob custódia americana, mas ninguém do alto escalão foi condenado. Nas últimas semanas, ocorreram as primeiras condenações de militares envolvidos diretamente nos abusos em Abu Ghraib, que ficou célebre pelas fotos de prisioneiros nus, amontoados e encoleirados que vazaram na imprensa.
Nessa última investigação sobre modos equivocados de lidar com o livro sagrado do islã, "não foi encontrada nenhuma evidência crível de que um funcionário da [prisão] na baía de Guantánamo tenha jogado um Alcorão na privada", disse o general Hood.
Os investigadores ouviram um detento que tinha sido citado numa investigação do FBI (polícia federal dos EUA) como tendo visto um exemplar do Alcorão ser jogado na privada durante um interrogatório em 2002, mas ele não confirmou a história. Agora, disse que apenas ouviu guardas falando que alguém havia feito isso.
Uma investigação mais ampla sobre maus-tratos em Guantánamo, em Cuba, vai prosseguir pelas próximas semanas e pode ser o mais crítico relato das atrocidades cometidas na base militar americana até agora.


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