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GUERRA SEM LIMITES
Apuração militar cita cinco casos de vilipêndio em Guantánamo, mas não confirma livro lançado à latrina
Alcorão foi mesmo profanado, dizem EUA
PEDRO DIAS LEITE
DE NOVA YORK
Uma investigação militar dos
EUA confirmou relatos de incidentes com o Alcorão na base militar de Guantánamo, em Cuba,
mas não encontrou prova de que
o livro sagrado dos muçulmanos
tenha sido jogado numa privada.
Relatos de que isso teria acontecido, publicados pela revista
"Newsweek" no início deste mês,
desencadearam uma onda de
protestos no Afeganistão e em outros países islâmicos que deixou
ao menos 17 mortos. A revista depois foi obrigada a se retratar,
porque a pessoa ouvida pelos repórteres recuou no que dissera.
A investigação, iniciada após a
publicação do texto, encontrou
cinco casos em que o Alcorão foi
tratado de forma inadequada em
Guantánamo. Em três, a ofensa
foi proposital, e nos outros dois
aparentemente sem intenção. Os
militares não detalharam o teor
de cada caso de desrespeito.
De acordo com militares americanos, dois funcionários de
Guantánamo foram punidos, um
deles recentemente. No entanto o
general que anunciou o resultado
da investigação, Jay W. Hood, disse que em nenhum dos cinco casos o objetivo havia sido intimidar ou desmoralizar prisioneiros.
Os maus-tratos a detentos em
prisões dos EUA se tornaram
uma das piores manchas da história recente do país. Após o escândalo de Abu Ghraib, no Iraque,
não param de surgir relatos de
humilhações, torturas e mortes de
prisioneiros. Mais de cem pessoas
já morreram sob custódia americana, mas ninguém do alto escalão foi condenado. Nas últimas
semanas, ocorreram as primeiras
condenações de militares envolvidos diretamente nos abusos em
Abu Ghraib, que ficou célebre pelas fotos de prisioneiros nus,
amontoados e encoleirados que
vazaram na imprensa.
Nessa última investigação sobre
modos equivocados de lidar com
o livro sagrado do islã, "não foi
encontrada nenhuma evidência
crível de que um funcionário da
[prisão] na baía de Guantánamo
tenha jogado um Alcorão na privada", disse o general Hood.
Os investigadores ouviram um
detento que tinha sido citado numa investigação do FBI (polícia
federal dos EUA) como tendo visto um exemplar do Alcorão ser jogado na privada durante um interrogatório em 2002, mas ele não
confirmou a história. Agora, disse
que apenas ouviu guardas falando
que alguém havia feito isso.
Uma investigação mais ampla
sobre maus-tratos em Guantánamo, em Cuba, vai prosseguir pelas
próximas semanas e pode ser o
mais crítico relato das atrocidades
cometidas na base militar americana até agora.
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