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ARTIGO
O melhor é fechar de uma vez
THOMAS L. FRIEDMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM LONDRES
Melhor fechar. Simplesmente
fechar. Estou falando sobre o
campo de prisioneiros da guerra
contra o terrorismo, na baía de
Guantánamo. Melhor fechá-lo,
demolir tudo que existe por lá.
Tornou-se mais que um embaraço. Estou convencido de que
mais americanos estão morrendo
e morrerão se mantivermos a prisão aberta do que se a fecharmos.
Assim, por favor, sr. presidente,
simplesmente feche o campo.
Se vocês querem avaliar até que
ponto Guantánamo se tornou
corrosiva para a imagem dos EUA
no exterior, basta voar a Londres,
ou procurar na internet e ler a imprensa britânica. Vejam o que os
nossos aliados mais próximos
têm a dizer sobre Guantánamo.
Quando concluírem sua leitura,
leiam a imprensa australiana, a
canadense e a alemã.
Todas veiculam variações sobre
o tema proposto em reportagem
publicada em 8 de maio pelo "Observer", de Londres, que principia
afirmando que "um soldado americano revelou novos e chocantes
detalhes de abusos e torturas sexuais contra prisioneiros na baía
de Guantánamo, na primeira denúncia importante a emergir daquela base que funciona sob o
mais estrito sigilo".
Façam busca no Google com os
termos "Guantánamo Bay" e
"Austrália", e encontrarão uma
reportagem da rádio ABC australiana: "Surgiram novas alegações
de que prisioneiros em Guantánamo estão sendo torturados por
seus captores americanos, e há informações de que os australianos
David Hicks e Mamdouh Habib
estão entre as vítimas".
Por que devemos nos incomodar? Porque quero vencer a guerra contra o terrorismo. Agora se
tornou óbvio, com base nas informações do jornal para o qual trabalho e outros, que os maus-tratos em Guantánamo e no sistema
de detenção militar dos EUA como um todo, fugiram de controle.
Como é que mais de cem detentos morreram sob custódia dos
EUA, até agora? Ataques cardíacos? Isso é profundamente imoral
e estrategicamente perigoso.
Há anos afirmo que Israel precisa retirar suas tropas da Cisjordânia e de Gaza e criar uma muralha
nas fronteiras, o mais rapidamente possível. Não porque os palestinos estejam certos, e Israel, errado. Mas porque Israel vive cercado por três grandes tendências. A
primeira é a grande explosão populacional que vem acontecendo
em todo o mundo árabe. A segunda é a explosão do pior tipo de
violência interpessoal entre palestinos e israelenses nas décadas de
história do conflito, recentemente
atenuada por cessar-fogo. E a terceira é a ascensão explosiva de
veículos multimídia em idioma
árabe, da internet à Al Jazeera.
O que estava acontecendo em
torno de Israel era que a explosão
multimídia árabe distribuía as
imagens da explosão da Intifada e
as difundia em meio à explosão
populacional árabe, firmando nas
mentes de uma nova geração de
árabes e muçulmanos que seus
inimigos são os "JIA" -judeus,
Israel e americanos.
Acredito que as histórias que
vêm emergindo sobre Guantánamo exerçam efeito tóxico semelhante no que tange aos EUA, inflamando os sentimentos contra
os americanos em todo o mundo
e oferecendo energia para o recrutamento, via internet, de todos
aqueles que desejam o nosso mal.
Husain Haqqani, um ponderado estudioso paquistanês que leciona na Universidade de Boston,
disse-me que, "quando pessoas
como eu afirmam que os valores
americanos devem ser emulados
e que os EUA são um bastião da liberdade, nos respondem com
Guantánamo. Quando falamos
sobre os EUA de Jefferson e Hamilton, as pessoas em nossos países nos dizem que não é esse o
país com que lidam, mas com os
EUA da prisão sem julgamento".
A baía de Guantánamo está se
tornando a anti-Estátua da Liberdade. Se temos motivos para processar os cerca de 500 detentos
que continuam presos em Guantánamo, então é mais do que hora
de colocá-los em julgamento,
condenar o maior número possível deles (o que não será fácil devido aos erros cometidos nos interrogatórios) e simplesmente permitir que os demais retornem aos
seus lares, ou a um terceiro país.
Claro, pode ser que alguns deles
voltem para nos assombrar. Mas
pelo menos não poderão tirar
vantagem de Guantánamo como
um estímulo ao recrutamento,
para alistar milhares de novos militantes. Eu preferiria ter alguns
vilões à solta pelo mundo a toda
uma nova geração deles.
Tradução de Paulo Migliacci
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