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PIADA PRONTA
Presidente é "risível", dizem roteiristas de um dos principais programas satíricos franceses
Para humoristas, Chirac facilita trabalho
DO ENVIADO ESPECIAL A PARIS
O presidente da França, Jacques Chirac, e o premiê Jean-Pierre Raffarin são os principais
alvos do programa satírico "Les
Guignols de l'Info" (os bonecos
da informação), da rede privada
Canal Plus, desde o início da
campanha para o plebiscito sobre a adoção da Constituição da
União Européia, há três meses.
"A atuação dos dois é tão risível que facilita nosso trabalho.
Para dividir a esquerda, Chirac
convocou o plebiscito, pois as
pesquisas apontavam uma folgada vitória do "sim". Pouco
tempo depois, porém, o "não" subiu mais de dez pontos percentuais, e ele continuou com seu
estilo altivo, impassível. Ora, a
casa pega fogo, e o presidente
finge que nada está acontecendo", afirmou à Folha Julien Hervé, 31, um dos roteiristas do programa de marionetes gigantes,
grande sucesso na França.
Além dele, fazem parte da
equipe de roteiristas Lionel Dutemple, 36, Ahmed Hamidi, 34, e
Bruno Gaccio, 47. Todos são responsáveis pelos diálogos do programa há mais de cinco anos.
"Depois, Chirac entrou de vez
na campanha, e as coisas continuaram a piorar para o "sim", do
qual ele é o maior cabo eleitoral.
Houve, então, seu programa
com os jovens, no qual ele foi
muito mal. E Raffarin está tão
desgastado que é fácil fazer piadas", acrescentou Dutemple.
Ironicamente, todos os roteiristas são favoráveis à adoção da
Constituição da UE pela França.
Questionados sobre a possibilidade de seus textos favorecerem
o campo do "não" ao ridicularizar o presidente e o premiê, ambos disseram não serem responsáveis pela agenda política.
"Talvez tenhamos alguma influência sobre nossa audiência,
mas não somos nós que forçamos os líderes políticos a tomar
atitudes irrisórias. Só fazemos
exagerar as coisas para torná-las
mais engraçadas. É o velho dilema do ovo e da galinha. Mas, no
nosso caso, nossas idéias não
nascem antes das bobagens dos
políticos", explicou Hervé.
Os quatro roteiristas também
são os autores do "Supermentiroso", marionete criada em 2002
durante a campanha para a eleição para presidente. O personagem era Chirac vestido em trajes
de Super-Homem, contando
mentiras ao eleitorado.
"Não deixamos o fato de falarmos a 3,5 milhões de pessoas subir à cabeça. Só queremos nos
divertir e expor as gafes ou as inverdades dos políticos. Além
disso, eles não são nossos únicos
personagens", disse Dutemple.
De fato, Ronaldo Fenômeno,
Ronaldinho Gaúcho, Silvester
Stallone, que representa sempre
"o americano médio", e o papa
já fizeram parte de seu programa. Recentemente, aliás, eles tiveram problemas com grupos
católicos porque uma de suas
marionetes chamou Bento 16 de
Adolfo 2º, referência à passagem
de Joseph Ratzinger pela Juventude Hitlerista.
(MSM)
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