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TROCA DE LÍNGUA
Dialeto oficial da China, passa a ser usado também em Hong Kong a partir de segunda-feira
Funcionários públicos tentam aprender
mandarim, o chinês do novo governo
STEVE CRAWSHAW
do "The Independent", em Hong Kong
Um grupo de 15 funcionários públicos ocupa uma sala de aula no
17º andar de um edifício de escritórios em Hong Kong, em um dos
muitos cursos de chinês mandarim que estão sendo organizados
por toda parte em Hong Kong. Eles
riem da dificuldade que encontram para ler as frases em voz alta.
Praticamente todas as empresas
montaram cursos para seus funcionários. A partir da meia-noite
da segunda-feira, Hong Kong fará
parte da China, e os chineses esperam que seus habitantes saibam falar a língua do governo. Qualquer
funcionário público que só conheça o cantonês, o chinês falado em
Hong Kong, corre o risco de não
ser promovido nos próximos
anos, ou até de perder o emprego.
Nas palavras de um estudante de
mandarim em Hong Kong, "as
pessoas que vêm de Pequim não
querem aprender cantonês. Então,
são as pessoas daqui que têm de
aprender o 'putonghoa' (mandarim)". Existem precedentes, é claro. Como observou um funcionário: "Antes, falávamos inglês. É
normal que agora esperem que falemos mandarim".
Os chineses de Pequim querem
que os cidadãos de Hong Kong falem a língua dos novos governantes. O conceito de "putonghua"
(língua comum) foi introduzido
neste século, com o fim de criar
uma unidade linguística na China.
Pequim já deixou claro seu desagrado com o fato de que o nível de
conhecimento de mandarim é baixo em Hong Kong.
Resultado: um aumento inusitado no número de cursos de mandarim. Há dez anos, apenas algumas centenas de funcionários públicos estudavam. Em 1992 esse
número já havia triplicado, chegando a mil. Hoje, são mais de
7.000.
O cantonês às vezes é descrito como um dialeto chinês. Na realidade, embora os caracteres escritos
em Hong Kong e na China continental sejam aproximadamente
idênticos, a diferença entre as duas
línguas faladas é mais do que uma
simples questão de pronúncia. Os
funcionários afirmam que existem
bons motivos para se falar mandarim, mas reconhecem que o principal é a necessidade de se comunicar com os representantes da China continental.
Apesar dos problemas políticos,
muitos nativos de Hong Kong estão felizes em aprender a nova língua. Sim Kam-wah, um policial
que estuda mandarim, explica que
aprender o "putonghua" não é como aprender uma língua estrangeira: "Hong Kong faz parte da
China, e a língua nacional é o 'putonghua'. É natural que tenhamos
que aprendê-la".
Steven Shum, do Departamento
de Engenharia Civil, está feliz em
saber que poderá se comunicar
com seus compatriotas. "Tenho
vergonha do fato de que os chineses não possam se comunicar entre
si. Antes, nós não falávamos o 'putonghua', e Hong Kong era excluída."
A idéia generalizada em Hong
Kong é que, apesar da promessa
chinesa de respeitar o preceito de
"um país, dois sistemas", Hong
Kong irá pouco a pouco ser moldada no formato da China continental. Mas esse processo pode se
dar nos dois sentidos. Um funcionário público observou que os chineses do continente enviados a seu
departamento raramente são autorizados a permanecer em Hong
Kong por muito tempo. "Pequim
não quer que sejam contaminados
pelo vírus da democracia", disse
ele. Se isso acontecer, as autoridades comunistas de Pequim talvez
sintam saudades da barreira linguística que hoje procuram derrubar.
Tradução de Clara Allain
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