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DITADURA
Marcados para morrer recebiam disco vermelho
Ex-militar confirma na TV chilena assassinatos no Estádio Nacional
LARISSA PURVINNI
DA REDAÇÃO
Um ex-integrante do Exército
chileno confirmou publicamente,
sem esconder sua identidade, e na
TV, o assassinato de dissidentes
políticos no Estádio Nacional,
usado como campo de prisioneiros na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
As declarações do ex-suboficial
do Exército chileno Roberto Saldías foram feitas à TV estatal chilena domingo. Ele afirmou estar
disposto a identificar os responsáveis pelas ordens de atirar.
Saldías afirmou que os prisioneiros eram organizados em grupos identificados com discos
amarelos, pretos e vermelhos.
"Qualquer um que recebesse um
disco vermelho não tinha volta."
Segundo ele, os marcados com
o símbolo foram mortos ou "desaparecidos" por equipes especiais. Ele disse que muitos dos envolvidos recebiam dinheiro.
"Houve oficiais de nível médio
que tomaram a justiça em suas
próprias mãos e não se dispuseram a se identificar. Eu poderia
dizer quem são", afirmou.
De acordo com relatório oficial
sobre as vítimas da ditadura,
3.000 foram mortos, sendo que
mil ainda estão desaparecidos.
As declarações de Saldías são
vistas como um sinal das mudanças vividas pelo país em relação
ao regime militar, sobretudo após
a detenção do ex-ditador Pinochet no ano passado em Londres,
a pedido da Justiça espanhola,
que queria sua extradição por crimes contra os direitos humanos.
Liberado pela Justiça britânica
devido à sua frágil saúde, de volta
ao Chile em março, Pinochet, 84,
teve sua imunidade parlamentar
cassada e poderá ser julgado.
As Forças Armadas, comandadas por Pinochet até 98, já admitem que seus homens violaram os
direitos humanos. Na semana
passada, os militares concordaram em fornecer, em um prazo de
seis meses, informações que podem ajudar a localizar os restos
mortais dos desaparecidos.
"Os militares da reserva apoiaram a decisão. Isso quer dizer que
os membros das Forças Armadas
têm a pressão de seus pares. Agora, o correto é cooperar. Antes,
era ficar calado. Essas novas declarações poderiam revelar essa
mudança de espírito", disse à Folha José Zalaquett, 58, advogado
de direitos humanos, que participou do diálogo com os militares.
Segundo ele, o acordo representou o reconhecimento, por parte
dos militares, de que houve graves violações dos direitos humanos durante a ditadura. "Todo
mundo sabia disso, mas as Forças
Armadas nunca haviam reconhecido formalmente", diz.
Na última quarta-feira, o Congresso chileno aprovou, com ampla maioria, legislação que garante aos militares o "sigilo profissional". Eles poderão depor sem ter a
sua identidade revelada. A decisão gerou protestos de familiares
das vítimas, que temem que os
responsáveis fiquem impunes.
Os assassinatos no estádio eram
conhecidos por meio de relatos de
sobreviventes e de depoimentos
reservados. Nos anos 70, um torturador que atuou no local forneceu informações à Igreja Católica
e foi morto pouco tempo depois.
Com agências internacionais
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