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COLÔMBIA
Ameaçado de morte pelas Farc, Mockus diz que "pode valer a pena" reduzir liberdades em troca do combate à guerrilha
Prefeito de Bogotá admite limite a direitos
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
Ameaçado de morte pelas Farc se não renunciasse ao cargo até a
meia-noite de anteontem, o prefeito de Bogotá, Antanas Mockus,
admite a possibilidade de o Estado restringir liberdades individuais para combater a guerrilha.
Ele não crê, entretanto, na decretação de um estado de exceção.
Mockus, 50, disse levar a sério a
ameaça lançada pelo maior grupo
armado da Colômbia e está condicionando suas atividades a uma
análise caso a caso. Para ele, os alvos mais vulneráveis são os prefeitos de cidades pequenas em regiões distantes. Leia os principais
trechos da entrevista, concedida à
Folha por telefone de Bogotá.
Folha - O sr. recebeu uma ameaça
direta das Farc?
Mockus - Houve uma ameaça genérica, divulgada em um meio de
comunicação, aos prefeitos de cidades em torno de Bogotá e da capital. Depois, em entrevistas a
meios internacionais, inclusive à
CNN, estabeleceu-se um prazo
para todos os prefeitos do país renunciarem. É um jogo de cena
com grande apelo midiático no
qual todos nós, em maior ou menor grau, estamos caindo.
Folha - O sr. está levando a ameaça a sério?
Mockus - É preciso levar a sério
porque as Farc estão com uma
orientação claramente militarista,
muito destrutiva. O fato é que somos cerca de 1.100 prefeitos e de
12 a 14 têm morrido a cada ano. As
Farc se cansaram de matar prefeitos sem barulho, agora ameaçam
a mim e a prefeitos de cidades
grandes para ganhar publicidade.
Mas é possível que, neste ano, menos prefeitos morram porque haverá mais vigilância internacional
e mais custos. É possível que haja
um "pequeno final feliz".
Folha - O sr. é conhecido por ser
um prefeito próximo à população.
Isso vai mudar agora?
Mockus - É preciso avaliar as circunstâncias. Sinto-me seguro entre as pessoas, mas compreendo
que pode haver um risco numa
aglomeração de cem ou 200. O
que incomoda é a forma desafiadora e cínica pela qual se assume
publicamente e mundialmente
uma atitude bárbara como essa.
Folha - O sr. é favorável a medidas de exceção?
Mockus - Não há, no momento,
possibilidade de decretação de
um estado de sítio clássico, pois a
nossa Constituição prevê um repertório relativamente pequeno
de medidas excepcionais, como
aumentar impostos para os gastos
militares ou restringir a liberdade
de imprensa.
A Colômbia viveu 30 anos de estado de sítio quase permanente e
há um consenso nacional -no
momento um pouco matizado
pelo desespero- de que não queremos mais isso. Tenho esperança
de que acharemos os mecanismos
dentro da ordem vigente e, se for
necessário, que sejam feitas mudanças pontuais e pequenas.
Folha - O sr. acha que haverá uma
maior militarização do país?
Mockus - Será necessário incrementar os gastos militares porque
as Farc e os grupos armados o estão exigindo. Sobre o marco institucional, acho que, se alguém demonstrar de maneira convincente
que restringir algumas liberdades
de forma transitória poderá contribuir para o restabelecimento a
médio prazo das liberdades de
forma mais ampla, pode valer a
pena. Mas é preciso avaliar com
muito cuidado qual restrição produz qual efeito. Não creio que se
trate de silenciar os críticos do regime. A sociedade se acostumou a
um debate público cada vez mais aberto. Não se propôs censura no
sentido de proibir a divulgação das ameaças terroristas.
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