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BATALHA LEGAL
Cidades norte-americanas entram na Justiça para receber de volta gastos com danos provocados por armamentos
EUA processam fabricantes de armas
RENATO FRANZINI
de Nova York
Estimuladas pelos resultados
conseguidos pelos Estados nas
ações contra a indústria do cigarro, grandes cidades norte-americanas iniciaram uma cruzada legal
contra os fabricantes de armas.
O objetivo delas é receber de volta o dinheiro que gastam em hospitais, polícia, bombeiros e outros
serviços públicos devido a danos
provocados por armas de fogo ou
conseguir impor restrições à venda e propaganda dos produtos.
Segundo a Conferência dos Prefeitos dos EUA, já são 21 cidades
com processos separados contra a
indústria de armas depois que a
primeira ação foi iniciada em novembro do ano passado, por Nova
Orleans (Louisiana). A expectativa
é que até o final de setembro mais
20 cidades se juntem a essas.
Até agora, quase todos os indivíduos que entraram com ações contra fabricantes de armas perderam,
pois os juízes consideraram que os
culpados eram os criminosos.
Por isso as ações dos prefeitos estão baseadas no conceito de "public nuisance" (perturbação pública) -o mesmo que foi usado contra a indústria do cigarro. As cidades tentam provar que toda a população paga pelos danos provocados pelo uso de um produto.
No caso do cigarro, em 20 de novembro do ano passado, 46 dos 50
Estados aceitaram uma oferta para
acabar com a ação contra a indústria tabagista e se comprometer a
não entrar com outras.
O acordo estabelece o pagamento de uma indenização de US$ 206
bilhões durante 25 anos por gastos
no sistema de saúde pública no tratamento de pessoas com doenças
causadas pelo fumo.
Os Estados iniciaram suas ações
em 1994, por isso as cidades também não esperam que sua situação
se resolva rapidamente.
"O principal é conseguir elaborar
uma ação em que o fabricante seja
considerado culpado, exatamente
como no caso da indústria do cigarro", afirmou o prefeito de Chicago, Richard Delay.
Cada ação usa um argumento diferente para tentar provar a culpa
dos fabricantes.
Los Angeles, San Francisco e outras seis cidades da Califórnia dizem que os fabricantes deixam de
colocar dispositivos de segurança
nas armas que, por exemplo, impediriam seu uso por crianças.
Outras cidades se concentram
em provar que os fabricantes inundam intencionalmente mercados
onde é mais fácil comprar armas
porque sabem que essas armas vão
parar nas mãos de criminosos.
É o caso de Chicago, que pede indenização de US$ 433 milhões.
Durante três meses, policiais da cidade, disfarçados, compraram armas de modo ilegal em lojas de
municípios próximos. Chicago baniu a venda de armas em 1982.
"Em um caso, nosso agente disse
que precisava comprar uma arma
para se vingar da polícia, que havia
atirado nele. E conseguiu comprá-la", disse Jenniffer Hoyle, relações-públicas do Departamento de Justiça de Chicago.
Ela disse que os fabricantes sabem que é fácil obter armas nesses
locais e fornecem mais armas do
que os habitantes dessas cidades
poderiam comprar.
Para basear a denúncia, a ação de
Chicago lembra o caso de um fabricante que diz que sua arma é resistente a impressões digitais.
"Que tipo de comprador quer uma
arma resistente a impressões digitais a não ser um criminoso?", diz
Hoyle.
Outro dado usado por todas as
cidades é uma pesquisa do Escritório de Álcool, Tabaco e Armas de
Fogo, do governo federal.
Uma pesquisa mostrou que quase 40% das armas usadas em crimes foram compradas em vendedores legais de 94 a 97. Isso mostraria a negligência da indústria na
comercialização do produto.
A principal lei federal que regula
o comércio de armas é a Lei Brady,
aprovada em 1994. Ela exige que o
comerciante cheque os antecedentes criminais do comprador antes
de vender a arma.
O grande "buraco" dessa lei é a
questão dos "gun shows" ("feiras
de armas"), muito comuns nos
EUA. Nelas, a checagem não é necessária. Na semana passada, a Câmara dos Representantes (deputados) rejeitou uma lei que estabelecia essa checagem.
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