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Jackson vê "esperança
contra a mentira"
DO ENVIADO ESPECIAL A BOSTON
O reverendo americano Jesse
Jackson, 62, afirma que o virtual
candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, é a "antítese" do presidente George W.
Bush, cuja "ideologia do medo"
está levando o país à direita.
Em entrevista à Folha, o ativista
diz que, num país dividido, a
prioridade democrata será perseguir os eleitores de centro e os
americanos alheios à política.
Carismático e popular, o ex-senador foi o primeiro negro americano a tentar seriamente a candidatura democrata à Casa Branca,
em 1983 e 1987. Em 1968, ele estava ao lado de Martin Luther King
quando o maior líder negro dos
EUA foi assassinado.
Em 2002, Jackson esteve no Brasil para participar de comícios do
então candidato Luiz Inácio Lula
da Silva. Questionado sobre a
evolução do Brasil, afirmou: "É
um beco de saída muita estreita".
Leia sua entrevista.
(FC)
Folha - Levando em conta as más
notícias que Bush teve nos últimos
meses, o sr. não acha que Kerry poderia estar melhor nas pesquisas?
Jesse Jackson - Isso é especulação. Bush polarizou este país com
uma ideologia que vem empurrando cada vez mais o eleitor para
a direita, com um discurso sobre
o medo e ameaças.
Creio que a partir desta semana
Kerry venha a ter a oportunidade
de se mostrar pela primeira vez
com mais força como a antítese
do que Bush vem representando.
Será uma mensagem de esperança contra o cinismo e a mentira.
O que ocorreu no Iraque, os resultados da comissão do 11 de Setembro e o fraco desempenho na
área do emprego têm evidenciado
negativamente Bush. Kerry vai se
aproveitar desta fase a partir de
agora. Tenho certeza disso.
Folha - Mas, a cada eleição parlamentar e estadual, o país se torna
cada vez mais republicano, não?
Jackson - Isso até pode ser verdade. Mas o Partido Democrata
tem procurado atingir a parcela
do eleitorado que está no centro e
os eleitores alheios à política.
Creio que Kerry terá uma boa
penetração nesse novo eleitorado
e no centro. Ele é um progressista
que tem ao mesmo tempo um
passado muito forte. É um sujeito
que lutou em uma guerra comandando um barco no rio Mekong.
Sua participação no Vietnã não
foi cerimonial. Seu histórico no
Senado apoiando questões de justiça social também é muito claro.
Folha - Como defensor de causas
sociais, o sr. acredita que Kerry poderá, se eleito, representar as minorias nos EUA?
Jackson - Sim. Você deve saber
que a mulher de John Kerry, Teresa [Heinz], é ela própria uma afro-americana nascida em Moçambique. Kerry tem uma forte noção
de que existe uma comunidade
internacional lá fora, coisa que
Bush insiste em não considerar.
Folha - O sr. esteve no Brasil em
2002 e apoiou Lula. Como o sr. vê
os resultados do governo até aqui?
Jackson - Passei um período sensacional no Brasil. Nunca vi uma
revolução democrática como a
que aconteceu no Brasil na última
eleição. O brasileiro quer e merece
uma democracia que seja mais
justa. Creio que o passado operário de Lula revele uma sensibilidade em relação aos mais pobres.
Folha - Essa não é uma expectativa romântica?
Jackson - Você não pode resolver todos os problemas sociais da
noite para o dia. É um beco de saída muito estreita.
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