São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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Jackson vê "esperança contra a mentira"

DO ENVIADO ESPECIAL A BOSTON

O reverendo americano Jesse Jackson, 62, afirma que o virtual candidato democrata à Presidência dos EUA, John Kerry, é a "antítese" do presidente George W. Bush, cuja "ideologia do medo" está levando o país à direita.
Em entrevista à Folha, o ativista diz que, num país dividido, a prioridade democrata será perseguir os eleitores de centro e os americanos alheios à política.
Carismático e popular, o ex-senador foi o primeiro negro americano a tentar seriamente a candidatura democrata à Casa Branca, em 1983 e 1987. Em 1968, ele estava ao lado de Martin Luther King quando o maior líder negro dos EUA foi assassinado.
Em 2002, Jackson esteve no Brasil para participar de comícios do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. Questionado sobre a evolução do Brasil, afirmou: "É um beco de saída muita estreita". Leia sua entrevista. (FC)
 

Folha - Levando em conta as más notícias que Bush teve nos últimos meses, o sr. não acha que Kerry poderia estar melhor nas pesquisas?
Jesse Jackson -
Isso é especulação. Bush polarizou este país com uma ideologia que vem empurrando cada vez mais o eleitor para a direita, com um discurso sobre o medo e ameaças.
Creio que a partir desta semana Kerry venha a ter a oportunidade de se mostrar pela primeira vez com mais força como a antítese do que Bush vem representando. Será uma mensagem de esperança contra o cinismo e a mentira.
O que ocorreu no Iraque, os resultados da comissão do 11 de Setembro e o fraco desempenho na área do emprego têm evidenciado negativamente Bush. Kerry vai se aproveitar desta fase a partir de agora. Tenho certeza disso.

Folha - Mas, a cada eleição parlamentar e estadual, o país se torna cada vez mais republicano, não?
Jackson -
Isso até pode ser verdade. Mas o Partido Democrata tem procurado atingir a parcela do eleitorado que está no centro e os eleitores alheios à política.
Creio que Kerry terá uma boa penetração nesse novo eleitorado e no centro. Ele é um progressista que tem ao mesmo tempo um passado muito forte. É um sujeito que lutou em uma guerra comandando um barco no rio Mekong. Sua participação no Vietnã não foi cerimonial. Seu histórico no Senado apoiando questões de justiça social também é muito claro.

Folha - Como defensor de causas sociais, o sr. acredita que Kerry poderá, se eleito, representar as minorias nos EUA?
Jackson -
Sim. Você deve saber que a mulher de John Kerry, Teresa [Heinz], é ela própria uma afro-americana nascida em Moçambique. Kerry tem uma forte noção de que existe uma comunidade internacional lá fora, coisa que Bush insiste em não considerar.

Folha - O sr. esteve no Brasil em 2002 e apoiou Lula. Como o sr. vê os resultados do governo até aqui?
Jackson -
Passei um período sensacional no Brasil. Nunca vi uma revolução democrática como a que aconteceu no Brasil na última eleição. O brasileiro quer e merece uma democracia que seja mais justa. Creio que o passado operário de Lula revele uma sensibilidade em relação aos mais pobres.

Folha - Essa não é uma expectativa romântica?
Jackson
- Você não pode resolver todos os problemas sociais da noite para o dia. É um beco de saída muito estreita.


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