São Paulo, quarta-feira, 28 de julho de 2004

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COMENTÁRIO

Candidato agrada à Europa e preocupa a direita

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Se eleito, o democrata John Kerry deverá alterar o modo como a política externa americana é aplicada, privilegiando o multilateralismo e as boas relações com os aliados tradicionais dos EUA, sobretudo na Europa, de acordo com analistas ouvidos pela Folha.
Essa análise agrada aos líderes europeus e mundiais em geral, porém preocupa boa parte da direita americana. Esta crê que os EUA possam ficar mais vulneráveis a atentados porque Kerry tende a ser menos firme na guerra ao terrorismo que o presidente George W. Bush (republicano).
"Kerry será mais conciliador e multilateralista. Afinal, vem criticando o modo como Bush conduz a política externa americana", avaliou Ivo Daalder, ex-membro do Conselho de Segurança Nacional dos EUA (1995-96, comandado pelo democrata Bill Clinton).
"Todavia é crucial ressaltar que ele continuará a defender os interesses dos EUA, o que significa que não haverá uma mudança radical de conteúdo. Ademais, tudo indica que o Congresso permanecerá nas mãos dos republicanos, que não permitirão mudanças essenciais na política externa, principalmente no que tange ao Iraque e à guerra ao terror."
Para Eric Fassin, da Escola Normal Superior (Paris), é "a hegemonia no século 21 que está em jogo hoje" na cena internacional. Com isso, os "líderes europeus considerarão bem-vinda uma mudança de atitude em Washington, mesmo que ela não venha acompanhada de alterações vitais na política externa dos EUA".
"Clinton tinha como premissa a defesa dos interesses americanos. Todos os presidentes devem agir assim. Mas a maneira como isso é feito tem forte influência sobre as relações internacionais", disse.
"Bush afastou-se de alguns aliados tradicionais, como a França e a Alemanha, para pôr em prática uma tese discutível, segundo a qual guerras preventivas evitam graves problemas futuros. Kerry, por sua vez, tende a priorizar as relações com a Europa. Além disso, o unilateralismo tem-se mostrado impopular, visto que seus custos financeiro e humano são muito altos", acrescentou Fassin.
"Os líderes europeus sentem muita saudade de Clinton. Podemos, portanto, concluir que uma mudança de estilo na aplicação da política externa dos EUA será bem recebida pela Europa."
Contudo, para Trent England, analista de política legal da Fundação Heritage, um dos mais conceituados centros de estudos conservadores dos EUA, "a América de Kerry será menos segura que a de Bush caso venha a existir".
"Bush merece outro mandato porque sua resposta ao 11 de Setembro foi correta tanto interna quanto externamente. A intenção de Kerry de privilegiar o multilateralismo deverá deixar a América mais vulnerável a ataques. Os republicanos concordam com a atitude de Bush porque sabem que ele só trabalhará com nossos aliados quando puder e que os interesses dos EUA têm de ser prioritários", explicou England.


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