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COMENTÁRIO
Candidato agrada à Europa e preocupa a direita
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Se eleito, o democrata John
Kerry deverá alterar o modo como a política externa americana é
aplicada, privilegiando o multilateralismo e as boas relações com
os aliados tradicionais dos EUA,
sobretudo na Europa, de acordo
com analistas ouvidos pela Folha.
Essa análise agrada aos líderes
europeus e mundiais em geral,
porém preocupa boa parte da direita americana. Esta crê que os
EUA possam ficar mais vulneráveis a atentados porque Kerry
tende a ser menos firme na guerra
ao terrorismo que o presidente
George W. Bush (republicano).
"Kerry será mais conciliador e
multilateralista. Afinal, vem criticando o modo como Bush conduz a política externa americana",
avaliou Ivo Daalder, ex-membro
do Conselho de Segurança Nacional dos EUA (1995-96, comandado pelo democrata Bill Clinton).
"Todavia é crucial ressaltar que
ele continuará a defender os interesses dos EUA, o que significa
que não haverá uma mudança radical de conteúdo. Ademais, tudo
indica que o Congresso permanecerá nas mãos dos republicanos,
que não permitirão mudanças essenciais na política externa, principalmente no que tange ao Iraque e à guerra ao terror."
Para Eric Fassin, da Escola Normal Superior (Paris), é "a hegemonia no século 21 que está em
jogo hoje" na cena internacional.
Com isso, os "líderes europeus
considerarão bem-vinda uma
mudança de atitude em Washington, mesmo que ela não venha
acompanhada de alterações vitais
na política externa dos EUA".
"Clinton tinha como premissa a
defesa dos interesses americanos.
Todos os presidentes devem agir
assim. Mas a maneira como isso é
feito tem forte influência sobre as
relações internacionais", disse.
"Bush afastou-se de alguns aliados tradicionais, como a França e
a Alemanha, para pôr em prática
uma tese discutível, segundo a
qual guerras preventivas evitam
graves problemas futuros. Kerry,
por sua vez, tende a priorizar as
relações com a Europa. Além disso, o unilateralismo tem-se mostrado impopular, visto que seus
custos financeiro e humano são
muito altos", acrescentou Fassin.
"Os líderes europeus sentem
muita saudade de Clinton. Podemos, portanto, concluir que uma
mudança de estilo na aplicação da
política externa dos EUA será
bem recebida pela Europa."
Contudo, para Trent England,
analista de política legal da Fundação Heritage, um dos mais conceituados centros de estudos conservadores dos EUA, "a América
de Kerry será menos segura que a
de Bush caso venha a existir".
"Bush merece outro mandato
porque sua resposta ao 11 de Setembro foi correta tanto interna
quanto externamente. A intenção
de Kerry de privilegiar o multilateralismo deverá deixar a América mais vulnerável a ataques. Os
republicanos concordam com a
atitude de Bush porque sabem
que ele só trabalhará com nossos
aliados quando puder e que os interesses dos EUA têm de ser prioritários", explicou England.
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