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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Brasileira fica três dias no porão com 5 filhos
Lefteris Pitarakis/Associated Press
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Família libanesa se refugia em porão de escola em Bazouriyeh, no sul do país |
Mulaya Kourami Ohmani sobreviveu a bombardeios em vilarejo arrasado
Na quarta leva que trouxe 410 brasileiros de volta do Líbano, também estava a família de Dib Barakat, morto sob ataque no dia 19
RAUL JUSTE LORES
DA REPORTAGEM LOCAL
Três dias em um porão, com
os 5 filhos, de 2, 5, 7, 10 e 12 anos
de idade. A pão e água, ao som
dos bombardeios. A brasileira
Mulaya Kourami Ohami viveu
o maior pesadelo de sua vida,
enquanto passava férias de verão com a família no vilarejo de
Yater, fronteira com Israel, e
vizinha de Bent Jbeil, um dos
bastiões do Hizbollah.
Mulaya e seus filhos chegaram ontem a São Paulo, no grupo de 410 brasileiros - 35 deles, crianças de colo -, que fugiram do Líbano, trazidos em
dois aviões, um da Força Aérea
Brasileira, que partiu da Turquia, o outro em vôo da TAM a
partir de Damasco.
O vilarejo onde Mulaya estava foi completamente arrasado
pelos ataques israelenses. "Saía
de casa, via os F-16 sobrevoando a vila e ficava com mais medo. Como fugir com todas as
crianças assim?", ela falou à Folha, no aeroporto de Cumbica,
enquanto era abraçada pelo irmão e pela mãe.
Ela havia levado os filhos para aproveitar as férias de verão
no clima mais ameno das montanhas, enquanto seu marido
ficou em Beirute, onde trabalha
em um canal de televisão.
Com medo de voltar para
Beirute sob bombas, ela se refugiou no porão da casa. Os
mercadinhos de Yater também
foram destruídos. Sem conseguir comprar mais alimentos,
nem sair de casa, os seis passaram três dias a pão e água.
Até que um vizinho a avisou
de que Yater estava deserta.
Todos os habitantes haviam fugido e ela corria muito risco, ao
estar na fronteira com Israel.
"Ou morríamos no porão ou
poderíamos morrer no caminho. Mas tive fé em Deus e decidi no tudo ou nada", recorda.
Depois de ir para outra cidade,
e ficar em um abrigo provisório
por alguns dias, ela conseguiu
um táxi (US$ 300, a corrida)
para levá-los a Beirute.
O marido, libanês, ficou lá.
Mulaya ainda não sabe quando
eles vão se reencontrar. Agora
ela fica na casa dos pais, libaneses que moram em Itapevi, na
Grande São Paulo, onde a família tem uma loja de calçados.
Morte na despedida
A estudante Nacima, 15, estava de férias no Líbano com sua
mãe, Mohad Barakat na pequena cidade de Loussi, onde 80%
dos habitantes viveram ou nasceram no Brasil. Ambas estavam hospedadas na casa do tio
de Nacima, o fabricante de móveis Dib Barakat.
No último dia 19, na manhã
em que deixariam Loussi rumo
à Síria, um bombardeio matou
Dib, quando ele abria a fábrica.
Ele foi enterrado apenas duas
horas depois, e Nacima e Mohad partiram rumo à Síria.
Nacima e Mohad haviam
chegado no dia 4 ao Líbano.
"Na primeira semana, vivemos
dias maravilhosos. Mas, nos 16
dias seguintes ficávamos dentro de casa, assustadas".
Ajuda brasileira
O governo brasileiro anunciou que enviará 10 kits de "farmácia básica" para Líbano e Síria. Cada um contém 21 tipos de
remédios e pode atender até
9.000 pessoas.
O embaixador Éverton Vieira, chefe do grupo de assistência a brasileiros no Líbano do
Itamaraty, afirmou ontem que
muitos brasileiros na região do
conflito se resistem a largar tudo e voltar para o Brasil.
"Vários brasileiros que moram no Líbano abriram pequenos negócios, custa muito deixar tudo para trás", afirmou.
Colaborou CLAUDIA DIANNI ,da Sucursal de Brasília
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