São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

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ARTIGO

De Havana para Washingnton

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A idéia de algum diálogo entre Cuba e Estados Unidos parece embutida na cabeça de Raúl Castro, quem sabe com uns poucos novos fios de esperança. As propostas já somam três, uma agora e duas anteriores, talvez calçadas num precedente importante -a recente visita a Cuba de dez parlamentares americanos, tida como "rara incursão". Juntaram-se nessa empreitada democratas e republicanos, e alguns decidiram romper o silêncio manifestando-se favoráveis a um "abrandamento" das sanções impostas a Cuba no começo dos anos 60.
A nova proposta de diálogo -feita anteontem em discurso do mandatário que ocupa interinamente o posto de Fidel Castro- tem um diferencial. Não foi feita ao governo George W. Bush, mas ao que sucedê-lo. Um especialista em relações interamericanas diz que os atuais ocupantes da Casa Branca e do Departamento de Estado "não entendem nada do que está se passando na América Latina, e a falta de entendimento produz desinteresse".
A ausência de iniciativas é prova disso. A expectativa é a de que o futuro presidente americano, sobretudo se for democrata, comporte-se de modo "mais compreensivo, mais negociador".
Andrés Oppenheimer, em sua coluna no "Miami Herald", falou de possíveis impactos da Guerra do Iraque na política externa dos Estados Unidos, inclusive em relação a Cuba. Envolta numa tragédia, diante de uma "síndrome iraquiana", a Casa Branca se tornaria mais humilde, disposta a conversar, um super-poder afinal convertido ao multilateralismo.
Poderia haver movimentos "gradativos" de distanciamento da velha política de pressionar Cuba com sanções para que haja uma mudança de regime. Um recuo a algo menos ambicioso como objetivo. Reforma do regime, por exemplo.
Numa reunião do Council on Foreign Relations, entidade de ponta no "establishment" diplomático americano, foram lembrados dois erros graves dos Estados Unidos no Iraque: a destruição do Exército iraquiano e do partido Baath, de Saddam Hussein, instituições-chave que mantinham a integridade do país invadido.

Conselho
O conselho implícito é de que os Estados Unidos não cometam "os mesmos erros" em Cuba, onde também só há duas instituições, o Exército e o Partido Comunista. Terão de lidar com eles em qualquer iniciativa futura. O Exército, por exemplo, estendeu sua influência muito além do campo militar.
Generais são ministros do Interior e do Açúcar e procurador-geral. Militares treinados no exterior em escolas de condução de negócios estão à frente de cerca de 300 empresas com o controle de 80% das exportações de mercadorias e de parcelas consideráveis dos ganhos em turismo e serviços.
Um general, vice-ministro da Defesa, dirige o Grupo de Administração Federal, "holding" do Exército. Controla lugares turísticos, como o Cubanacan, uma cadeia de casas de câmbio, a aviação civil, a Marinha mercante e empresas de pesca.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de assuntos internacionais


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