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ARTIGO
De Havana para Washingnton
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A idéia de algum diálogo entre Cuba e Estados Unidos parece embutida na cabeça de
Raúl Castro, quem sabe com
uns poucos novos fios de esperança. As propostas já somam
três, uma agora e duas anteriores, talvez calçadas num precedente importante -a recente
visita a Cuba de dez parlamentares americanos, tida como
"rara incursão". Juntaram-se
nessa empreitada democratas e
republicanos, e alguns decidiram romper o silêncio manifestando-se favoráveis a um
"abrandamento" das sanções
impostas a Cuba no começo
dos anos 60.
A nova proposta de diálogo
-feita anteontem em discurso
do mandatário que ocupa interinamente o posto de Fidel
Castro- tem um diferencial.
Não foi feita ao governo George
W. Bush, mas ao que sucedê-lo.
Um especialista em relações interamericanas diz que os atuais
ocupantes da Casa Branca e do
Departamento de Estado "não
entendem nada do que está se
passando na América Latina, e
a falta de entendimento produz
desinteresse".
A ausência de iniciativas é
prova disso. A expectativa é a de
que o futuro presidente americano, sobretudo se for democrata, comporte-se de modo
"mais compreensivo, mais negociador".
Andrés Oppenheimer, em
sua coluna no "Miami Herald",
falou de possíveis impactos da
Guerra do Iraque na política
externa dos Estados Unidos,
inclusive em relação a Cuba.
Envolta numa tragédia, diante
de uma "síndrome iraquiana", a
Casa Branca se tornaria mais
humilde, disposta a conversar,
um super-poder afinal convertido ao multilateralismo.
Poderia haver movimentos
"gradativos" de distanciamento da velha política de pressionar Cuba com sanções para que
haja uma mudança de regime.
Um recuo a algo menos ambicioso como objetivo. Reforma
do regime, por exemplo.
Numa reunião do Council on
Foreign Relations, entidade de
ponta no "establishment" diplomático americano, foram
lembrados dois erros graves
dos Estados Unidos no Iraque:
a destruição do Exército iraquiano e do partido Baath, de
Saddam Hussein, instituições-chave que mantinham a integridade do país invadido.
Conselho
O conselho implícito é de que
os Estados Unidos não cometam "os mesmos erros" em Cuba, onde também só há duas
instituições, o Exército e o Partido Comunista. Terão de lidar
com eles em qualquer iniciativa
futura. O Exército, por exemplo, estendeu sua influência
muito além do campo militar.
Generais são ministros do
Interior e do Açúcar e procurador-geral. Militares treinados
no exterior em escolas de condução de negócios estão à frente de cerca de 300 empresas
com o controle de 80% das exportações de mercadorias e de
parcelas consideráveis dos ganhos em turismo e serviços.
Um general, vice-ministro da
Defesa, dirige o Grupo de Administração Federal, "holding"
do Exército. Controla lugares
turísticos, como o Cubanacan,
uma cadeia de casas de câmbio,
a aviação civil, a Marinha mercante e empresas de pesca.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de assuntos internacionais
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