São Paulo, sábado, 28 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Secretário de Bush é acusado de mentir

Depoimento de Alberto Gonzales, titular da Justiça, sobre programa de escutas ilegais foi contradito por chefe do FBI

Casa Branca defende o secretário; novo escândalo piora cenário para último ano de Bush, cujo apoio e popularidade se esvaem

DA REDAÇÃO

O Partido Democrata, que faz oposição ao governo de George W. Bush e têm maioria no Congresso dos EUA, aproveitou ontem mais um flanco fraco da administração do republicano para atacar. A investida consistiu no pedido, feito por parlamentares democratas ao procurador-geral dos EUA, Paul Clement, para que apure se o secretário da Justiça de Bush, Alberto Gonzales, cometeu perjúrio (mentiu) ao depor ao Senado nesta semana.
Gonzales, que já está sendo sabatinado acerca de possível motivação política na demissão de oito procuradores federais seus subordinados, em 2006, declarou à Comissão de Justiça do Senado que uma reunião da qual participou, em 2004, não tratava do programa de escutas telefônicas ilegais que o governo levou a cabo alegando a necessidade de investigar eventuais atividades terroristas.
O que motivou o pedido da apuração sobre perjúrio foi um outro depoimento dado a respeito daquela reunião, à qual Gonzales esteve presente como assessor jurídico da Casa Branca mas que contou também com outros membros do staff de Bush, além de parlamentares e do então secretário da Justiça, John Ashcroft.
Nesse outro depoimento, também à Comissão de Justiça do Senado, o diretor do FBI, Robert Mueller 3º, contradisse Gonzales, afirmando ter "entendido que a reunião" de 2004 era sobre as escutas.
O governo saiu ontem em defesa de Gonzales, afirmando que tudo se trata de uma "cruzada" dos democratas contra o secretário -alusão às crescentes tensões entre Executivo e Legislativo. Tony Snow, porta-voz da Casa Branca, afirmou que Gonzales não deu informações erradas em seu depoimento e que, por motivos de segurança nacional, não seria possível esclarecer mais o caso por ora. "Ele testemunhou dizendo a verdade e tentou ser bem preciso", disse Snow.
Mas o presidente da Comissão de Justiça, o senador democrata Patrick Leahy, protestou, evocando o escândalo de Watergate, em 1972: "Nunca, desde os dias mais obscuros do governo [Richard] Nixon, vimos esforços assim para descumprir a legislação federal a fim de obter ganhos partidários e tamanhos esforços para evitar a responsabilidade".

Procuradores
Antes de ser acusado de perjúrio em depoimento sobre a criação do programa ilegal de escutas de Bush, Gonzales já era bombardeado pela oposição em virtude da demissão dos procuradores em 2006.
O secretário da Justiça é suspeito de os haver demitido por sua atuação ser considerada prejudicial ao Partido Republicano. As acusações ganharam corpo quando se descobriu que, em janeiro de 2005, logo após Bush se reeleger presidente, um assessor de Gonzales fez uma lista classificando todos os 93 procuradores federais conforme sua afinidade partidária.
O secretário da Justiça admitiu que "pode ter havido falhas no" processo de dispensa dos oito procuradores, mas negou improbidade na dispensa.
Parlamentares democratas têm insistido que tanto ele como Karl Rove -principal estrategista político de Bush, também suspeito de envolvimento no caso- deponham sob juramento. Mas o presidente tem lançado mão de uma prerrogativa legal que impede a sabatina dos dois sob juramento.


Com agências internacionais e
"The New York Times"


Texto Anterior: Estados Unidos: Helicópteros batem durante perseguição
Próximo Texto: Ataque suicida mata 13 no Paquistão
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.