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Aliado americano se vê acuado às vésperas de eleições
CLARA FAGUNDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Principal aliado dos Estados
Unidos no Sudeste Asiático em
sua guerra contra o terrorismo,
o ditador do Paquistão, Pervez
Musharraf, encontrou-se ontem com o líder do oposicionista PPP (Partido do Povo Paquistanês), numa tentativa de
romper o isolamento do governo. Enfrentando oposição dos
partidos laicos e da aliança de
islâmicos moderados Muttehida Majlis-e-Amal, o general
atravessa a pior crise de seus oito anos de governo.
Para o cientista político Rasul Rais, chefe do departamento de Ciências Sociais da Universidade de Lahore, a aproximação com o PPP, acusado de
corrupção pelo governo, é um
desgaste político para Musharraf. A tentativa de estabelecer
uma base de apoio pode, porém, ser fundamental para que
ele chegue até o fim do mandato, em dezembro.
A reeleição parece menos
provável do que nunca. Caso
consiga vencer obstáculos legais à sua candidatura, objeto
de análise na Suprema Corte, o
ditador terá dificuldades no
pleito, previsto para outubro.
"Musharraf fez muito inimigos.
Perdeu apoio de sua base, moderada, e quebrou acordos de
paz com os líderes tribais do
norte", diz Rais.
Com o retorno do presidente
da Suprema Corte, Iftikhar
Chaudhry, ganha novo fôlego a
ação do juiz questionando a legitimidade de acumular a chefia militar e civil do país, proibida pela constituição antes do
golpe. Ainda que seja candidato, Musharraf provavelmente
terá que deixar o uniforme.
Sangue
A perda de popularidade entre os moderados se soma ao
recrudescimento dos atentados terroristas no país. Insurgentes iniciaram uma série de
ataques em resposta ao massacre de radicais islâmicos entrincheirados na Mesquita Vermelha de Islamabad, no início
do mês. Muitos dos mortos
eram jovens estudantes de madrassas (escolas islâmicas).
Se, antes da tomada da mesquita, Musharraf sofria críticas
pela incapacidade de controlar
os rebeldes, o derramamento
de sangue no local foi criticado
no país mesmo pelos moderados. Mais de 96% dos paquistaneses são muçulmanos e, desde
sua criação, com a separação da
Índia, em 1947, a República Islâmica do Paquistão busca a
unidade por meio da religião.
"É inegável que temos mais
em comum com a Índia que
com a Arábia Saudita. Nem precisávamos ser outro país", diz o
engenheiro Umayr Hassan, 23,
muçulmano não-praticante.
A opinião de Hassan é rara
entre seus compatriotas. A situação entre Índia e Paquistão
é tensa, com conflitos freqüentes ao longo do século 20.
O cientista político Rasul
Rais diz que uma transição democrática no governo pode
acelerar um pouco o estreitamento das relações Índia-Paquistão, sobretudo em caso de
um governo de maioria laica.
Tendo a ascensão política baseada em sua atuação no conflito da Caxemira, o general Musharraf sempre sofreu restrições
entre os indianos.
Rais acredita que uma eventual mudança de governo pode
trazer impactos internos, mas
não representará mudanças
significativas na política externa do país.
"Nas circunstâncias atuais,
nenhum partido tem condições
de obter maioria e a base do
próximo governo deve ser compostas por alianças", diz. Nem o
Muttehida Majlis-e-Amal nem
os partidos laicos demonstram
intensão de romper relações
com os norte-americanos, afirma o professor.
O apoio ostensivo aos Estados Unidos tem sido, porém,
um problema doméstico para o
ditador. Ontem, Musharraf
afirmou que não permitirá nenhuma operação militar estrangeira no país, em um esforço para afastar a imagem de
subserviência aos EUA tão criticada pela população local.
Washington, por sua vez, disse não descartar a hipótese de
uso da força contra a Al Qaeda
no norte do Paquistão.
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