São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

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NOVO CAPITALISMO
Demissões compõem plano de enxugamento de estatais, que pode deixar 14 milhões sem trabalho até o fim de 98
China demite 400 mil na indústria têxtil

France Presse
Funcionária verifica carretéis de linha em indústria têxtil estatal localizada em Pequim, capital da China


das agências internacionais

A China anunciou a demissão de 400 mil funcionários da indústria têxtil no primeiro semestre deste ano. As demissões compõem um programa de redução do setor estatal, que ameaça deixar sem emprego entre 6 milhões e 14 milhões de trabalhadores até o fim do ano.
A notícia foi divulgada pelo jornal "China Daily", numa atitude pouco comum para uma imprensa controlada pelo governo e desacostumada a divulgar "más notícias" no campo econômico.
O Partido Comunista chinês, sob a liderança de Deng Xiaoping, iniciou reformas pró-capitalismo em 1978. Buscava evitar o colapso econômico, depois de décadas de ortodoxia comunista.
As dificuldades atuais, sobretudo o desemprego, já haviam sido previstas no ano passado pelo presidente Jiang Zemin. "Será difícil evitar o desemprego. Isso criará dificuldades temporárias para certos trabalhadores", afirmou ele em setembro, no discurso de abertura do 15º Congresso do Partido Comunista.
O excedente de funcionários nas empresas estatais é da ordem de 30 milhões a 40 milhões de pessoas, em um total de 140 milhões.
No fim do ano passado, 12 milhões de trabalhadores já haviam sido dispensados. O restante do excedente da mão-de-obra urbana corre o risco de ficar na rua nos próximos três anos.
Calcula-se que a mão-de-obra excedente no campo seja de 100 milhões a 150 milhões de pessoas.
Convulsão social
A reforma nas estatais chinesas foi acelerada pela posse, em março, do premiê Zhu Rongji. Ele assumiu com o plano ambicioso de cortar 50% da burocracia estatal e reduzir os custos das empresas ligadas ao governo.
Os planos de Zhu esbarram em uma ameaça: sem uma oposição política ativa ao governo, que possa ameaçar o poder comunista, o que as autoridades chinesas mais temem é que a massa de dezenas de milhões de desempregados gere convulsão social em uma sociedade em que todos estavam acostumados com a garantia do pleno emprego. Por isso, as dispensas têm sido feitas de forma gradual.
O governo tenta solucionar o problema do desemprego estimulando o setor de serviços e investindo em obras de infra-estrutura.
Oficialmente, a taxa de desemprego na China é de 3,5%, graças a um malabarismo estatístico. Analistas estrangeiros acreditam que a taxa real deva ser até seis vezes maior, incluindo o subemprego.
Parte das dispensas recentes não entra nos cálculos estatísticos de desemprego, porque o contrato de trabalho não é formalmente encerrado.
Apesar da metodologia do governo chinês, os números da crise começam a vir à tona. Dados do Ministério do Trabalho mostram que houve 160 mil conflitos trabalhistas na China no ano passado, 50% mais que em 96.
Os números também mostram crise no setor têxtil. Segundo dados do Escritório Estatal da Indústria Têxtil, os prejuízos no setor chegaram em 1997 a US$ 1,28 bilhão. Quatro anos antes, as perdas haviam sido de US$ 228 milhões.
O número de empresas do setor que deixou de funcionar no ano passado foi de 134. Outras 217 companhias tentaram sair dos problemas se fundindo a outras.
Um dos desafios do governo é conseguir substituir o sistema antigo de seguridade social por um novo. A intenção é criar até o fim deste ano um sistema nacional de aposentadorias e de amparo em caso de doença.
Outra consequência do desmantelamento da economia estatal é o fim do fornecimento de moradia gratuita para seus funcionários.
Segundo os planos do governo, todos terão de alugar ou comprar os imóveis. Para o chineses, a medida representa uma mudança radical, pois o sistema socialista colocava para o Estado a obrigação de fornecer moradia à população.



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