São Paulo, terça, 28 de julho de 1998

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EUTANÁSIA
Christine Malèvre confessou ter "abreviado o sofrimento' de pacientes terminais; caso vira polêmica na França
Enfermeira ajudou 30 doentes a morrer

RODRIGO AMARAL
de Paris

A enfermeira Christine Malèvre, 28, relançou o debate sobre eutanásia na França ao revelar que ajudou 30 doentes terminais a morrer de fevereiro de 97 a maio deste ano. Os pacientes, que tinham entre 72 e 88 anos, estavam internados no hospital François Quesnay, em Mantes-la-Jolie (cidade de 19 mil habitantes próxima a Paris).
Ela agiu sozinha em todos os casos, segundo seu advogado e a direção do hospital. Algumas mortes foram decididas com a concordância das famílias. Outras, a pedido dos próprios pacientes.
As investigações da polícia indicam que a enfermeira, que trabalhava no setor de doenças do pulmão, não teria conseguido suportar a agonia dos doentes em estado terminal e decidiu colaborar para encerrar seus sofrimentos.
A falta de resistência ao sofrimento alheio, resistência essa necessária ao exercício da função, teria sofrido um abalo ainda maior após uma tragédia ocorrida no mesmo hospital, em março de 96.
Um homem de 73 anos matou com um tiro sua mulher, de 70 anos, que sofria do mal de Alzheimer e estava em estado terminal. Logo em seguida, ele se matou. Christine e outras enfermeiras presenciaram o caso.

Inquérito
A confissão de Christine ocorreu durante um inquérito policial. O Ministério Público de Versalhes foi acionado pela direção do hospital, que havia feito uma investigação interna a respeito da morte mal explicada de pacientes.
Christine admitiu aos policiais que acelerou a morte dos pacientes dando-lhes substâncias químicas que abreviaram suas agonias.
Ela está afastada do hospital e vai responder inquérito por homicídio doloso (voluntário), crime no qual são enquadrados os casos de eutanásia na França. Ao saber que estava sendo investigada pela morte de alguns dos pacientes, no dia 6 de maio, Christine tentou se suicidar, sem sucesso.
Depois disso, passou um mês em um hospital psiquiátrico. No dia 8 de julho, foi indiciada pela Justiça, mas vai responder o processo em liberdade. Segundo seu advogado, Olivier Fontibus, Christine está tendo constante acompanhamento de um psiquiatra.
O caso levanta a questão de até quando é justo manter vivo um paciente que está desenganado pela medicina.
Nenhuma família apresentou queixa contra Christine -pelo contrário, segundo a direção do hospital, alguns familiares chegaram mesmo a telefonar para demonstrar solidariedade a ela.
As próximas audiências sobre o caso devem ocorrer em setembro.



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