|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EUTANÁSIA
Christine Malèvre confessou ter "abreviado o sofrimento' de pacientes terminais; caso vira polêmica na França
Enfermeira ajudou 30 doentes a morrer
RODRIGO AMARAL
de Paris
A enfermeira Christine Malèvre,
28, relançou o debate sobre eutanásia na França ao revelar que ajudou 30 doentes terminais a morrer
de fevereiro de 97 a maio deste
ano. Os pacientes, que tinham entre 72 e 88 anos, estavam internados no hospital François Quesnay,
em Mantes-la-Jolie (cidade de 19
mil habitantes próxima a Paris).
Ela agiu sozinha em todos os casos, segundo seu advogado e a direção do hospital. Algumas mortes foram decididas com a concordância das famílias. Outras, a pedido dos próprios pacientes.
As investigações da polícia indicam que a enfermeira, que trabalhava no setor de doenças do pulmão, não teria conseguido suportar a agonia dos doentes em estado
terminal e decidiu colaborar para
encerrar seus sofrimentos.
A falta de resistência ao sofrimento alheio, resistência essa necessária ao exercício da função, teria sofrido um abalo ainda maior
após uma tragédia ocorrida no
mesmo hospital, em março de 96.
Um homem de 73 anos matou
com um tiro sua mulher, de 70
anos, que sofria do mal de Alzheimer e estava em estado terminal.
Logo em seguida, ele se matou.
Christine e outras enfermeiras
presenciaram o caso.
Inquérito
A confissão de Christine ocorreu
durante um inquérito policial. O
Ministério Público de Versalhes
foi acionado pela direção do hospital, que havia feito uma investigação interna a respeito da morte
mal explicada de pacientes.
Christine admitiu aos policiais
que acelerou a morte dos pacientes dando-lhes substâncias químicas que abreviaram suas agonias.
Ela está afastada do hospital e vai
responder inquérito por homicídio doloso (voluntário), crime no
qual são enquadrados os casos de
eutanásia na França. Ao saber que
estava sendo investigada pela
morte de alguns dos pacientes, no
dia 6 de maio, Christine tentou se
suicidar, sem sucesso.
Depois disso, passou um mês em
um hospital psiquiátrico. No dia 8
de julho, foi indiciada pela Justiça,
mas vai responder o processo em
liberdade. Segundo seu advogado,
Olivier Fontibus, Christine está
tendo constante acompanhamento de um psiquiatra.
O caso levanta a questão de até
quando é justo manter vivo um
paciente que está desenganado pela medicina.
Nenhuma família apresentou
queixa contra Christine -pelo
contrário, segundo a direção do
hospital, alguns familiares chegaram mesmo a telefonar para demonstrar solidariedade a ela.
As próximas audiências sobre o
caso devem ocorrer em setembro.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|