São Paulo, quarta-feira, 28 de agosto de 2002

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ÁSIA

Em processo movido por parentes de vítimas, corte japonesa reconhece a ação do país na 2ª Guerra, que Tóquio nunca assumiu

Japão usou arma biológica na China, admite tribunal

MASAYUKI KITANO
DA REUTERS, EM TÓQUIO

Um tribunal de Tóquio reconheceu que o Japão travou uma guerra biológica na China durante a Segunda Guerra Mundial, coisa que o governo japonês nunca admitiu oficialmente. Mas a corte rejeitou um processo aberto contra o governo japonês por chineses que disseram ter perdido parentes nessa guerra biológica.
Os 180 querelantes pediam que o Japão pagasse uma indenização de 10 milhões de ienes (R$ 264 mil) a cada um e pedisse desculpas pelas atividades das unidades japonesas de guerra biológica, como a infame Unidade 731.
Ao rejeitar o processo, o tribunal disse que a lei internacional não reconhece o direito de indivíduos de buscar indenização de um Estado por danos de guerra.
Os chineses, que pretendem recorrer, não ocultaram sua amargura. "Meu pai morreu da peste, meu irmão mais velho, também. Mas tudo isso é despachado em poucos minutos num tribunal. Não é justo", disse Chen Zhifa, 71.
""Estou decepcionado e furioso com o veredicto", afirmou Xu Wanzhi, 62. ""É claro que não vamos aceitar um veredicto como este. Estamos prontos para uma luta prolongada", disse, acrescentando que, se morrer, seu filho e neto levarão a disputa adiante.
Os querelantes afirmaram que houve oito surtos de peste ou cólera nas Províncias de Zhejiang e Hunan entre 1940 e 1942, que, segundo eles, foram provocadas pela guerra biológica lançada pelas forças japonesas. A guerra biológica já era ilegal naquela época.
Segundo o diretor da divisão de litígios civis do Ministério da Justiça, Hideki Hama, "a posição do governo japonês, como réu neste caso, é que os querelantes não têm base legal para buscar se beneficiar do que aconteceu". Ele não quis comentar o fato de o tribunal ter reconhecido o fato de que as forças japonesas travaram uma guerra biológica.
As atividades da Unidade 731 eram desconhecidas da maioria dos cidadãos japoneses até 1981, quando sua história sombria foi exposta num livro do escritor Seiichi Morimura.

Reconhecer o passado
Depois da decisão do tribunal, um grupo de querelantes, cercado por simpatizantes chineses e japoneses, fez uma manifestação nas ruas próximas ao tribunal, carregando faixas exigindo que o Japão admita que usou armas biológicas durante a guerra. Os críticos já disseram que o reconhecimento feito pelo tribunal pode abrir caminho para uma admissão oficial desse tipo.
O processo é um entre dezenas que já foram abertos contra o governo ou empresas do Japão vinculadas às agressões japonesas na primeira metade do século 20. A maioria dos processos foi rejeitada por tribunais do país.
O mais recente, aberto em 1997, ajudou a lançar luz sobre o funcionamento da Unidade 731, que realizou experimentos e a vivissecção de prisioneiros chineses perto da cidade de Harbin, no norte da China. Historiadores dizem que cerca de 3.000 chineses podem ter morrido em experimentos realizados para produzir doenças como cólera, peste bubônica e antraz como armas.


Tradução de Clara Allain


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