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Bush perde seu secretário da Justiça
Alberto Gonzales, acusado de justificar tortura, anunciou saída em meio a escândalo sobre demissões de promotores
É o segundo integrante do círculo íntimo do presidente a deixar o governo dos EUA em menos de 15 dias, pouco depois do assessor Karl Rove
Evan Vucci/Associated Press
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Bush afirma em discurso que aceitou "com relutância" a renúncia de Gonzales, que apoiou juridicamente "guerra contra o terror" |
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
O secretário da Justiça do governo Bush, o polêmico Alberto
Gonzales, 52, avisou na manhã
de ontem que renunciará ao
seu cargo, que equivale aos brasileiros ministro da Justiça e
procurador-geral da República.
É a segunda defecção importante em menos de 15 dias de
assessores do círculo íntimo do
presidente republicano.
No dia 15, tinha sido a vez do
estrategista político e assessor
presidencial Karl Rove. Ontem,
num encontro em que se mostrou mal-humorado e saiu sem
responder a perguntas de repórteres, como faz habitualmente, Bush afirmou que aceitava "relutantemente" o pedido de seu "amigo pessoal" Gonzales, que teria sofrido "meses
de tratamento injusto".
"É triste vivermos numa época em que uma pessoa talentosa e honrada como Alberto
Gonzales é impedida de fazer
um trabalho importante porque seu bom nome foi arrastado à lama por razões políticas",
disse o presidente no aeroporto
de Waco, no Estado do Texas.
As lideranças do Partido Democrata, de oposição, comemoraram a renúncia.
"Sua saída reforça o que o povo americano já sabia", disse
Patrick Leahy, presidente da
Comissão de Justiça do Senado. "A nenhum Departamento
da Justiça deveria ser permitido se transformar num braço
político da Casa Branca, seja ele
comandado por um republicano ou um democrata."
Gonzales é um dos ideólogos
e o mais ardente defensor do
arcabouço jurídico sobre o qual
se apoia a "guerra ao terror" declarada por Bush. É acusado
por políticos e entidades de direitos civis de ser também um
dos artífices de leis que ampliam a invasão à privacidade
dos norte-americanos e que
justificam o tratamento dado a
prisioneiros de guerra do país.
Deixa o governo em meio a
investigações do Congresso sobre acusações de que teria politizado o órgão que dirigia ao demitir promotores públicos por
não serem "bushistas" o suficiente e de ter mentido em audiência sobre um programa de
espionagem doméstica que
prescinde de mandado judicial.
Seu desempenho nos depoimentos desagradaram mesmo
os republicanos mais leais ao
presidente George W. Bush.
Pela manhã, Bush listou os
feitos de seu secretário. "A Lei
Patriota [que amplia os poderes do presidente], a Lei das Comissões Militares [que cria tribunal e regras diferenciados
para os presos de Guantánamo]
e outras importantes leis trazem sua marca", disse.
"Pior da história"
No site da ACLU, Anthony
Romero, o presidente da entidade liberal de direitos civis, tinha outra lista para o que chama de "um dos piores secretários da Justiça da história dos
EUA". Entre os itens de que
acusa Gonzales está ter chamado de "obsoletas" as Convenções de Genebra ao escrever o
que ficaria conhecido como
"memorando da tortura", ainda
como conselheiro jurídico do
governo, e de não ter conseguido "demonstrar a independência necessária em relação à Casa Branca e ao presidente George W. Bush".
O Departamento da Justiça
deve "não só ser apolítico como
parecer apolítico, não só cumprir a lei como parecer que
cumpre a lei", disse à CNN William Cohen, comentando a renúncia.
Republicano, o ex-secretário
da Defesa (1997-2001) do democrata Bill Clinton acredita
que o sucessor de Gonzales
"deveria ser alguém respeitado
por ambos os partidos". Na manhã de ontem, Washington já
colocava no topo da lista de especulação o secretário da Defesa Nacional, Michael Chertoff.
Gonzales deixa o cargo em 17
de setembro. Na declaração
distribuída ontem pela Secretaria da Justiça, o titular demissionário nascido em San Antonio, no Texas, evita tocar em assuntos polêmicos e prefere destacar sua condição de descendente de mexicanos -é provável que três de seus avós tenham entrado nos EUA sem
documentos.
"Eu relembro freqüentemente nossos concidadãos que
nós vivemos no maior país do
mundo e que eu vivi o sonho
americano", disse Gonzales,
que trabalha com Bush desde
1995. "Mesmo os meus piores
dias como secretário da Justiça
foram melhores que os melhores dias de meu pai."
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