|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRISE
Lei da ditadura impede afastamento de chefe da Força Aérea
Presidente chileno lamenta não ter poder para afastar militar
ROGERIO WASSERMANN
DA REDAÇÃO
Uma crise entre o presidente
chileno e o comandante da Força
Aérea, por um suposto encobrimento de informações sobre violações aos direitos humanos durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), vem pondo a nu
nos últimos dias as limitações impostas pelo ex-ditador às instituições democráticas do país.
O presidente Ricardo Lagos insinuou nesta semana que deseja o
afastamento do comandante da
Força Aérea, Patricio Ríos, mas
lamentou não ter o poder de modificar livremente os chefes militares do país.
"Se o presidente da República
tem a faculdade de mudá-los [os
chefes militares", a conduta dos
comandantes em chefe é distinta", disse Lagos na quarta-feira.
"Há 20 anos que estamos esperando, já está na hora de voltarmos a um sistema onde o presidente da República tenha as faculdades que em toda democracia
tem um chefe de Estado", disse.
A afirmação de Lagos se explica
pelo fato de que a atual Constituição, aprovada em 1980, durante a
ditadura, estabelece um mandato
fixo de quatro anos, com estabilidade, para os comandantes das
forças militares. Esse período só
pode ser abreviado com a aprovação do Conselho de Segurança
Nacional (Cosena), órgão no qual
os próprios comandantes militares detêm metade dos votos.
"A crise demonstra que o poder
real de intervenção do governo
sobre as Forças Armadas é muito
limitado", disse à Folha o cientista político Hugo Fruhling Erlich,
professor da Universidade do
Chile. "A situação não põe em perigo a estabilidade institucional,
mas a confrontação pode seguir
até o ano que vem, quando vence
o mandato de Ríos."
A crise teve início com a revelação, na semana passada, pelo jornal "La Nación", de que Ríos teria
ocultado informações sobre violações aos direitos humanos durante a ditadura. Ele teria encoberto também que o brigadeiro
Patricio Campos, quinto na hierarquia da Força Aérea, é casado
com uma integrante de um grupo
de repressão a esquerdistas
atuante no início da ditadura.
Ríos disse ter avisado Lagos e
seu antecessor, Eduardo Frei
(1994-2000), mas ambos negaram. "O presidente da República
não sabia", disse Lagos. Pressionado, Campos renunciou na semana passada, mas Ríos diz que
continuará até o fim do mandato.
"Eu não renuncio", afirmou.
A opção de pedir o afastamento
de Ríos ao Cosena é considerada
pouco provável. Para os analistas,
a iniciativa poderia enfraquecer o
governo, ao envolver os demais
chefes militares num conflito que
até agora está restrito a Ríos, além
de não ter garantia de sucesso, já
que os militares teriam papel fundamental na decisão.
O caso vem provocando um intenso debate no país a respeito
das normas da ditadura ainda vigentes. Além da estabilidade dos
comandantes militares, a Constituição de Pinochet também criava
a figura dos senadores vitalícios,
limitava a capacidade de fiscalização do Congresso e estabelecia
um sistema eleitoral sem a representação dos grupos minoritários. Desde 1990 já foram apresentados oito projetos para reformar a Constituição, sem sucesso.
"Pinochet não tem mais um papel transcendente na política nacional. O debate sobre sua figura
já está obsoleto, mas o que não está obsoleto é o debate sobre as
transformações que impôs ao
país e que ainda estão vigentes",
afirma Fruhling Erlich.
Com agências internacionais
Texto Anterior: Sérvios elegem amanhã seu novo presidente Próximo Texto: Panorâmica - Guerra na Tchetchênia: Geórgia acusa Rússia de violar seu espaço aéreo Índice
|