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Soldados matam opositores em Mianmar
Ditadura militar intensifica a repressão; oito manifestantes pró-democracia e um fotógrafo japonês são mortos a tiros
Violência esvazia protestos e governo inicia bloqueio de celulares e internet no país;
atos contra budistas podem
minar movimento popular
Reuters
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Soldados lançam bombas de gás depois de atirarem contra multidão durante manifestação pró-democracia em Yangun; ao menos nove civis foram mortos ontem
DA REDAÇÃO
O aumento da violência na
repressão aos atos pró-democracia em Mianmar resultou na
morte de ao menos nove pessoas ontem em Yangun, segundo dados do próprio governo
militar. Soldados atiraram contra manifestantes depois que
eles se recusaram a deixar as
ruas apesar dos alertas de que
poderiam ser baleados. Outras
11 pessoas ficaram feridas.
Um dos mortos é o fotógrafo
japonês Kenji Nagai, 50, que foi
baleado no peito quando capturava imagens do protesto em
Sule Pagoda. Segundo a TV estatal, os cerca de mil manifestantes na área lançaram pedras
e garrafas de água contra os soldados e deixaram 31 feridos.
O Exército atirou contra
multidões em pelo menos quatro pontos de Yangun, que recebeu ontem cerca de 70 mil
manifestantes nas ruas no décimo dia das maiores marchas
em 20 anos contra o regime militar, vigente no país desde
1962. Em Mandalay e Sitwe, ao
menos 10 mil protestaram.
Além dos ataques a tiros, o
Exército também invadiu monastérios durante a madrugada, espancando e prendendo
mais de cem monges. "Soldados derrubaram os portões e
quebraram janelas e móveis.
Quando os monges resistiram,
lançaram bombas de gás lacrimogêneo, os espancaram e arrastaram vários para caminhões que esperavam na rua", afirmou um religioso à agência
Associated Press.
O derramamento de sangue
começou na última quarta-feira, quando mais de três pessoas
foram mortas durante atos similares em Yangun.
Entre os mais pobres
Os protestos começaram em
19 de agosto, devido a um aumento de 500% no preço dos
combustíveis. O aumento veio
agravar a situação da população
de um dos países mais pobres
da Ásia, com renda per capita
estimada de apenas US$ 1.600 e
o crescimento mais baixo (2,9%
anuais) da região do delta do rio
Mekong, que inclui ainda Tailândia, Vietnã, Camboja e Laos.
O isolamento internacional
imposto ao regime e privilégios
concedidos a uma casta empresarial ligada aos militares contribuíram para a deterioração
econômica, apesar de Mianmar
ter gás, petróleo e pedras preciosas. Investimentos chineses
e indianos não são suficientes
para compensar boicotes dos
EUA, do Canadá e da União Européia. Oposicionistas relataram ao jornal britânico "The
Guardian" que, nos últimos
meses, cortes de energia elétrica duravam de cinco a sete horas por dia.
Com o aumento dos combustíveis como estopim, o movimento oposicionista tomou as
ruas e nas últimas semanas ganhou um caráter pró-democracia. Os protestos lembram os de
1988 -que terminaram com a
morte de cerca de 3.000 pessoas, baleadas por soldados durante manifestações nas ruas.
Com a violência de ontem,
porém, a participação dos monges budistas nos atos caiu enormemente. Sem os religiosos,
não se sabe o quanto o movimento oposicionista resistirá.
Segundo dissidentes locais, o
governo também iniciou esforços para restringir o uso de telefones celulares e internet, em
uma tentativa de impedir que
imagens e informações sobre a
violência cheguem ao mundo.
Pressão externa
O ataque contra a população
ocorreu apesar dos apelos internacionais para a contenção
da violência. Os EUA especificaram as novas sanções anunciadas anteontem contra Mianmar. Elas incluem punições econômicas contra 14 altos dirigentes do governo, inclusive o
líder da junta militar, general
Than Shwe. Cidadãos americanos estão proibidos de fazer negócios com os 14 citados, que
terão bens congelados em bancos e instituições financeiras
sob jurisdição dos EUA.
Membros da Associação das
Nações do Sudeste Asiático
(Asean) se disseram "chocados
pelos relatos de que armas automáticas foram usadas" e exigiram que o governo de Mianmar "desista imediatamente de usar violência contra civis".
Com agências internacionais
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