São Paulo, sexta-feira, 28 de setembro de 2007

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Uribe ataca "ditaduras" latino-americanas

Em almoço com empresários em Nova York, presidente colombiano critica falta de liberdade na região sem citar nomes

Aliado de Bush pede apoio e diz que já é hora para EUA "reconhecerem" seu esforço, ante a ameaça de naufrágio de seu TLC com Washington

DENYSE GODOY
DE NOVA YORK

Em discurso a empresários americanos em Nova York, o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, contrapôs ontem Bogotá ao que chamou de "ditaduras" da região. Maior aliado dos EUA na América do Sul, o colombiano evitou citar nomes e buscou ressaltar as qualidades democráticas de seu governo, mergulhado em um escândalo pelo laço de membros do gabinete e de legisladores com paramilitares de direita.
"Há ditaduras na América Latina que não aceitam a supervisão internacional. Na Colômbia, temos todas as estações de rádio e TV criticando o meu governo diariamente. As ditaduras latino-americanas suprimem o pluralismo, censuram a mídia, perseguem os dissidentes, enquanto meu país é cheio de oposição, de democracia, de liberdade", disse. O ataque -ou defesa- foi a resposta à pergunta de um participante do almoço no Conselho das Américas sobre sua estratégia contra as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Uribe também criticou as "tendências de estatização" que florescem no continente, afirmando que seu país oferece incentivos para investimentos externos -inclusive no setor de petróleo, cuja exploração é monopólio estatal no México e majoritariamente estatal na Venezuela.
O conservador tomou o mesmo rumo que o presidente equatoriano, Rafael Correa, e que a favorita na corrida presidencial argentina, Cristina Kirchner, ao detratar os países vizinhos a fim de mostrar o seu próprio como um destino mais confiável de investimentos externos. Os três, como a chilena Michele Bachellet, aproveitaram a estada em Nova York para os debates da 62ª Assembléia Geral da ONU para falar à entidade que reúne empresários.
Uribe não usou nomes, mas sua citação de liberdade da mídia faz lembrar o caso RCTV. Neste ano, o governo do venezuelano Hugo Chávez se recusou a renovar a licença do popular canal oposicionista, expirada em maio.
Os dois presidentes iniciam, no entanto, uma aproximação. No mês passado, Chávez se ofereceu para mediar as negociações entre Bogotá e as Farc para a troca de 45 reféns do grupo colombiano por cerca de 500 guerrilheiros presos -o que foi aceito por Uribe. Em 8 de outubro, o venezuelano deve se reunir com líderes da guerrilha.

TLC
O colombiano tem se esforçado, nos últimos meses, para se desvincular do chamado "paragate" -o caso já derrubou sua chanceler e atravancou a negociação com o Congresso americano, hoje sob comando da oposição democrata, de um Tratado de Livre Comércio crucial para Bogotá. Em junho, ele foi a Washington para reuniões com legisladores.
Ao mesmo tempo, busca promover uma imagem de eficácia no combate à guerrilha -os EUA financiam o combate ao narcotráfico no país por meio do Plano Colômbia.
"Fazemos o máximo que podemos para combater a guerrilha e está na hora de os EUA reconhecerem esse esforço", afirmou ontem.
Em várias ocasiões durante o discurso ele pediu "apoio" para o TLC, e frisou seu laço com o presidente americano: "Nós temos a confiança do presidente Bush de que estamos fazendo a nossa parte, e fico honrado em contar com a amizade dele. Somos leais aos EUA".


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