São Paulo, Quinta-feira, 28 de Outubro de 1999
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VIOLÊNCIA
Grupo armado invade Parlamento do país e mata políticos; ação pode estar ligada a disputa territorial
Ataque mata premiê da Armênia

Associated Press
O primeiro-ministro Vazgen Sarkisian, que foi assassinado em ataque no Parlamento da Armênia



das agências internacionais

Homens armados invadiram ontem o Parlamento da Armênia e mataram a tiros o primeiro-ministro do país, Vazgen Sarkissian, 40, e pelo menos outros três importantes políticos.
A invasão do prédio, no centro da capital Ierevan, aconteceu por volta das 17h15 locais (10h15 de Brasília), quando ocorria uma sessão ordinária do Legislativo, da qual participava o primeiro-ministro. Um grupo formado, segundo testemunhas, por entre quatro e seis homens vestidos de preto invadiu o plenário anunciando um golpe de Estado.
O premiê Sarkissian estava sentado à mesa diretora e foi baleado depois de ter sido dominado.
O governo armênio confirmou que também morreram na invasão o presidente e o vice-presidente do Parlamento, Karen Dermirchian e Iuri Bakhshian, respectivamente, e o ministro da Energia, Leonard Petrosian.
Há informações de que deputados também teriam morrido, mas não houve confirmação oficial.
O alegado golpe de Estado não ocorreu e o governo mantém o controle do país. O prédio do Parlamento foi cercado.
Até as 20h de ontem, o grupo armado ainda estava dentro do Parlamento e mantinha vários reféns.
O canal de TV armênio A1 Plus mostrou imagens do momento em que os agressores invadiram o plenário e atiraram no premiê.
Repórteres que estavam no plenário no momento do ataque afirmaram que um dos invasores disse que iria punir as autoridades armênias pelo que tinham feito ao país.
Um dos agressores foi identificado por pessoas que estavam no Parlamento como um extremista nacionalista armênio chamado Nairi Unanian.
Uma das reivindicações do grupo é efetuar um pronunciamento em rede de TV. Eles também pediram para falar com o presidente, o nacionalista Robert Kocharian.
O ataque coincide com o avanço das negociações entre a Armênia e o Azerbaijão sobre o território de Nagorno-Karabakh, que é disputado há 11 anos pelos dois países.
Cerca de 35 mil pessoas morreram na guerra pelo controle da região entre 1988 e 1994. Nagorno-Karabakh tem maioria armênia e era controlado pelo Azerbaijão. Desde o final da guerra, está sob controle dos rebeldes locais.
A situação política da Armênia tem sido instável desde sua independência da Rússia, em 1991.
Em 1996, o presidente Levon Ter-Petrosian colocou o Exército nas ruas e fechou vários partidos. Dois anos depois, renunciou acusado por grupos nacionalistas de ter feito muitas concessões nas negociações sobre Nagorno-Karabakh.
O premiê assassinado estava no cargo desde junho, indicado pelo presidente Kocharian (eleito no ano passado).
A Presidência armênia classificou os invasores do Parlamento como "terroristas" e informou que o presidente está conduzindo as negociações.
O governo do Azerbaijão lamentou o incidente e informou que não descarta a possibilidade do ataque estar relacionado às negociações sobre a região disputada.
O primeiro-ministro da Turquia, Bulent Ecevit, demonstrou preocupação com a situação na Armênia, dizendo que o ataque poderia aumentar a instabilidade na conflituosa região do Cáucaso (onde ficam, além de Armênia e Azerbaijão, Geórgia e Tchetchênia, entre outros).
O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, afirmou estar "triste e chocado" com o incidente, que ele classificou como "um ataque sem sentido contra indivíduos empenhados em construir a democracia em seus países".


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