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ACERTO DE CONTAS
Khodorkovsky é inimigo do presidente
Prisão de bilionário russo provoca tempestade na Bolsa e no câmbio
DA REDAÇÃO
A Bolsa de Moscou refletiu ontem a insegurança dos investidores e empresários com a prisão,
no sábado, de Michail Khodorkovsky, presidente da companhia
petrolífera Yukos e o homem
mais rico da Rússia. O índice
IRTS despencou 12%. O pregão
foi suspenso por uma hora.
As ações da Yukos caíram
15,4%. Submetido a fortes pressões, o rublo chegou a perder
13%. O Banco Central local se desfez de US$ 500 milhões de suas reservas para frear a especulação.
Khodorkovsky, 40, foi retirado
por policiais de seu jatinho num
aeroporto da Sibéria e transferido
para uma cela coletiva de uma
prisão de Moscou.
Ele foi dirigente da juventude
comunista. Fundou em 1989 um
banco, o Menatep, com o qual fez
rápida fortuna no vazio legal deixado pelas reformas do governo
de Mikhail Gorbachev.
O banco comprou por um preço considerado irrisório ações da
Yukos, então a maior estatal russa
de petróleo. O Menatep quebrou
em 1998 após operações consideradas fraudulentas. A Yukos negocia hoje contrato de associação
com a americana ExxonMobil.
Investigações abertas contra o
empresário em julho teriam comprovado fraude fiscal de US$ 1 bilhão. A prisão foi determinada pelo Ministério Público, sujeito na
Rússia a pressões políticas.
É onde o Vladimir Putin se torna protagonista, já que Khodorkovsky financia partidos da oposição às eleições legislativas de dezembro próximo e sobretudo
conta futuramente disputar a cadeira do atual presidente.
Dono de uma fortuna estimada
de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões,
Khodorkovsky pertence ao reduzido grupo de "oligarcas" (palavra empregada pela mídia russa
no sentido pejorativo), enriquecido pelas privatizações.
Putin disse ontem, em reunião
de seu governo, que "todos devem ser iguais perante a lei, pouco
importa quantos bilhões de dólares possuam em suas contas pessoais ou corporativas".
Caso contrário, completou,
"não conseguiremos convencer
quem quer que seja a pagar impostos e não derrotaremos o crime organizado e a corrupção".
A posição de Putin encontra receptividade entre os russos empobrecidos após o fim do comunismo. Eles acusam os oligarcas de
terem se apoderado do patrimônio material do Estado.
"Sou uma aposentada pobre e
não posso estar do lado de Khodorkovsky, que é um ladrão", disse à Reuters uma mulher de 70
anos, identificada como Zoya.
O presidente russo recusou-se
ontem a receber representantes
de três entidades empresariais,
entre elas a poderosa União Russa
de Industriais e Empreendedores,
que, no sábado, publicaram comunicado no qual alertam para
os prejuízos econômicos a que o
país ficaria exposto após a prisão.
"Não haverá audiência ou negociação sobre atividades de órgãos
públicos, desde que, como ocorre
agora, esses órgãos atuem dentro
dos limites da lei", disse Putin, por
meio de um porta-voz. Apelou
ainda para "o fim da histeria" que
derrubou as cotações da Bolsa.
Segundo a Reuters, Putin está
no meio de um conflito interno de
poder. Os "falcões" do Kremlin
têm vínculos com a ex-KGB, a polícia política, da qual o próprio
Putin foi o diretor nos anos 80 na
cidade de São Petesburgo.
Foram os falcões que convenceram o presidente a fazer da prisão
de Khodorkovsky um caso exemplar. Caso recue, Putin sairia do
episódio enfraquecido. Caso se
mantenha intransigente, ele poderá trombar com grandes empresas petrolíferas dos EUA e da
Europa, parceiras em potencial da
Yukos em operações externas.
Com agências internacionais
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