UOL


São Paulo, terça-feira, 28 de outubro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ACERTO DE CONTAS

Khodorkovsky é inimigo do presidente

Prisão de bilionário russo provoca tempestade na Bolsa e no câmbio

DA REDAÇÃO

A Bolsa de Moscou refletiu ontem a insegurança dos investidores e empresários com a prisão, no sábado, de Michail Khodorkovsky, presidente da companhia petrolífera Yukos e o homem mais rico da Rússia. O índice IRTS despencou 12%. O pregão foi suspenso por uma hora.
As ações da Yukos caíram 15,4%. Submetido a fortes pressões, o rublo chegou a perder 13%. O Banco Central local se desfez de US$ 500 milhões de suas reservas para frear a especulação.
Khodorkovsky, 40, foi retirado por policiais de seu jatinho num aeroporto da Sibéria e transferido para uma cela coletiva de uma prisão de Moscou.
Ele foi dirigente da juventude comunista. Fundou em 1989 um banco, o Menatep, com o qual fez rápida fortuna no vazio legal deixado pelas reformas do governo de Mikhail Gorbachev.
O banco comprou por um preço considerado irrisório ações da Yukos, então a maior estatal russa de petróleo. O Menatep quebrou em 1998 após operações consideradas fraudulentas. A Yukos negocia hoje contrato de associação com a americana ExxonMobil.
Investigações abertas contra o empresário em julho teriam comprovado fraude fiscal de US$ 1 bilhão. A prisão foi determinada pelo Ministério Público, sujeito na Rússia a pressões políticas.
É onde o Vladimir Putin se torna protagonista, já que Khodorkovsky financia partidos da oposição às eleições legislativas de dezembro próximo e sobretudo conta futuramente disputar a cadeira do atual presidente.
Dono de uma fortuna estimada de US$ 8 bilhões a US$ 11 bilhões, Khodorkovsky pertence ao reduzido grupo de "oligarcas" (palavra empregada pela mídia russa no sentido pejorativo), enriquecido pelas privatizações.
Putin disse ontem, em reunião de seu governo, que "todos devem ser iguais perante a lei, pouco importa quantos bilhões de dólares possuam em suas contas pessoais ou corporativas".
Caso contrário, completou, "não conseguiremos convencer quem quer que seja a pagar impostos e não derrotaremos o crime organizado e a corrupção".
A posição de Putin encontra receptividade entre os russos empobrecidos após o fim do comunismo. Eles acusam os oligarcas de terem se apoderado do patrimônio material do Estado.
"Sou uma aposentada pobre e não posso estar do lado de Khodorkovsky, que é um ladrão", disse à Reuters uma mulher de 70 anos, identificada como Zoya.
O presidente russo recusou-se ontem a receber representantes de três entidades empresariais, entre elas a poderosa União Russa de Industriais e Empreendedores, que, no sábado, publicaram comunicado no qual alertam para os prejuízos econômicos a que o país ficaria exposto após a prisão.
"Não haverá audiência ou negociação sobre atividades de órgãos públicos, desde que, como ocorre agora, esses órgãos atuem dentro dos limites da lei", disse Putin, por meio de um porta-voz. Apelou ainda para "o fim da histeria" que derrubou as cotações da Bolsa.
Segundo a Reuters, Putin está no meio de um conflito interno de poder. Os "falcões" do Kremlin têm vínculos com a ex-KGB, a polícia política, da qual o próprio Putin foi o diretor nos anos 80 na cidade de São Petesburgo.
Foram os falcões que convenceram o presidente a fazer da prisão de Khodorkovsky um caso exemplar. Caso recue, Putin sairia do episódio enfraquecido. Caso se mantenha intransigente, ele poderá trombar com grandes empresas petrolíferas dos EUA e da Europa, parceiras em potencial da Yukos em operações externas.


Com agências internacionais

Texto Anterior: América do Sul: Colômbia fala em cortar gastos e elevar impostos após referendo
Próximo Texto: Argentina: Buenos Aires tenta conter corrupção
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.